1 |
[pt] AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM COM INPUT VARIÁVEL: O CASO DA CONCORDÂNCIA DE NÚMERO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO / [en] LANGUAGE ACQUISITION BASED ON VARIABLE INPUT: THE CASE OF NUMBER AGREEMENT IN BRAZILIAN PORTUGUESEANA PAULA DA SILVA PASSOS JAKUBOW 17 February 2022 (has links)
[pt] Esta tese investiga como as crianças que vivem no Rio de Janeiro (Rio) lidam com input variável no que concerne às marcas morfofonológicas de concordância de número em Português Brasileiro (PB). Em PB, o plural pode ser expresso apenas no determinante (D) (não-redundante, variedade não-padrão) ou em todos os elementos que concordam com D (redundante, variedade padrão). O grau de variação é influenciado pelo nível de escolaridade e pelo nível socioeconômico (NSE) do falante: quanto mais escolarizado o falante é, mais marcas de plural são produzidas (NARO, 1981; NARO; SCHERRE, 2015; SCHERRE; NARO, 1998). O Rio é um ambiente de contato entre variedades, já que pessoas de diferentes NSE interagem cotidianamente. Sugere-se que input variável resulta em aquisição e representação de traços morfofonológicos pertinentes à expressão da redundância da concordância de número plural subespecificados (cf. ROORYCK, 1994) no léxico. Assume-se que a gradual especificação dessas informações depende de fatores sociais, o que pode acarretar uma espécie de bilinguismo. Um experimento de produção induzida por repetição foi conduzido com crianças em idade pré- escolar de escolas pública e particular, no qual possíveis combinações de concordância foram manipuladas a fim de verificar se há diferença entre a performance dos dois grupos, uma vez que tipo de escola é tomado como variável social (ALVES; SOARES; XAVIER, 2014). Os resultados demonstram que ambos os grupos apresentam variação, mas diferem na produção das variedades não- padrão: Pub apresenta respostas não-padrão com mais frequência que Priv. No momento da codificação morfofonológica, na produção da linguagem, o acesso aos morfemas armazenados em uma espécie de Pool of Variants (ADGER, 2007), sofreria influência de fatores sociais e de frequência (LEVELT, 1999). A marca de plural obrigatória no determinante é explicada pelo viés sintático e pelo viés do processamento via um modelo de computação online para a produção da linguagem (CORRÊA; AUGUSTO, 2007, 2011), assumindo transferência para as interfaces em fases (CHESI, 2007) e que o DP em PB possui duas fases (PICALLO, 2017). O efeito de escolaridade na variação da concordância de número é verificado com dados de crianças do 6º ano de escolas pública e particular também no subúrbio do Rio. Os resultados mostram um efeito de tipo de escola/SES, em que Priv produz respostas padrão mais frequentemente que Pub. Além disso, foi verificado um efeito de desempenho escolar com os alunos de 6º ano de uma mesma escola pública: Pub A (bom desempenho acadêmico) é menos sujeito à variação do que Pub B (desempenho escolar regular). De maneira geral, os resultados do 6º ano indicam interação entre NSE e desempenho escolar em um continuum gradiente de produção de concordância de número: Priv > Pub A > Pub B. Adicionalmente, um teste de habilidades linguísticas (MABILIN II (CORRÊA, 2000)) buscou verificar habilidades dos alunos de 6º ano em extrair informação de número gramaticalmente relevante na compreensão e na produção do PB pelo grupo Pub B, visto que este grupo do 6º ano apresentou performance similar ao grupo de pré-escolares da escola pública, apesar da diferença de idade entre os dois grupos. Os resultados dos experimentos são discutidos em termos de um contexto bi/multilíngue: a) falantes de PB adquirem as duas variedades simultaneamente, como na aquisição bilíngue simultânea (MEISEL, 1994); b) um bom desempenho escolar pode melhorar a consciência metalinguística do falante, permitindo code-switching entre as variedades, dependendo do nível de proficiência em cada uma delas (CRAIG; WASHINGTON, 2004); c) um bom desempenho escolar e NSE alto podem resultar em uma espécie de bilinguismo passivo ou bidialetalismo passivo em relação às formas não-redundantes (see CORNIPS, 2014). Por fim, os resultados são discutidos em termos de um continuum multilíngue, caracterizado, em um extremo, como uma gramática subespecificada e, em outro, duas gramáticas separadas, acessadas de maneira independente. Esta tese, portanto, está