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De “são bichas, mas são nossas” à “diversidade da alegria” : uma história da torcida coligay

Anjos, Luiza Aguiar dos January 2018 (has links)
A Coligay é uma torcida do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense que esteve em atividade entre 1977 e os primeiros anos de 1980. Como o nome indica, essa torcida era formada predominantemente por homens identificados como gays, o que já parece ser motivo de surpresa e curiosidade no contexto futebolístico brasileiro, no qual a heterossexualidade, mais do que tomada como norma, é enfatizada como valor. Mas esse agrupamento fez-se notório não (apenas) porque explicitava a homossexualidade de seus integrantes em sua retórica, mas, sobretudo, porque fazia de tal identidade sexual o norteador da performance estética do grupo nas arquibancadas. Uma vez extinta, a torcida caiu em esquecimento, ausente em grande parte dos registros da história do Grêmio e da memória de muitxs torcedorxs. Recentemente, a Coligay tem retornado à visibilidade com destaque à produção de um livro, um documentário e reportagens, além da presença da torcida em um painel no Museu do Grêmio. Tendo esse cenário em vista, esta tese tem como objetivo descrever e analisar a trajetória e memória da torcida Coligay, dando destaque às tensões referentes a gênero e sexualidade que emergem a partir da presença de um coletivo afirmadamente gay no universo futebolístico. Para tal, me embaso na fundamentação teoria dos Estudos Queer. Utilizo como como fontes entrevistas realizadas na perspectiva teórico-metodológica da História Oral junto a integrantes da Coligay, outrxs torcedorxs do Grêmio, jornalistas, assim como ex-jogadores, dirigentes e funcionários do clube. Às fontes orais, acrescento fontes documentais, sendo elas: registros de periódicos, o acervo documental e iconográfico do Museu do Grêmio, livros que tratam da história do clube e artefatos culturais sobre a Coligay e o Grêmio, tais como notícias de sítios eletrônicos, publicações do Facebook e um documentário Identifiquei que houve, naquele período, um cenário de permissividade à formação da Coligay, assim como de outras “torcidas gays”, acompanhando movimentos potencialmente subversivos no campo da cultura. Ainda assim, a existência da Coligay foi possível diante de certas características e estratégias que contribuíram para sua aceitação. Evidenciei que a torcida possui inegável importância entre as torcidas gremistas, não apenas por refutar o suposto caráter universalmente cisheterossexual e viril do futebol, mas também pelo pioneirismo em diversas iniciativas de organização torcedora e performance nas arquibancadas. A Coligay serviu, também, como um espaço de sociabilidade de LGBTs que, através dela, se aproximaram e apropriaram do futebol. Apesar de sua performance torcedora, em muitos aspectos, ser similar àquela de outras torcidas, é recorrente que suas manifestações sejam marcadas pelo que as diferencia: a afeminação que atravessa suas gestualidades. Há constantes deslizamento entre o que entendem como masculinidades e feminilidades, ainda que dentro de limites que xs próprios integrantes se impõem, os quais necessariamente estão articulados à norma e às consequências concretas que sua ultrapassagem representaria. Por fim, lanço a hipótese de um deslocamento em curso sobre o significado da torcida - de “São bichas, mas são nossas” para a “Diversidade da alegria” – inserido em um projeto de afirmação de uma tradição de pluralidade no Grêmio. / Coligay is a group of supporters from Grêmio Foot-ball Porto Alegrense that was active between 1977 and the early 1980s. As their name indicates, this crowd was formed predominantly by men identified as gay, which already seems to be cause for surprise and curiosity in the Brazilian football context, in which heterosexuality, rather than taken as a norm, is emphasized as value. But this grouping became notorious not only because it exposed the homosexuality of its members in their rhetoric, but above all because it made such sexual identity the guiding force of the group's aesthetic performance in the stands. Once extinct, the crowd fell into oblivion, largely missing from the records of Grêmio´s history and the memory of many supporters. Recently, Coligay has returned to visibility, featuring the production of a book, a documentary and articles, besides the presence of the supporters in a panel in Grêmio´s Museum. With this scenario in view, this thesis aims to describe and analyze the trajectory and memory of the Coligay fans, highlighting the tensions related to gender and sexuality that emerge from the presence of an assertively gay collective in the football