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Interlingual re-instantiation

Tese (doutorado)- Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Letras/Inglês e Literatura Correspondente, Florianópolis, 2010 / Made available in DSpace on 2012-10-25T08:08:13Z (GMT). No. of bitstreams: 1
288929.pdf: 3294627 bytes, checksum: 4e4d88bbb132e5448cb96212f152ea89 (MD5) / Esta tese propõe um novo modelo sistêmico-funcional (doravante SF) de tradução como re-instanciação interlingual. Tal modelo foi elaborado em resposta à necessidade de se expandir a perspectiva SF que concebe a tradução a partir da hierarquia de realização e a define através de parâmetros de diferença entre sistemas linguísticos - equivalência e desvio (cf. Matthiessen 2001: 78). Tal necessidade foi sentida quando uma análise contrastiva de textos-fonte (TFs) e textos-alvo (TAs) revelou a não equivalência no uso de recursos de valoração em TAs aparentemente aceitos como traduções persuasivas nas comunidades-alvo. O modelo proposto é articulado com base em arcabouços relevantes dentro da lingüística sistêmico-funcional (LSF) e dos estudos da tradução (EdT) a fim de explorar o uso de valorações em uma fonte de dados composta de 11 trios de textos cada um deles composto de um TF (em inglês americano) e dois TAs (em português brasileiro). Ou seja, o modelo de tradução é elaborado ao ser aplicado a textos traduzidos. Tal aplicação de apoio consiste em ilustrações dos conceitos propostos e em uma demonstração preliminar da utilização do modelo. Dentro da LSF, o modelo se baseia no arcabouço de valoração (appraisal framework) proposto em Martin (2001), Martin & Rose (2007) e Martin & White (2005), bem como em novas teorias sobre a relação de complementaridade entre as hierarquias de realização, instanciação e individuação (Martin 2006, 2007, 2008a, 2008b, 2009, 2010). Realização se refere à organização do sistema linguístico em uma escala de abstração composta de estratos - fonologia/grafologia, lexicogramática, semântica do discurso e contexto - cada estrato realizando ou recodificando o anterior. Instanciação se refere à relação entre o sistema línguístico enquanto potencial global de significados e o texto enquanto exemplar concreto de tal potencial. E individuação se refere à relação entre o sistema linguístico enquanto reservatório de significados e os repertórios de usuários individuais. Cada hierarquia oferece vantagens específicas para a análise de texto - a realização é útil na comparação de textos quanto a suas relações sistêmicas, isto é, para identificar semelhanças/diferenças com relação às escolhas realizadas (relação entre texto e sistema); a instanciação é mais adequada à investigação de relações intertextuais, isto é, como um texto remete a outro (relação entre textos); e a individuação é mais adequada ao estudo das relações ideológicas entre textos, isto é, à investigação dos interesses a que eles servem e de como eles buscam convencer prováveis interlocutores (relação entre texto e usuário) (cf. Martin 2006: 295). Dentro dos EdT, o modelo proposto está em sintonia com modelos de tradução como uma renegociação de significados (por exemplo, tradução como "diálogo" em Robinson 1991; como "re-escrita" em Lefevere 1992a e b; e como "intertextuallidade" em Venuti 2009). Ele toma como base a descrição de Venuti (2009) dos três contextos constitutivos do TF que são recriados na tradução. Para Venuti (2009), tais contextos compreendem as seguintes relações - (1) aquelas entre o texto estrangeiro e outros textos, escritos na lingua estrangeira ou em uma outra língua; (2) aquelas entre o texto estrangeiro e a tradução, que têm sido tratadas tradicionalmente segundo conceitos de equivalência; e (3) aquelas entre a tradução e outors textos, escritos na lingua da tradução ou em uma outra lingua (p. 158). A partir de tais pressupostos teóricos, o modelo concebe a tradução como uma renegociação de relações intertextuais estabelecidas entre o TF e outros textos no interior da língua/cultura-fonte e, a fim de investigar tais relações, põe o foco na hierarquia de instanciação. Martin (2006) vê a instanciação como uma escala de 5 níveis - sistema, gênero/registro, tipo de texto, texto e leitura. Seu modelo de instanciação inclui os conceitos de re-instanciação, acoplamento (coupling) e calibragem (committment). Re-instanciação é o processo pelo qual um texto reconstrói o potencial de significado de um dado TF (Martin 2006: 286). Tal processo implica um movimento de distanciação (distantiation), isto é, um movimento ascendente na escala de instanciação, para níveis onde significados mais gerais ou não especificados estão disponíveis, e um movimento descendente de volta aos níveis do texto e da leitura. Acoplamento (coupling) se refere à combinação de significados - com relação a estratos, metafunções, ordens, sistemas simultâneos e modalidades - que é feita na instanciação e na re?instanciação dos textos (v. Martin 2010: 19). Calibragem (commitment) se refere ao grau de especificidade do significado instanciado em um texto. Esse grau é definido com relação ao número de sistemas opcionais que são utilizados e, no interior de tais sistemas, ao grau de refinamento (delicacy) das escolhas feitas (cf. id., p. 20). A relação entre especificidade e calibragem é: quanto mais específico mais calibrado e quanto mais geral, menos calibrado em relação ao significado metafuncional. Ou seja, os significados não são apenas selecionados mas acoplados (isto é, combinados) e calibrados (isto é, oferecidos em um determnado nível de especificidade ideacional ou interpessoal). A tradução é então equiparada a um processo de re-instanciação interlingual, semelhante ao processo de re-instanciação intralingual teorizado e aplicado por Martin (2006, 2008a, 2010) e Hood (2008). Na re-instanciação intralingual como na interlingual, um TA reconstrói o potencial de significado de um dado TF. Tal reconstrução pressupõe uma construção, isto é, uma leitura, que no caso da re-instanciação interlingual é feita pelo/a tradutor/a. É a leitura do/a tradutor/a que permite ao TF se transformar em TA. O TA, portanto, seria antes a reconstrução de uma leitura do TF do que do próprio TF. A leitura do/a tradutor/a, no entanto, é uma leitura vicária, isto é, uma leitura feita em nome do/a leitor/a da língua-alvo (LA). A leitura do/a tradutor/a e sua consequente re-instanciação do TF produzem um novo texto da LA que compartilha com o TF um dado potencial de significado. A fim de determinar os potenciais de significado envolvidos na re-instanciação interlingual, a perspectiva tridimensional proposta volta-se para a hierarquia de individuação e, ao invés de considerar os potenciais globais das línguas envolvidas, considera os sistemas linguísticos personalizados do/a tradutor/a, isto é, seus repertórios. Tais repertórios são entendidos como constituídos pelas regras de reconhecimento e de realização do/a tradutor/a relativas às línguas/culturas envolvidas e também à tradução de textos de e/ou para tais línguas/culturas. O modelo supõe que os potenciais de significado mobilizados pelo/a tradutor/a (seus repertórios) podem ser esboçados a partir das escolhas feitas no TA. Tais escolhas são vistas como pontos de convergência (entre os dois sistemas) encontrados/forjados pelo/a tradutor/a de acordo com seus repertórios.
