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Corpos ex-cêntricos: o feminino e a linguagem em A cidade sitiada e em Hora da estrela, de Clarice Lispector / Ex- centric bodies: the feminine and the language in A cidade sitiada and A hora da estrela, by Clarice LispectorBorges, Luana Silva 17 October 2013 (has links)
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Previous issue date: 2013-10-17 / Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES / The critical fortune of Clarice Lispector treated, in much, female characters who
struggle against the anguish and the nullification within wealthy families. Are women
who live in bourgeois contexts, facing daily exhaustive dedication to others: canceled
amid children, husbands, the society events that pressure them. However, if the studies
favored, greatly, the transgressors streams of consciousness of these protagonists, there
is a hue less discussed by critics. It regards the female profiles subjectified in contexts
economically peripheral. Here, we studied two of these productions, seeking to
understand how Lucrécia Neves, in A cidade sitiada, novel, 1949, and Macabéa in A
hora da estrela, novel, 1977, are subjectified in these contexts of cancellation and
decentering. We note that, in writing about female characters doubly canceled – because
women in a patriarchal society, because the poor in a capitalist society – Lispector uses
at least one psychological ceaseless flow, the inner monologues, that consecrated her.
The author cares, instead, to the externalization of the self, which meddles into space
and is absorbed by the objects. Front of women on the fringes, beings pressured by excentricities,
because they do not occupy economic or patriarchal centers, the writer
chooses not to narrate them in deep self-reflection. Here we see the critical sagacity of
Clarice. She outlines her poor heroines, ironically, through their voices that barely
exceed the hardness of objects. These voices are coming out failed when trying to
transcend reality, are voices that can barely hold an articulated language. However,
when entering the bodies of Lucrécia Neves and Macabéa in the body-text, Lispector
dismantles, by her irony and sharpened metaphor, the joints of power installed by
patriarchy, destabilizing essentialized gender stereotypes. / A fortuna crítica de Clarice Lispector tratou, em muito, de personagens femininas que
se debatem ante a angústia e a anulação no seio de famílias abastadas. São mulheres que
vivem em contextos burgueses, enfrentando exaustivos cotidianos de dedicação a
outrem: anuladas em meio a filhos, a maridos, a eventos da sociedade que as
pressionam. Entretanto, se os estudos privilegiaram, sobremaneira, os fluxos de
consciência transgressores destas protagonistas, há um matiz menos abordado pela
crítica. Ele diz respeito aos perfis femininos subjetivados em contextos economicamente
periféricos. Aqui, estudamos duas dessas produções, buscando entender como Lucrécia
Neves, em A cidade sitiada, romance de 1949, e Macabéa, em A hora da estrela, novela
de 1977, são subjetivadas nesses contextos de anulação e des-centramento.
Constatamos que, ao escrever sobre personagens femininas duplamente anuladas –
porque mulheres em uma sociedade patriarcal; porque pobres em uma sociedade
capitalista –, Lispector utiliza menos um fluir psicológico incessante, os monólogos
interiores que tanto a consagraram. A escritora zela, ao contrário, pela exteriorização do
eu dessas personagens, que se imiscui completamente ao espaço e é absorvido pelos
objetos. Diante de mulheres à margem, seres pressionados devido a suas excentricidades,
pois não ocupam os centros econômicos ou patriarcais, a escritora opta
por não narrá-las em autorreflexões profundas. Vemos aí a sagacidade crítica de Clarice.
Ela contorna suas heroínas pobres, ironicamente, por meio de suas vozes que mal
conseguem ultrapassar a dureza dos objetos. São vozes que saem falidas quando tentam
transcender a realidade concreta. São vozes que mal conseguem se apoderar de uma
linguagem articulada. Todavia, ao inserir os corpos de Lucrécia Neves e de Macabéa no
corpo-texto, Lispector desmantela, pela ironia e por sua metáfora afiada, as articulações
de poder instaladas pelo patriarcado, desestabilizando os estereótipos essencializados de
gênero.
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