inserida em um campo interdisciplinar com vistas a conciliar sociolinguística, psicolinguística e teorias linguísticas formais. / [en] This thesis investigates how children growing up in Rio de Janeiro city (Rio) deal with variable input regarding the morphophonological expression of number agreement in Brazilian Portuguese (BP). Plural in BP may be expressed only in the determiner (non-redundant, non-standard variety) or in all agreeing elements (redundant, standard variety). The level of variation is influenced by social factors such as level of education and socioeconomic status (SES): the more educated the speaker is, the more redundancy is morphologically expressed (NARO, 1981; NARO; SCHERRE, 2015; SCHERRE; NARO, 1998). In Rio, these varieties co- exist, given that people from different SES interact on a daily basis. It is proposed that exposure to variable input yields underspecification (ADGER, 2006; ADGER; SMITH, 2010). In the case of number agreement in BP, it is suggested that variation results in underspecification (see ROORYCK, 1994) of morphophonological features in the lexicon pertaining to plural agreement redundancy. We hypothesize that there is a level of bilingualism regulated by SES in number agreement in BP: gradual specification of morphophonological information is dependent on social factors, resulting in a sort of bilingualism. An elicited production task was carried out with preschoolers, from both private (Priv) and public (Pub) schools in Rio’s suburban area, in order to verify whether preschoolers exhibit preference for any of the morphophonological expressions of number agreement; type of school is taken as a social variable (ALVES; SOARES; XAVIER, 2014). Results show that preschoolers exhibit a considerable level of variation. However, they differ in terms of production of non-standard varieties, being Pub more likely to produce non- standard forms than Priv. It is argued that during morphophonological encoding in language production, the access to morphemes stored in a Pool of Variants (ADGER, 2007) becomes subject to frequency (LEVELT, 1999) and influence of social factors. Obligatory plural marking in the determiner is explained both from the perspective of language knowledge and its representation and from an online computational model for language production (CORRÊA; AUGUSTO, 2007, 2011), assuming a two-phase DP (PICALLO, 2017) which is phase-based transferred (CHESI, 2007) to morphophonological encoding. The effect of schooling/ literacy in number agreement variation is also verified with Priv and Pub 6th graders. Results show an effect of type of school/ SES in which Priv produces more standard responses than Pub. Additionally, an effect of overall academic performance was obtained among Pub 6th graders from the same school: Pub A (above-average academic performance) are less subject to variation than Pub B (below-average academic performance). Overall, 6th graders results show that academic performance and SES interact in a gradient continuum of number agreement redundancy production: Priv > Pub A > Pub B. Furthermore, a test of assessment of linguistic abilities regarding number agreement, MABILIN II (CORRÊA, 2000), verified whether Pub B 6th graders are able to process grammatical information pertaining to number, given that their performance was similar to Pub preschoolers, despite their age difference. Preschoolers and 6th graders results are discussed in terms of bi/multilingual-like contexts: a) BP speakers acquire both varieties simultaneously, as in Bilingual First Language Acquisition (MEISEL, 1994); b) Good academic performance may enhance metalinguistic awareness allowing for code-switching depending on the level of proficiency in one of the varieties (CRAIG; WASHINGTON, 2004); c) good academic performance and higher SES may result in a sort of passive bilingualism or passive bidialectalism regarding the non-standard forms (see CORNIPS, 2014). Finally, preschoolers and 6th graders results are discussed in terms of a multilingual continuum, characterized as underspecification as variation within one grammar in one extreme to access to different, independent specified grammars in another extreme. More broadly, this thesis is inserted in an interdisciplinary field, combining sociolinguistics, psycholinguistics and theoretical formal linguistics.
|
Page generated in 0.0506 seconds