universe. To that end, I have grounded on the perspectives of the Queer Studies. I use as sources interviews conducted in the theoretical-methodological perspective of Oral History with members of Coligay, other supporters of Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, journalists, as well as former players, officials and employees of the club. To the oral sources, I add documentary sources, such as: periodicals, documentary and iconographic collection of Grêmio’s Museum, books dealing with the history of the club and cultural artifacts about Coligay and Grêmio, such as news from electronic sites, publications of Facebook and a documentary I identified that there was, in that period, a scenario of permissiveness to the formation of Coligay, as well as other “gay supporting groups”, accompanying potentially subversive movements in the field of culture. Nevertheless, the existence of Coligay was possible in the face of certain characteristics and strategies that contributed to its acceptance. I pointed out that the crowd has undeniable importance among Gremio’s supporting groups, not only for refuting the supposed universallity os cis/heterossexual and virile character of football, but also for the pioneering in several initiatives of supporter’s organization and performance in the football stands. Coligay also served as a space for sociability of LGBTs who, through it, approached and appropriated football. In spite of its supporting performance, in many ways, being similar to that of other fans, it is recurrent that its manifestations are marked by what differentiates them: the effeminacy that crosses its gestualities. There are constant slips between what they understand as masculinities and femininities, even within the limits that their own members impose themselves, which necessarily are articulated to the norm and the concrete consequences that their overtaking would represent. Finally, I propose the hypothesis of an ongoing shift over the meaning of the crowd - from “They are fags, but they are ours” to the “Diversity of Joy” - inserted in a project of affirmation of a tradition of plurality in Grêmio.
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Do Olímpico à Arena : elitização, racismo e heterossexismo no currículo de masculinidade dos torcedores de estádio

Bandeira, Gustavo Andrada January 2017 (has links)
Esta tese pretendeu discutir como o processo de elitização dos estádios de futebol, o chamado “caso Aranha” e certo retorno da Coligay atravessaram o currículo de masculinidade dos torcedores do Grêmio que frequentam estádio. Os estádios de futebol inserem os sujeitos torcedores em diferentes pedagogias culturais. A modernização dos espaços do torcer que vem ganhando andamento no Brasil, especialmente, a partir da década de 1990, foi catalisada com a realização da Copa do Mundo no País, em 2014. Com isso, diferentes olhares foram colocados para os estádios, os torcedores e suas práticas. Normativas vindas da FIFA e de federações nacionais têm colocado em questão práticas historicamente autorizadas nos estádios de futebol. Nessa investigação procurei observar como os torcedores do Grêmio foram interpelados por esses diferentes conteúdos ao realizarem um trânsito entre o estádio Olímpico Monumental e a Arena do Grêmio. Para a construção do material empírico realizei uma etnografia na Arena do Grêmio que me permitiu discutir como o sujeito coletivo ‘torcida do Grêmio’ recebeu esses diferentes movimentos. Além disso, observei alguns ditos individuais e de que maneira eles ressoaram ou não nesse espaço. Por fim, produzi um terceiro material através de diálogos com pequenos grupos de torcedores que me permitiram perguntar mais diretamente como estes indivíduos percebiam a elitização dos estádios, a interdição de cânticos e eventuais episódios de racismo e homofobia. Essa investigação dialoga com um vasto conjunto de trabalhos na área das Ciências Humanas e Sociais que problematizam diferentes aspectos do futebol como prática de lazer e esportiva, especialmente a partir da realização dos megaeventos esportivos no Brasil, Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016. Ao mesmo tempo inova ao analisar estes fenômenos a partir de categorias do campo da Educação, no viés dos Estudos Culturais, dos estudos de gênero e da sexualidade e numa perspectiva feminista e pós-estruturalista. Em minha dissertação de mestrado (2009) procurei olhar para um currículo de masculinidade nos estádios de futebol. Voltei a olhar para o mesmo fenômeno com um afastamento temporal e espacial, uma vez que o clube em que realizei minha inserção etnográfica mudou de estádio, tendo no conceito de currículo uma centralidade analítica para examinar