A terapia antirretroviral (TARV) determinou o aumento da sobrevida das pessoas que vivem com HIV (PVH), porém eventos adversos relacionados à síndrome lipodistrófica, como alterações morfológicas corporais e distúrbios metabólicos vem sendo descritos como fatores de risco cardiovascular nessa população. Objetivo: Avaliar o efeito da prática de atividade física na prevenção primária de alterações morfológicas corporais e metabólicas e na qualidade de vida de PVH que iniciam TARV. Métodos: PVH que estavam em TARV há no máximo quatro meses e não apresentavam alterações metabólicas e morfológicas corporais foram convidadas a participar deste ensaio clínico randomizado pragmático, sendo alocadas aleatoriamente para grupos intervenção ou controle, na proporção de 1:1. A intervenção consistiu de atividade física orientada presencialmente e/ou à distância, com sessões programadas para ocorrer três vezes por semana, sendo duas com treinamento misto/concorrente (cardiorrespiratório e de força) e uma de treinamento simples, cardiorrespiratório, com duração aproximada de 60 minutos, durante seis meses. Foi conduzida no próprio serviço ambulatorial no qual o paciente estava em acompanhamento ou utilizando-se espaços e equipamentos disponíveis em locais públicos (equipamentos de ginástica a céu aberto, arquibancadas, escadas, pista de caminhada e corrida) e elásticos disponibilizados para o projeto. Os desfechos do estudo (atividade física, aptidão cardiorrespiratória, avaliação física, qualidade de vida e dados laboratoriais) foram aferidos à inclusão e depois de concluída a intervenção ou o acompanhamento dos controles. Para testar a hipótese de não modificação do grupo experimental no tempo, em comparação ao grupo controle, um modelo de ANOVA de medidas repetidas não paramétrico foi utilizado com nível de significância de 0,05. Resultados: A população estudada consistiu de 38 PVH, majoritariamente do sexo masculino (87,0%), autodeclarados pretos ou pardos (65,8%), com média de idade de 32,6 anos. À inclusão no estudo apresentavam pouca frequência de atividade física moderada e baixa autoeficácia para a prática de atividades físicas. Ao final do estudo, os níveis de atividade física não apresentaram diferença significativa intergrupos (atividades praticadas na semana precedente, medidas pelo questionário IPAQ e com uso de acelerômetro). Analogamente, não houve diferença significativa intergrupos nas variáveis relacionadas à avaliação física (circunferências da cintura e do abdome, força de preensão manual e de resistência, flexibilidade e aptidão cardiorrespiratória, obtida em teste de ergoespirometria) e na qualidade de vida, avaliada pelo questionário WHOQoLHIV-Bref. Tampouco foram encontradas diferenças significativas na análise intergrupos nas concentrações de glicose em jejum, triglicérides e PCR. Apesar do grupo intervenção ter exibido aumento significativo nas concentrações séricas de LDL-colesterol na análise intergrupos, os valores observados não apresentaram relevância clínica. Conclusões: A realização de ensaio clínico randomizado pragmático para avaliar os efeitos da atividade física na prevenção primária de alterações morfológicas corporais e alterações metabólicas relacionadas à síndrome lipodistrófica, e na qualidade de vida de PVH que iniciam a TARV mostrou-se factível em serviço ambulatorial universitário especializado da cidade de São Paulo. Contudo, não se verificou efeito significativo da intervenção sobre o acúmulo de gordura abdominal, a aptidão cardiorrespiratória, a glicemia de jejum e as concentrações de triglicérides e PCR e sobre a qualidade de vida dos participantes. A baixa autoeficácia para a prática de atividades físicas na população estudada, o reduzido número de participantes e o tempo de intervenção proposto podem ter contribuído para os achados. Para investigação mais aprofundada sobre o tema sugere-se conduzir ensaios clínicos pragmáticos multicêntricos que atentem para as limitações observadas neste estudo / Antiretroviral therapy (ART) has led to increased survival of people living with HIV (PLHIV), but adverse events related to the lipodystrophy syndrome, such as body changes and metabolic disturbances have been described as cardiovascular risk factors in this population. Objective: To evaluate the effect of physical activity on the primary prevention of body changes and metabolic disturbances and in the quality of life of PLHIV who initiate ART. Methods: PLHIV on ART for not more than four months with no body changes and metabolic disturbances were invited to participate in this pragmatic randomized clinical trial. Participants were randomly assigned to intervention or control groups in a 1:1 ratio. The intervention consisted of onsite and/or remotely supervised physical activity sessions, three times a week, two of them with mixed/concurrent training (cardiorespiratory and strength training) and one simple cardiorespiratory training, for approximately 60 minutes, during six months. The intervention was carried out at the clinic where patients were being followed up or using equipment in public open spaces (gym equipment or bleachers, stairs, walking and running lanes) and elastic bands made available for the project. Study outcomes (physical activity, cardiorespiratory fitness, and physical evaluation, quality of life and blood test results) were assessed at admission and after six months. The intervention and control groups were compared over time using a non-parametric repeated-measures ANOVA model, with a significance level of 0.05. Results: The study cohort consisted of 38 PLHIV, mostly males (87.0%), self-reportedly black or mulatto (65.8%), with a mean age of 32.6 years. At inclusion they presented low frequency of moderate physical activity and low self-efficacy for physical activity. At the end of follow-up physical activity levels did not show significant intergroup differences (activities practiced in the previous week, measured by the IPAQ questionnaire and accelerometer). Likewise, no significant intergroup differences were seen in variables related to physical evaluation (waist and abdomen circumferences, hand grip and resistance strength, flexibility and cardiorespiratory fitness) and to quality of life assessed by WHOQoLHIV-Bref. In addition, the intervention yielded no significant differences on fasting glucose, triglyceride and CRP concentrations in intergroup analysis. Although the intervention group presented a significant increase in serum LDL-cholesterol concentrations in intergroup analysis, this was not considered clinically relevant. Conclusions: A pragmatic randomized clinical trial to evaluate the effect of physical activity on the primary prevention of body changes and metabolic disturbances related to the lipodystrophic syndrome and in the quality of life of PLHIV who initiate ART was feasible at a university outpatient clinic in the city of São Paulo. However, no significant effect of the intervention was demonstrated on abdominal fat, cardiorespiratory fitness, fasting glucose, triglyceride and CRP concentrations and on the participants\' quality of life. The low self-efficacy for physical activities in the study population, the reduced number of participants and the proposed duration may have contributed to the findings. For further investigation on the subject, multicenter pragmatic clinical trials are warranted, taking the limitations observed in this study into account
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-05062018-103337 |
Date | 01 March 2018 |
Creators | Santos, Elisabete Cristina Morandi dos |
Contributors | Segurado, Aluisio Augusto Cotrim |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | Tese de Doutorado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
Page generated in 0.0033 seconds