Esta pesquisa tem a intenção de, referenciada no campo da psicologia social e nos debates que envolvem políticas públicas, saúde mental e saúde coletiva, investigar os modos como os trabalhadores de saúde mental desenvolvem suas práticas nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) a partir do entendimento de território como ethos. Parte-se do testemunho do uso polissêmico e reificado do termo território por trabalhadores e gestores, bem como da consideração da cidade como o campo, por excelência, da produção de vida e das articulações em rede dos diferentes dispositivos de assistência. Como metodologia optou-se pela descrição densa da experiência profissional do pesquisador e da escuta da experiência dos trabalhadores de CAPS. Este dispositivo foi eleito pela constatação da importância que assumiu para a política nacional de saúde mental, escolhido pelas políticas governamentais como eixo da reforma psiquiátrica e com a tarefa de transformar os modos de relação entre loucura e sociedade. Optou-se pelo Grupo Operativo enquanto instrumento para investigação da experiência dos trabalhadores, que permitiu a emergência, nas discussões, das noções de território, práticas construídas a partir dessa noção e na relação da equipe com o serviço, com os usuários. Foram estudados cinco grupos em quatro CAPS de diferentes regiões da cidade de São Paulo, propondo-se como tarefa Falem sobre como se trabalha neste CAPS considerando a política atual de Saúde Mental. Na análise das falas buscou-se estabelecer uma relação dialógica entre a experiência desses trabalhadores, seus pontos de vista, em comunicação com a experiência do pesquisador e também com o entendimento dos autores que nos orientaram bibliograficamente. Assim, teceu-se um diálogo entre as narrativas dos trabalhadores e os autores eleitos nesta pesquisa, a fim de compreender como esses profissionais construíram suas próprias práticas e o que influenciou este processo. Na fala dos trabalhadores, os CAPS têm ocupado um lugar centralizado no cuidado oferecido aos sujeitos em sofrimento psíquico, principalmente pela dificuldade dos dispositivos da rede da saúde em acolhe-los em suas necessidades. Percebe-se a rede de saúde como ainda incipiente e com vazios entre os serviços e, além disso, a rede de atenção psicossocial ainda não dispõe suficientemente de outros serviços importantes em se tratando de produção de vida. Mesmo com o tensionamento para burocratização dos serviços, os trabalhadores têm se empenhado em criar ações pautadas pela realidade psicossocial dos sujeitos e das potencialidades dos territórios onde se encontram. Entretanto, esse manejo é limitado: as condições em que os serviços estão inseridos os levam ao cansaço, sofrimento e desanimo. A noção de território mostrou-se polissêmica: área geográfica, rede de saúde, território afetivo, entre outros, sendo área territorial adstrita o sentido mais comum; em algumas circunstancias a polarização dentro-fora levava a ações burocratizadas. A partir desses diálogos foi se elaborando a noção de território como um ethos, que seria um modo de habitar o mundo que orienta o cuidado no sentido de se colocar como presença humana diante do outro, apoiando a construção de outras moradas possíveis para esses sujeitos em um movimento de subjetivação com o outro / Referenced in the field of social psychology and debates involving public policies, mental health and collective health, this research intends to investigate the ways in which mental health workers develop their practices in the Psychosocial Care Centers (CAPS), from the understanding of territory as ethos. It begins with the testimony of the polisemic and reified use of the term territory by workers and managers, as well as the consideration of the city as the field, par excellence, of the production of life and the networked articulations of the different assistance devices. As a methodology we opted for the dense description of the researcher\'s professional experience and listening to the experience of CAPS workers. This device was elected by the recognition of the importance that it assumed for the national policy of mental health, chosen by governmental policies as axis of the psychiatric reform and with the task of transforming the modes of relation between madness and society. The Operational Group was chosen as a tool to investigate the workers\' experience, which allowed the emergence, in the discussions, of notions of territory, practices built from this notion and in the relationship of the team with the service, with the users. Five groups were studied in four CAPS from different regions of the city of São Paulo, being proposed as task \"Talk about how to work in this CAPS considering the current policy of Mental Health\". In the analysis of the speeches we tried to establish a dialogical relationship between the experience of these workers, their points of view, in communication with the researcher\'s experience and also with the understanding of the authors who guided us bibliographically. Thus, a dialogue was established between the narratives of the workers and the authors elected in this research, in order to understand how these professionals built their own practices and what influenced this process. In the workers\' speech, the CAPS have occupied a centralized place in the care offered to the subjects in psychic suffering, mainly due to the difficulty of the devices of the health network in receiving them in their needs. The health network is perceived as still incipient and with gaps between services and, moreover, the psychosocial care network still does not have enough of other important devices when in terms of life production. Even with the tension for bureaucratization of services, the workers have been committed to create actions guided by the psychosocial reality of the subjects and the potentialities of the territories where they are. However, this management is limited: the conditions in which services are inserted lead to tiredness, suffering and discouragement. The notion of territory proved to be polysemic: geographic area, health network, affective territory, among others, being territorial area attached the most common sense; In some circumstances the polarization inside-out led to bureaucratic actions. From these dialogues, the notion of territory as an ethos was developed, which would be a way of inhabiting the world that guides care in order to place itself as a human presence before the other, supporting the construction of other possible dwellings for these subjects in a Movement of subjectivation with the other
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-24072017-182532 |
Date | 24 March 2017 |
Creators | Saffiotti, Allan |
Contributors | Scarcelli, Ianni Regia |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | Tese de Doutorado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
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