novamente os fenômenos que ocorrem nos estádios e o que eles poderiam me dizer sobre essas masculinidades construídas através das narrativas que ali circulam e disputam significados. É possível apontar que os torcedores se entendem em trânsito e percebem certa diferença nas formas adequadas de ocuparem o novo estádio sendo necessário algum tipo de adaptação. O processo de elitização acaba produzindo certa dicotomia entre o torcedor, representado como autêntico e popular, e o consumidor que seria alguém estranho ao estádio. A esse consumidor podem se somar outras alteridades do torcedor que poderiam incluir mulheres, crianças e homens mais velhos. Na Arena é possível visualizar uma relação em tensionamento entre o torcedor e a torcida. Ora as ações do torcedor são narradas a partir da pertença ao coletivo, ora o sujeito pode ser individualizado e a coletividade se esvazia. Ainda é muito cedo para saber o que acontecerá com esse currículo de masculinidade dos torcedores de estádio a partir da desnaturalização de algumas práticas. Agora, mais do que antes, há um jogo a ser jogado sobre as construções das masculinidades torcedoras nos estádios de futebol. / This thesis intended to discuss how the elitization process of the football stadiums, the so called “Aranha Case” and a certain return of the Coligay crossed the Grêmio fans’ masculinity curriculum of those who go to the stadium. The football stadiums insert the fan individuals in different cultural pedagogies. The modernization of the fan’s spaces which has been getting progress in Brazil, especially from the 1990s, was catalyzed with the realization of the World Cup in the Country, in 2014. Hence, different viewpoints were placed for the stadiums, for the fans and their practices. Normative rulings coming from FIFA and from national federations have been calling into question practices historically authorized in the football stadiums. In this investigation, I tried to observe how the Grêmio fans were challenged for these different contents when they performed a transit from the Olímpico Monumental Stadium to the Grêmio Arena. For the construction of the empirical material, I have done ethnography at the Grêmio Arena which allowed me to discuss how the collective subject ‘Grêmio Crowd’ received these different movements. Besides, I observed some individual sayings and how they resounded, or not, in this space. At last, I produced a third material through dialogs with small groups of fans which allowed me to question more directly how these individuals perceived the elitization of the stadiums, the interdiction of singings and eventual episodes of racism and homophobia. This investigation dialogs with a vast set of works in the area of Human Sciences and Social Sciences which discuss different aspects of football as leisure and sportive practices, especially from the realization of the mega sports events in Brazil, the World Cup of 2014 and Olympic Games of 2016. At the same time it innovates as it analyzes these phenomena from categories of the Education field, within the Cultural Studies, the gender and sexuality studies under a feminist and post-structuralist perspective. In my MA dissertation (2009) I tried to look at a curriculum of masculinity in the football stadiums. I now look at the same phenomenon, but with a temporal and spatial estrangement, once the club when I realized my ethnographic insertion moved to another stadium, having in the curriculum concept an analytical centrality to again examine the phenomena which occur in the stadiums and what they could tell me about these masculinities constructed through the narratives that circulate in such spaces and how they dispute significance. It is possible to point out that the fans understand each other in transit and that they perceive certain difference in the adequate ways of occupying the new stadium which makes necessary some kind of adaptation. The process of elitization ends up producing certain dichotomy between the fan, represented as authentic and popular, and the consumer, who would be someone strange to the stadium. To this consumer other fan’s alterities can be added, which could include women, children and older men. At the Arena it is possible to visualize a relation in tensioning between the fan and the crowd. Sometimes the fan’s actions are narrated from the collective allegiance, sometimes the subject can be individualized and the collectiveness empties out. It is still too early to know what will happen with this stadium fan’s masculinity curriculum from the denaturalization of some practices. Now, more than ever, there is a game to be played about the constructions of the fan masculinities in the football stadiums.
