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Hannah Arendt: entre a contingência e o absoluto / Hannah Arendt: between contingency and the absolute

Lazier, Tiago Cerqueira 25 September 2017 (has links)
Da crítica de Hannah Arendt à pretensão da soberania extrapolamos, na primeira parte desta tese, uma problematização do recorrente equívoco do pensamento projetar o absoluto, impróprio a nossa existência plural. Observamos, em Hobbes e em Berlin, como esse absoluto, em seu existir simulado, sempre se apresenta ao modo de uma dualidade, na qual a verdade ou emancipação plena equivale à falsidade ou opressão plena, a revelação divina, à dedução jurídica, e vice-versa. Enquanto, por detrás dessa farsa, a realidade se reproduz, contingentemente, nos conflitos entre limites que se tensionam, contorcendo-se sobre si mesmos. Após uma breve problematização da permanência da farsa do absoluto e da dualidade, mesmo no pensamento que se levanta contra ela, retornamos a Arendt, uma pensadora que se diferencia em sua aceitação da prática política e da espontaneidade, a partir da qual busca compreender como os valores e possibilidades republicanas a beleza plural da dignidade comum, mesmo que imperfeitamente defendida em seus escritos efetivam-se sem precisarem se sustentar no absoluto. Na segunda parte, considerando-se que ela, não obstante, retorne ao e ilustre os equívocos do retorno ao absoluto, iniciamos uma requalificação de seu pensamento, com intuito de mantê-lo coerente com a condição de contingência. Partindo do tema do conflito e tensão entre passado e futuro, o qual recorta toda a sua obra, concentramo-nos nos escritos do início de sua carreira acadêmica, mais diretamente dedicados à compreensão da experiência totalitária que a afetou como judia alemã. Após uma breve introdução aos traços gerais do que seria uma ontologia consistente da pluralidade e da contingência, exploramos a questão da responsabilidade, observando como alguns desses traços se apresentam. Do pária ao parvenu, da conservação à mudança, do idealismo ao realismo, da antiguidade à modernidade, observamos como não somos soberanos, nem vassalos: somos a responsabilidade que se manifesta em sua contingência e espontaneidade, nas tensões dos conflitos entre pluralidades. / From Hannah Arendts critique of the pretension of sovereignty, we extrapolate, in the first part of this thesis, a problematization of the recurring mistake of thought projecting the absolute, improper to our plural existence. We observe, in Hobbes and Berlin, how this absolute, in its simulated existence, always presents itself as a duality, in which full truth or emancipation corresponds to full falsehood or oppression, divine revelation corresponds to juridical derivation, and vice-versa. Throughout, behind this farce, reality is reproducing itself, contingently, in the conflicts between limits that tension each other, writhing over themselves. After a brief problematization of the perpetuation of the farce of the absolute and of duality, even by thinkers that rise against it, we return to Arendt, a thinker that differentiates herself by her welcoming of politics and spontaneity, from which she seeks to understand how republican values and possibilities the plural beauty of common dignity, even if imperfectly advanced by her become effective without having to find support on the absolute. In the second part, considering that Arendt, nonetheless, returns to and illustrates the mistakes of returning to the absolute, we begin a requalification of her thought, with the intention of keeping it coherent with the condition of contingency. Starting from the theme of conflict and tension between past and future, which traverses her entire academic production, we focus on her early writings, more directly devoted to understanding the totalitarian experience that affected her as a German Jew. After a brief introduction to the general traits of a consistent, however incipient, ontology of plurality and contingency, we explore the question of responsibility, observing how some of these traits present themselves. From the pariah to the parvenu, from conservation to change, from idealism to realism, from antiquity to modernity, we observe how we are neither sovereigns nor vassals: we are the responsibility that manifests itself in its contingency and spontaneity, in the tensions of the conflicts between pluralities.
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Hannah Arendt: entre a contingência e o absoluto / Hannah Arendt: between contingency and the absolute

Tiago Cerqueira Lazier 25 September 2017 (has links)
Da crítica de Hannah Arendt à pretensão da soberania extrapolamos, na primeira parte desta tese, uma problematização do recorrente equívoco do pensamento projetar o absoluto, impróprio a nossa existência plural. Observamos, em Hobbes e em Berlin, como esse absoluto, em seu existir simulado, sempre se apresenta ao modo de uma dualidade, na qual a verdade ou emancipação plena equivale à falsidade ou opressão plena, a revelação divina, à dedução jurídica, e vice-versa. Enquanto, por detrás dessa farsa, a realidade se reproduz, contingentemente, nos conflitos entre limites que se tensionam, contorcendo-se sobre si mesmos. Após uma breve problematização da permanência da farsa do absoluto e da dualidade, mesmo no pensamento que se levanta contra ela, retornamos a Arendt, uma pensadora que se diferencia em sua aceitação da prática política e da espontaneidade, a partir da qual busca compreender como os valores e possibilidades republicanas a beleza plural da dignidade comum, mesmo que imperfeitamente defendida em seus escritos efetivam-se sem precisarem se sustentar no absoluto. Na segunda parte, considerando-se que ela, não obstante, retorne ao e ilustre os equívocos do retorno ao absoluto, iniciamos uma requalificação de seu pensamento, com intuito de mantê-lo coerente com a condição de contingência. Partindo do tema do conflito e tensão entre passado e futuro, o qual recorta toda a sua obra, concentramo-nos nos escritos do início de sua carreira acadêmica, mais diretamente dedicados à compreensão da experiência totalitária que a afetou como judia alemã. Após uma breve introdução aos traços gerais do que seria uma ontologia consistente da pluralidade e da contingência, exploramos a questão da responsabilidade, observando como alguns desses traços se apresentam. Do pária ao parvenu, da conservação à mudança, do idealismo ao realismo, da antiguidade à modernidade, observamos como não somos soberanos, nem vassalos: somos a responsabilidade que se manifesta em sua contingência e espontaneidade, nas tensões dos conflitos entre pluralidades. / From Hannah Arendts critique of the pretension of sovereignty, we extrapolate, in the first part of this thesis, a problematization of the recurring mistake of thought projecting the absolute, improper to our plural existence. We observe, in Hobbes and Berlin, how this absolute, in its simulated existence, always presents itself as a duality, in which full truth or emancipation corresponds to full falsehood or oppression, divine revelation corresponds to juridical derivation, and vice-versa. Throughout, behind this farce, reality is reproducing itself, contingently, in the conflicts between limits that tension each other, writhing over themselves. After a brief problematization of the perpetuation of the farce of the absolute and of duality, even by thinkers that rise against it, we return to Arendt, a thinker that differentiates herself by her welcoming of politics and spontaneity, from which she seeks to understand how republican values and possibilities the plural beauty of common dignity, even if imperfectly advanced by her become effective without having to find support on the absolute. In the second part, considering that Arendt, nonetheless, returns to and illustrates the mistakes of returning to the absolute, we begin a requalification of her thought, with the intention of keeping it coherent with the condition of contingency. Starting from the theme of conflict and tension between past and future, which traverses her entire academic production, we focus on her early writings, more directly devoted to understanding the totalitarian experience that affected her as a German Jew. After a brief introduction to the general traits of a consistent, however incipient, ontology of plurality and contingency, we explore the question of responsibility, observing how some of these traits present themselves. From the pariah to the parvenu, from conservation to change, from idealism to realism, from antiquity to modernity, we observe how we are neither sovereigns nor vassals: we are the responsibility that manifests itself in its contingency and spontaneity, in the tensions of the conflicts between pluralities.

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