A busca pela perfeição, pelo belo, pelo correto, pelo equilíbrio são objetos de desejo há muito perseguidos. Nossa pretensão foi entender como são produzidos os sentidos de obesidade pelas relações discursivas da ciência, da mídia e das conversas do cotidiano. Acreditamos que há uma relevância do debate da dinâmica dos conceitos, entendendo-os como formas simbólicas e seus múltiplos significados históricos. Há uma polissemia no sentido de obesidade e isto cria dispositivos de poder, disciplina e controle que se encarregam de examinar, marcar, corrigir e, eventualmente, punir o sujeito com essa característica, estabelecendo uma definição hegemônica de normalidade para classificação positiva e negativa dos comportamentos. Esse processo cria marcas nas subjetividades uma vez que o sujeito que possui alguma característica considerada anormal deva ser corrigido. Analisamos as práticas de significação que engendram diferentes formas de narração da obesidade. O aporte dos Estudos Culturais contribuiu para enxergarmos o surgimento de uma nova categoria social e uma nova identidade cultural: os obesos. Consideramos que tal grupo é classificado como desviante na dinâmica hegemônica cultural, na qual os discursos científicos e culturais balizam a sua representação social. Investigamos a construção discursiva de obesidade, principalmente, inferindo nas questões e falas recorrentes, argumentos, no dito e não dito, no repetitivo. Afirmamos que existe um discurso disciplinador do corpo na sociedade atual e que várias estratégias são elaboradas para responsabilizar as pessoas sobre seus corpos. Realizamos um estudo em três níveis: primeiro, buscamos entender o discurso científico de obesidade, analisando artigos de revisão em duas bases de publicações científicas, o Scielo BR e o Portal da Capes; em seguida, investigamos o programa televisivo Bem Estar, da Rede Globo; por último, tentamos compreender como são produzidos os discursos no cotidiano, realizando um diário de campo e registrando as conversas espontâneas que presenciamos ao acaso no metro, em restaurantes, na praia e outros locais públicos e privados. Da ciência, podemos inferir que os discursos são construídos a partir de um modelo biomédico cartesiano e determinista construído no século XVIII que acompanha um projeto de formação de crenças e verdades para que a ciência ocupe um papel importante nos discursos de outras áreas como a comunicação, o judiciário e as políticas públicas. A mídia se utiliza dos discursos competentes do modelo biomédico para criar uma representação social polarizada de tipos ideais de obesos: aquele que sofre todas as consequências negativas por ser gordo e aquele que mudou a vida para melhor depois que emagreceu. As conversas do cotidiano contribuíram para entendermos as negociações discursivas existentes na sociedade. Mesmo com as relações de poder e a hegemonia cultural de um grupo, os sujeitos são complexos e seus discursos também refletem tais características: as falas mostram repetições de outros discursos, evidenciam as relações com a individualização da responsabilidade com o corpo, questões morais, preconceito e idealização da beleza, mas também mostram resistências aos discursos hegemônicos, principalmente ao externar que a vida é plástica e que os sujeitos obesos podem construir outros tipos de relações com seu corpo e criar sua própria normalidade. / The search for perfection, beauty, correct and balance are objects of desire pursued for a long time. Our intention was to understand how the senses of obesity by discursive relations of science, media and everyday conversations are produced. We believe that there is some relevance in the discussion of dynamic of the concepts, understanding them as symbolic forms and their multiple historical meanings. There is a polysemy towards obesity and this creates power, discipline and control devices which are responsible to examine, mark, fix and eventually punish the subject with this characteristic, establishing a hegemonic definition of normality for a positive and negative classification of behaviors. This process creates marks on the subjectivity once the subject that has an abnormal characteristic should be corrected. We analyze the signifying practices that engender different forms of narration of obesity. The contribution of Cultural Studies has contributed for us to see the emergence of a new social category and a new cultural identity: the obese. We consider that this group is classified as deviant in the cultural hegemonic dynamic in which scientific and cultural discourses delimit its social representation. We investigate the discursive construction of obesity, especially inferring the issues and recurring speeches, arguments, said and unsaid, in the repetitive. We affirm that there is a disciplinary discourse of the body in contemporary society and several strategies are designed to blame people over their bodies. We conducted a study on three levels: first, we seek to understand the scientific discourse of obesity, analyzing review articles in two bases of scientific publications, the Scielo BR and the Portal Capes; then we investigated the television program \"Bem Estar\", by Rede Globo; finally, we try to understand how the discourses are produced in everyday life, performing a diary and recording spontaneous conversations we witness randomly on the subway, in restaurants, on the beach and other public and private places. From science, we can infer that the discourses are constructed from a biomedical Cartesian and deterministic model created in the eighteenth century that follows a project of forming beliefs and truths so science can have an important role in the speeches of other areas such as communication, judiciary and public policies. The media uses the relevant discourses of biomedical model to create a social representation polarized of ideal types of obese: one who suffers all the negative consequences for being fat and one who \"has changed their lives for better\" after they lost weight. The everyday conversations contributed to understand the discursive negotiations that exist in society. Even with the relations of power and cultural hegemony of a group, the subjects are complex and their discourses also reflect these characteristics: the data show repetitions of other discourses, points the relations with the individualization of responsibility with the body, moral issues, prejudice and idealization of beauty, but also show resistance to hegemonic discourses, mainly when they express that life can be plastic and that obese subjects can build other kinds of relations with their body and create their own normality.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-17122014-194230 |
Date | 21 October 2014 |
Creators | Fabiano Marçal Estanislau |
Contributors | Ângela Maria Machado de Lima Hutchison, Luiz Silveira Menna Barreto, Marisa Russo Lecointre |
Publisher | Universidade de São Paulo, Estudos Culturais, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
Page generated in 0.0027 seconds