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[pt] AUTONOMIA E SUJEIÇÃO NA APORIA DA MODERNIDADE JAPONESA: REPRESENTAÇÕES DO CORPO VIOLADO COMO EXPRESSÃO POLÍTICA / [en] AUTONOMY AND SUBJUGATION IN THE APORIA OF JAPANESE MODERNITY: REPRESENTATIONS OF THE VIOLATED BODY AS POLITICAL EXPRESSION

08 April 2021 (has links)
[pt] Esta tese relaciona os debates sobre modernidade, cultura e revolução na perspectiva das representações do corpo violado e sexualizado, e explora as repercussões de tais debates na chamada temporada política do Japão pós II Guerra Mundial. Especificamente, a análise se detém na problematização das esquerdas revolucionárias pelo cinema de Oshima Nagisa (1932-2013), reconhecido como mentor do Nuberu Bagu (a nouvelle vague japonesa), e de Wakamatsu Koji (1936-2012) e Adachi Masao (1939-), da vertente erótica/pornográfica Pinku eiga. Cineastas cuja produção foi orientada pela fusão de política, sexo e violência, e marcada pelo ativismo dos movimentos pró-democracia a partir dos anos 1950 — suplantado no início dos 1970, quando o país se converteu em uma potência econômica mundial. O debate sobre a aporia da modernidade japonesa, fundado na persistência de vestígios agonizantes pré-capitalistas em uma sociedade capitalista, produziu diversas narrativas antagônicas no decorrer do século XX. Dentre elas, a que refutava a subordinação cultural ao Ocidente deu respaldo ao imperialismo ultranacionalista na guerra que dilapidou o país. Em decorrência do processo de democratização e desmilitarização durante a ocupação do Japão pelos EUA (1945-1952), e dos conflitos que vieram com sua consecutiva reversão, as discussões sobre a modernidade se multiplicaram no conturbado pós-guerra. A abolição dos poderes políticos do imperador Hirohito, que foi levado a abdicar publicamente de sua condição divina e a assumir-se como simples mortal, foi a mais impactante das mudanças realizadas no período. Ao declarar a derrota do país e a sua carnalidade, o imperador implodia a força do Kokutai, o corpo-nação, que organizava todo o sistema simbólico nipônico. Nos primeiros anos da ocupação, escritores como Sakaguchi Ango (1906-1955) e Tamura Taijuro (1911-1983), referências da literatura carnal na cultura subterrânea kasutori, exaltavam o corpo carnal (nikutai) como contraposição ao corpo-nação (Kokutai). De fato, a literatura carnal foi uma das diversas expressões do pós-guerra que, em dissonantes abordagens, reverenciaram o nikutai e o shutaisei. Nela, a decadência e a imoralidade eram defendidas como base para uma apreensão mais realista da precariedade humana, para a construção de uma nova ética, subjetiva e autônoma (shutaisei), e como condição para o acesso ao moderno. O filósofo político Maruyama Masao (1914-1996), um dos mais conhecidos modernistas defensores da ética do shutaisei, posicionava a literatura carnal, no entanto, na contramão de um Japão democrático e culto (ou moderno), já que as representações sensuais e violentas expressavam justamente a natureza que deveria ser superada. Isto é, as abordagens da sexualidade, da crueldade e da perversão, embora reivindicassem o moderno (ou a recusa da autoridade do Kokutai), remetiam à sensibilidade nativa pré-moderna. O que sugere que a aporia da modernidade na desintegração do pós-derrota era expressa na ambiguidade da apreensão política do shutaisei. Noção que seria central na formação do sujeito político vinculado aos movimentos pró-democracia e na expressão das vanguardas artísticas dos anos 1950 ao início dos 1970. / [en] This thesis relates the debates about modernity, culture and revolution in the perspective of the depictions of the violated and sexualized body, and explores the repercussions of such debates in what became known as the political season of Japan after World War II. Specifically, the analysis focuses on the problematization of the revolutionary left factions by the films of Oshima Nagisa (1932-2013), recognized as mentor of the Nuberu Bagu (Japanese New Wave), of Wakamatsu Koji (1936-2012) and of Adachi Masao (1939-), from the Pinku eiga (Pink Film) genre, which dealt with the erotic and the pornographic. Filmmakers whose production was driven by the fusion of politics, sex and violence, and marked by the activism of pro-democracy movements beginning in the 1950s — supplanted in the early 1970s, when the country became a world economic power. The debate about the aporia of Japanese modernity, based on the persistence of agonizing pre-capitalist vestiges in a capitalist society, produced several antagonistic narratives throughout the twentieth century. Among them, that which refuted the cultural subordination to the West gave support to the ultranationalist imperialism in the war that squandered the country. As a result of the process of democratization and demilitarization during the US occupation of Japan (1945-1952), and the conflicts that came with its subsequent reversal, discussions of modernity multiplied in the troubled post-war period. The abolition of the political powers of the emperor Hirohito, who was led to publicly abdicate his divine condition and declare himself a mere mortal, was the most shocking of the changes made in the period. In declaring the defeat of the country and his carnality, the emperor imploded the power of the Kokutai, the nation-body, which organized the entire Japanese symbolic system. In the early years of the occupation, writers such as Sakaguchi Ango (1906-1955) and Tamura Taijuro (1911-1983), exponents of carnal literature in the kasutori underground culture, exalted the carnal body (nikutai) as a counterpoint to the nation-body (Kokutai). In fact, carnal literature was one of several postwar expressions, which, in dissonant approaches, revered nikutai, and the concept of shutaisei. In it, decadence and immorality were defended as the basis for a more realistic apprehension of human precariousness, for the construction of a new ethics, subjective and autonomous (shutaisei), and as a condition for access to the modern. The political philosopher Maruyama Masao (1914-1996), one of the best-known modernists who defended the ethics of shutaisei, posited carnal literature, however, against a democratic and cultured (or modern) Japan, since the sensual representations and violent ones expressed precisely the nature that should be overcome. That is, the approaches to sexuality, cruelty and perversion, while claiming the modern (or the refusal of the Kokutai s authority), referred back to the pre-modern native sensibility. This suggests that the aporia of modernity in the disintegration of post-defeat was expressed in the ambiguity of the political apprehension of the shutaisei. This notion would be central to the formation of the political subject linked to the pro-democracy movements and the avant-garde art expressions from the 1950s to the early 1970s.

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