Este trabalho consiste em uma leitura de Infância e Memórias do Cárcere de Graciliano Ramos a partir de dois aspectos que consideramos fundamentais em sua obra autobiográfica: descoberta e limitação. A criança vive um processo de formação no livro, incorporando o novo aos seus referenciais. O adulto, com a absurda prisão, marca o texto com uma problematização de suas certezas. Com especificidades que separam experiências tão distintas, discutimos como as obras apresentam literariamente a limitação imposta pela violência e pela opressão e a possibilidade concreta de descobrir mais sobre a própria subjetividade e o mundo, que se dá pela relação com pessoas singulares. Principalmente na cadeia, o contato estreito com os homens em condições precárias permite que se conheça o quanto eles são surpreendentes, com ações inverossímeis àquela realidade. Nesse sentido, ao contrário do tão discutido pessimismo de Graciliano, consideramos que a experiência carcerária permitiu-lhe lampejos de esperança, que tiveram impacto sobre as obras escritas após sua libertação. Para entender o outro, Graciliano reflete profundamente sobre si mesmo, julgando-se incapaz de opor-se a um mundo de tamanha negatividade. Mas a sua resistência virá através da escrita, especialmente a autobiográfica. Essa forma traz o olhar do sujeito sobre a própria experiência, o que implica, por exemplo, em discutir verdade, ficção, verossimilhança e rememoração e, principalmente, em reconhecer o impacto da união de personagem, narrador e autor sob o nome de um único homem. Recorrer à autobiografia indica mais do que a necessidade de passar da ficção à confissão, pois essa forma, ao exigir maior unidade do sujeito, é a que melhor concretiza a resistência do homem a tantas experiências fragmentadoras. / This research consists of a reading of Infância and Memórias do Cárcere by Graciliano Ramos based on two points here considered fundamentals of his autobiographical works: discovery and limitation. The child incorporates all kind of newness during his upbringing process. The adult put in doubt his conviction because of the absurd prison. Considering the specificities of the distinct experiences, it will be discussed how the books present the limitation imposed by the violence and oppression and how it is possible to know oneself and the world through the relationship with extraordinary people. Mainly on the jail, the sociability on hard living conditions allows that one notice how people can be surprising, capable of non-expected actions to that reality. Therefore, on the contrary of the much discussed Gracilianos pessimism, it can be considered that the experience on the jail showed to the author signs of hope, which have affected his written works after he got out the prison. Graciliano thought deeply about himself to understand other people, concluding he is unable to make an opposition to such a negative world. But his resistance appears through the writing, specially the autobiographical, which requires a discussion about truth, fiction, verisimilitude, remembrance and mainly about the impact of character, narrator and author united under a single name. Writing an autobiography means more than a need of moving from fiction to confession. As this form demands an unitary person, its the best one to show the resistance of someone against so many experiences of dissolution.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-24112009-142629 |
Date | 11 February 2009 |
Creators | Patricia Trindade Nakagome |
Contributors | Andrea Saad Hossne, Jorge Mattos Brito de Almeida, Márcio Orlando Seligmann Silva |
Publisher | Universidade de São Paulo, Letras (Teoria Literária e Literatura Comparada), USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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