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Xamanismo Kalapalo e assistencia medica no alto xingu = estudo etnografico das praticas curativas / Xamanismo Kalapalo and medical care in the upper xingu : ethnographic study of healing practicesFranco Neto, João Veridiano 15 August 2018 (has links)
Orientador: Vanessa Rosemary Lea / Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciencias Humanas / Made available in DSpace on 2018-08-15T10:32:37Z (GMT). No. of bitstreams: 1
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Previous issue date: 2010 / Resumo: Esta dissertação é resultado de doze meses intercalados de pesquisa de campo realizada entre os índios Kalapalo do Alto Xingu, Terra Indígena do Xingu, Mato Grosso. Busca empreender uma descrição e análise do modo pelo qual ocorre uma interação entre o xamanismo dos Kalapalo e o saber biomédico tal como esta se dá no âmbito das práticas da política nacional de atenção à saúde dos povos alto-xinguanos. O xamanismo kalapalo não difere do xamanismo praticado no Alto Xingu como um todo: consiste, basicamente, em um sistema terapêutico que aborda o fenômeno da doença como um acontecimento em que uma determinada pessoa tem a sua 'alma-sombra' (akua) capturada por um 'espírito' (itseke). O conceito de itseke se relaciona com as formas 'animais' definidas no interior da cosmologia kalapalo, e seus modos de existência são mais bem compreendidos sob a luz do conceito de ponto de vista, articulado com a lógica predatória e com o regime alimentar alto-xinguano. O xamã é acionado para que, por meio do transe induzido pela fumaça do tabaco, entre em comunicação com o itseke causador da doença e possa trazer de volta a akua do doente. A possibilidade de cura é então concebida nos termos do resgate da 'almasombra', realizado pelo xamã. As relações construídas a partir da situação de contato entre os alto-xinguanos e a sociedade envolvente engendraram a elaboração de duas categorias cruciais: doenças-de-índio e doenças-de-branco, onde as primeiras figuram como enfermidades causadas por itseke e as segundas aparecem na forma das doenças infectocontagiosas, como gripe, sarampo, caxumba, catapora, etc. A problemática que delineia nosso trabalho se fundamenta no caráter ambíguo que é assumido pela oposição entre doenças-de-índio e doenças-de-branco: da perspectiva dos Kalapalo essa dicotomia não define uma separação de natureza entre as duas categorias, servindo apenas como modo de comunicação instrumental com as equipes de assistência médica. Por outro lado, as equipes de assistência médica estabelecem um corte entre doenças-de-índio e doenças-de-branco de maneira que as primeiras configurariam uma manifestação singular da cultura indígena. Essa singularidade é pensada a partir da ideia de uma psicossomatização dos aspectos culturais, entendendo-se 'cultura' enquanto conjunto de crenças. Assim, a separação entre doenças-de-índio e doenças-de-branco, do modo como é concebida pelas equipes de assistência médica, atribui uma causa psicológica para as primeiras e uma causa fisiológica para as segundas. Essa redução das doenças-de-índio ao âmbito da crença é explorada como a configuração de uma estrutura hierárquica na qual a cosmologia indígena é englobada pela cosmologia ocidental. Tal englobamento encontra sustentação a partir do relativismo cultural, que supõe a coexistência de uma diversidade de culturas com a existência de uma única natureza. Os dados de nossa pesquisa etnográfica apontam para um arranjo distinto quando o foco de análise toma em consideração o modo como os índios kalapalo recorrem ao tratamento médico ocidental: a terapêutica xamanística não é descartada pelos índios mesmo quando o que está em jogo é aquilo que a assistência médica entende por doençasde- branco, o que sugere uma origem comum entre doenças-de-índio e doenças-de-branco: os itsekeko ('espíritos') ou os kugihé-ótomo (feiticeiros) / Abstract: This dissertation is the result of an interpolated twelve-month fieldwork among the Kalapalo of Upper Xingu (Xingu Indigenous Land, Mato Grosso, Brazil). It seeks to undertake a description and analysis about the way in which an interaction takes place between the Kalapalo shamanism and biomedical knowledge the way it happens within the practices of the national health care policies to the Indian people of Upper Xingu. Kalapalo shamanism is not different from Upper Xingu shamanism as a whole. Upper Xinguano shamanism is basically a therapeutic system that addresses the phenomenon of illness as an event in which a person has his/her 'soul-shadow' (akua) captured by a 'spirit' (itseke). The itseke concept is related to the 'animal' forms as defined within the Kalapalo cosmology, and their ways of existence are better understood when it is associated with the concept of point of view, along with the predatory logic and the Upper Xinguano diet. The shaman is called in order to, through the trance led by tobacco smoke, communicate with the itseke that is the illness cause, so that he might bring the 'soul-shadow' back into the ill. The possibility of cure is so understood in terms of the 'soul-shadow' rescue, performed by the shaman. The relations created from the contact situation between the Upper Xinguano and the surrounding society engendered the development of two-key categories, named Indian Illnesses and White Illnesses. The first category indicates illnesses caused by itsekeko and the second appears as infectious illnesses such as influenza, measles, mumps, chicken pox, etc. The issue that outlines our work is based on the ambiguous character that is taken upon the opposition between Indian Illnesses and White Illnesses. From the Kalapalo perspective this dichotomy does not determine a separation of nature between the two categories, but it defines an instrumental mode of communication with the health care teams. On the other hand, the medical teams conceive a division between Indian Illnesses and White Illnesses and consider the first one as a particular manifestation of indigenous culture. This uniqueness is perceived from the idea of a psychosomatization of cultural aspects, it is understood that 'culture' is a set of beliefs. Thus, the dichotomy between the Indian Illnesses and White Illnesses, from the way it is conceived by the health care teams, impute a psichological cause for the first and physiological cause for the second. This reduction of Indian Illnesses regarding Indian beliefs is explored as a hierarchical structure configuration, in which, the Indigenous cosmology is embodied by the Western cosmology. Such embodiment finds its basis in cultural relativism, which pressuposes the coexistence of a cultural diversity along with the existence of a universal nature. Data from our ethnographic research suggests a different arrangement when the focus of analysis shows the way by which the Kalapalo indians search for the Western medical treatment. The shamanistic therapy is not ruled out by the indians, even when what the health care understands as White Illnesses is what is at stake. This suggests that there is a common origin of Indian Illnesses and White Illnesses: itsekeko ('spirits') or kugihé-ótomo (sorcerers) / Mestrado / Etnologia Indigena / Mestre em Antropologia Social
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