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Do Olímpico à Arena : elitização, racismo e heterossexismo no currículo de masculinidade dos torcedores de estádio

Bandeira, Gustavo Andrada January 2017 (has links)
Esta tese pretendeu discutir como o processo de elitização dos estádios de futebol, o chamado “caso Aranha” e certo retorno da Coligay atravessaram o currículo de masculinidade dos torcedores do Grêmio que frequentam estádio. Os estádios de futebol inserem os sujeitos torcedores em diferentes pedagogias culturais. A modernização dos espaços do torcer que vem ganhando andamento no Brasil, especialmente, a partir da década de 1990, foi catalisada com a realização da Copa do Mundo no País, em 2014. Com isso, diferentes olhares foram colocados para os estádios, os torcedores e suas práticas. Normativas vindas da FIFA e de federações nacionais têm colocado em questão práticas historicamente autorizadas nos estádios de futebol. Nessa investigação procurei observar como os torcedores do Grêmio foram interpelados por esses diferentes conteúdos ao realizarem um trânsito entre o estádio Olímpico Monumental e a Arena do Grêmio. Para a construção do material empírico realizei uma etnografia na Arena do Grêmio que me permitiu discutir como o sujeito coletivo ‘torcida do Grêmio’ recebeu esses diferentes movimentos. Além disso, observei alguns ditos individuais e de que maneira eles ressoaram ou não nesse espaço. Por fim, produzi um terceiro material através de diálogos com pequenos grupos de torcedores que me permitiram perguntar mais diretamente como estes indivíduos percebiam a elitização dos estádios, a interdição de cânticos e eventuais episódios de racismo e homofobia. Essa investigação dialoga com um vasto conjunto de trabalhos na área das Ciências Humanas e Sociais que problematizam diferentes aspectos do futebol como prática de lazer e esportiva, especialmente a partir da realização dos megaeventos esportivos no Brasil, Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016. Ao mesmo tempo inova ao analisar estes fenômenos a partir de categorias do campo da Educação, no viés dos Estudos Culturais, dos estudos de gênero e da sexualidade e numa perspectiva feminista e pós-estruturalista. Em minha dissertação de mestrado (2009) procurei olhar para um currículo de masculinidade nos estádios de futebol. Voltei a olhar para o mesmo fenômeno com um afastamento temporal e espacial, uma vez que o clube em que realizei minha inserção etnográfica mudou de estádio, tendo no conceito de currículo uma centralidade analítica para examinar novamente os fenômenos que ocorrem nos estádios e o que eles poderiam me dizer sobre essas masculinidades construídas através das narrativas que ali circulam e disputam significados. É possível apontar que os torcedores se entendem em trânsito e percebem certa diferença nas formas adequadas de ocuparem o novo estádio sendo necessário algum tipo de adaptação. O processo de elitização acaba produzindo certa dicotomia entre o torcedor, representado como autêntico e popular, e o consumidor que seria alguém estranho ao estádio. A esse consumidor podem se somar outras alteridades do torcedor que poderiam incluir mulheres, crianças e homens mais velhos. Na Arena é possível visualizar uma relação em tensionamento entre o torcedor e a torcida. Ora as ações do torcedor são narradas a partir da pertença ao coletivo, ora o sujeito pode ser individualizado e a coletividade se esvazia. Ainda é muito cedo para saber o que acontecerá com esse currículo de masculinidade dos torcedores de estádio a partir da desnaturalização de algumas práticas. Agora, mais do que antes, há um jogo a ser jogado sobre as construções das masculinidades torcedoras nos estádios de futebol. / This thesis intended to discuss how the elitization process of the football stadiums, the so called “Aranha Case” and a certain return of the Coligay crossed the Grêmio fans’ masculinity curriculum of those who go to the stadium. The football stadiums insert the fan individuals in different cultural pedagogies. The modernization of the fan’s spaces which has been getting progress in Brazil, especially from the 1990s, was catalyzed with the realization of the World Cup in the Country, in 2014. Hence, different viewpoints were placed for the stadiums, for the fans and their practices. Normative rulings coming from FIFA and from national federations have been calling into question practices historically authorized in the football stadiums. In this investigation, I tried to observe how the Grêmio fans were