O processo de re-instanciação é entendido como a recriação de três matrizes constitutivas do TF - 1) suas relações instanciais, isto é, suas escolhas e combinações particulares de significados entre aqueles disponíveis no potencial global da LF; 2) suas relações intertextuais intralinguais, isto é, suas relações com outros textos da LF enquanto pertencentes ao mesmo discurso, gênero/registro e tipo de texto; e 3) suas relações com as leituras que proporciona (enquanto manifestadas nos intertextos de chegada). Tal recriação implica um processo de gerenciamento que é estratégico em relação às necessidades/valores do/a leitor/a da LA e ao tipo de leitura que o/a tradutor/a projeta nesse/a leitor/a. Nesse processo, o/a tradutor/a primeiramente considera a matriz 3 do TA, isto é, as necessidades e valores do/a leitor/a presumido da LA e o tipo de leitura visado. Com base em Martin & White (2005), o modelo considera três tipos possíveis de leitura - concordante, opositora ou tática (p. 206). Em seguida, o/a tradutor/a tem as opções de: privilegiar relações na matriz 1 (relações instanciais) ou privilegiar relações na matriz 2 (relações interdiscursivas e intertextuais). Privilegiar a matriz 1 significa posicionar o ponto focal para a convergência entre os dois sistemas (enquanto repertórios) no nível do texto na escala de instanciação. A criatividade do/a tradutor/a é exercida na recriação dos padrões linguísticos do TF, seja em geral, seja em relação a determinados elementos como, por exemplo, recursos do estrato da fonologia/grafologia, da lexicogramática ou da semântica do discurso. Os movimentos de distanciação atingem os potenciais globais visto que em sua recriação dos padrões de significado do TF, o/a tradutor/a pode precisar constranger o sistema da língua-alvo a fim de realizar escolhas que até então permaneciam potenciais. Esta opção é correlacionada ao modo intertextual de "citação" (proposto por Martin 2006 para a re-instanciação intralingual) no qual "o potencial de significado dos dois textos é apresentado como completamente sobrepostos" (p. 287).
Privilegiar a matriz 2 significa elegar o nível do tipo de texto como ponto focal para a convergência entre os dois sistemas (enquanto repertórios). Tal ponto focal é posicionado entre as duas escalas visto que nenhuma delas é favorecida. A criatividade do/a tradutor/a é exercida na criação de um TA considerado como pertencendo ao mesmo tipo textual que o TF com relação a determinadas características. Esta opção é correlacionada a movimentos de distanciação que atingem o nível em que os significados são compartilhados por textos do mesmo tipo. Tais distanciamentos originam as relações intertextuais que Martin (2006) chama de "paráfrase" (na qual a sobreposição entre os potenciais é menor do que na "citação") e "recontagem" (na qual "há ainda menos em comum" (p. 287)). O modelo proposto supõe que a diferença entre estes modos de relação intertextual - citação, paráfrase e recontagem - é proporcional à diferença entre os acoplamentos e calibragens feitos no TA e aqueles feitos no TF. A fim de distinguir tais modos como empregados nos TA, o modelo propõe os seguintes critérios: citação - o TA possui calibre ideacional e/ou interpessoal equiparável ao do TF; paráfrase - os calibres deacional e/ou interpessoal do TA diferem dos calibres do TF até um certo limite inferior ou superior; recontagem - os calibres ideacional e/ou interpessoal do TA diferem dos calibres do TF além dos limites inferior ou superior da paráfrase OU - o TA oferece significados ideacionais e/ou interpessoais diferentes dos oferecidos no TF. Após oferecer uma análise contrastive detalhada de um dos trios de textos da fonte de dados, a tese oferece um mapa do modelo tridimensional proposto bem como uma metodologia para a análise de re-instanciações interlinguais.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:repositorio.ufsc.br:123456789/94265
Date25 October 2012
CreatorsSouza, Ladjane Maria Farias de
ContributorsUniversidade Federal de Santa Catarina, Vasconcellos, Maria Lucia Barbosa de, Weininger, Markus
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguageEnglish
Detected LanguagePortuguese
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
Format333 p.| il., tabs.
Sourcereponame:Repositório Institucional da UFSC, instname:Universidade Federal de Santa Catarina, instacron:UFSC
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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