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[pt] DA CARNIGRAFIA / [fr] DE LA CARNIGRAPHIEJULIA KLIEN 21 June 2023 (has links)
[pt] Esta tese se move sob o peso de uma palavra. Também se pode dizer que é
movida por certa força extensora e que deseja esticar ou pulverizar uma palavra.
Essa palavra se move sob o peso de algumas consistências – da carne – e indicia
um conjunto de perturbações: a carnificação do texto, o erotismo dos signos, a
textualidade refratária à coagulação da textualidade. Carnigrafia, eis o que a tese
tenta dizer. Para dizê-la, conta com um punhado de línguas: a língua de Francis
Bacon, a língua de Ana Hatherly, a língua de Henri Michaux, a língua de Mira
Schendel. Mais as línguas de Novalis, Roland Barthes, Tatsumi Hijikata, Herberto
Helder, Hilda Hilst, Antonin Artaud, Ghérasim Luca, Anne Carson, Emil Cioran,
Georges Bataille... Se, na esteira de Bataille, o espaço de uma tese deve hospedar
as tarefas (e não os sentidos) dos conceitos, ao entregar esta tese a uma palavra, eu
o faço mirando suas tarefas e buscando multiplicá-las. Dessa proliferação surgem
outras: propagam-se, por exemplo, as ponderações sobre a textura, a gestualidade
da escrita, e uma vontade de horizontalização passa a se impor. Numa tese que se
quer ela própria carnigráfica, convém aumentar sempre a superfície de contato; por
isso, a fragmentação pareceu inevitável e levou a dois modos que se alternam e
entremeiam: “Os aparentados da carne”, ensaio dividido em três partes – a carne do
corpo, a carne do signo, a carne da língua – e os quatro volumes de um dicionário
carnigráfico, composto por um ecossistema de verbetes. Esses dois modos
reciprocam, e é possível, até certo ponto, destrinchá-los: se o ensaio procura pensar
a carne, ou farejá-la, aliando-se aos artistas e autores excitantes da pesquisa, os
verbetes tentam espasmá-la, movendo-se sob o peso dessas poéticas, tanto quanto
de alguns temas e motivos, como a dança, o barroco, o jogo, a embriaguez, o desejo,
o anagrama. Pretendi espalhar verbetes e motivos e autores e temas e imagens e
conceitos para que tudo pontilhe a tese e aumente a sua extensão; perseguir, enfim,
a carnigrafia, lançá-la de vários jeitos, tocá-la com várias línguas. / [fr] Cette thèse se meut sous le poids d un mot. On peut aussi dire quil est mû
par une certaine force d extension et quil veut étirer ou pulvériser un mot. Ce mot
se meut sous le poids de certaines consistances – de la chair – et indique un
ensemble de perturbations : la carnification du texte, l érotisme des signes, la
textualité réfractaire à la coagulation de la textualité. La carnigraphie, c est ce que
tente de dire la thèse. Pour le dire, il a une poignée de langues : la langue de Francis
Bacon, la langue d Ana Hatherly, la langue d Henri Michaux, la langue de Mira
Schendel. Plus les langues de Novalis, Roland Barthes, Tatsumi Hijikata, Lydia
Davis, Herberto Helder, Ghérasim Luca, Anne Carson, Emil Cioran, Georges
Bataille... Si, après Bataille, l espace d une thèse devait accueillir les besognes (et
non les sens) des concepts, quand je livre cette thèse à un mot, je le fais en visant
ses besognes et en cherchant à les multiplier. Cette prolifération en génère d autres
: par exemple, des considérations de texture, des gestes d écriture, un désir
d horizontalisation commencent à simposer. Dans une thèse qui se veut
carnigraphique, il convient toujours d augmenter la surface de contact. Pour cette
raison, la fragmentation semblait inévitable et conduisait à deux modes qui
salternent et sentremêlent : Les parents de la chair , essai divisé en trois parties
– la chair du corps, la chair du signe, la chair de la langue – et les quatre volumes
d’un dictionnaire carnigraphique, composé d un écosystème d entrées. Ces deux
modes se répondent, et il est possible, dans une certaine mesure, de les démêler : si
l essai cherche à penser la chair, ou à la renifler, alliée aux artistes et auteurs qui
font vibrer la recherche, les entrées tentent de la réverbérer et se meuvent sous le
poids de ces poétiques, ainsi que quelques thèmes et motifs, comme la danse, le
baroque, le jeu, l ivresse, le désir, l anagramme. J avais l intention de diffuser des
entrées et des motifs et des auteurs et des thèmes et des images et des concepts afin
que tout parsème la thèse et augmente son extension ; poursuivre, enfin, la
carnigraphie, la lancer de diverses manières, la toucher avec plusieurs langues.
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