challenged for these different contents when they performed a transit from the Olímpico Monumental Stadium to the Grêmio Arena. For the construction of the empirical material, I have done ethnography at the Grêmio Arena which allowed me to discuss how the collective subject ‘Grêmio Crowd’ received these different movements. Besides, I observed some individual sayings and how they resounded, or not, in this space. At last, I produced a third material through dialogs with small groups of fans which allowed me to question more directly how these individuals perceived the elitization of the stadiums, the interdiction of singings and eventual episodes of racism and homophobia. This investigation dialogs with a vast set of works in the area of Human Sciences and Social Sciences which discuss different aspects of football as leisure and sportive practices, especially from the realization of the mega sports events in Brazil, the World Cup of 2014 and Olympic Games of 2016. At the same time it innovates as it analyzes these phenomena from categories of the Education field, within the Cultural Studies, the gender and sexuality studies under a feminist and post-structuralist perspective. In my MA dissertation (2009) I tried to look at a curriculum of masculinity in the football stadiums. I now look at the same phenomenon, but with a temporal and spatial estrangement, once the club when I realized my ethnographic insertion moved to another stadium, having in the curriculum concept an analytical centrality to again examine the phenomena which occur in the stadiums and what they could tell me about these masculinities constructed through the narratives that circulate in such spaces and how they dispute significance. It is possible to point out that the fans understand each other in transit and that they perceive certain difference in the adequate ways of occupying the new stadium which makes necessary some kind of adaptation. The process of elitization ends up producing certain dichotomy between the fan, represented as authentic and popular, and the consumer, who would be someone strange to the stadium. To this consumer other fan’s alterities can be added, which could include women, children and older men. At the Arena it is possible to visualize a relation in tensioning between the fan and the crowd. Sometimes the fan’s actions are narrated from the collective allegiance, sometimes the subject can be individualized and the collectiveness empties out. It is still too early to know what will happen with this stadium fan’s masculinity curriculum from the denaturalization of some practices. Now, more than ever, there is a game to be played about the constructions of the fan masculinities in the football stadiums.
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Do Olímpico à Arena : elitização, racismo e heterossexismo no currículo de masculinidade dos torcedores de estádio

Bandeira, Gustavo Andrada January 2017 (has links)
Esta tese pretendeu discutir como o processo de elitização dos estádios de futebol, o chamado “caso Aranha” e certo retorno da Coligay atravessaram o currículo de masculinidade dos torcedores do Grêmio que frequentam estádio. Os estádios de futebol inserem os sujeitos torcedores em diferentes pedagogias culturais. A modernização dos espaços do torcer que vem ganhando andamento no Brasil, especialmente, a partir da década de 1990, foi catalisada com a realização da Copa do Mundo no País, em 2014. Com isso, diferentes olhares foram colocados para os estádios, os torcedores e suas práticas. Normativas vindas da FIFA e de federações nacionais têm colocado em questão práticas historicamente autorizadas nos estádios de futebol. Nessa investigação procurei observar como os torcedores do Grêmio foram interpelados por esses diferentes conteúdos ao realizarem um trânsito entre o estádio Olímpico Monumental e a Arena do Grêmio. Para a construção do material empírico realizei uma etnografia na Arena do Grêmio que me permitiu discutir como o sujeito coletivo ‘torcida do Grêmio’ recebeu esses diferentes movimentos. Além disso, observei alguns ditos individuais e de que maneira eles ressoaram ou não nesse espaço. Por fim, produzi um terceiro material através de diálogos com pequenos grupos de torcedores que me permitiram perguntar mais diretamente como estes indivíduos percebiam a elitização dos estádios, a interdição de cânticos e eventuais episódios de racismo e homofobia. Essa investigação dialoga com um vasto conjunto de trabalhos na área das Ciências Humanas e Sociais que problematizam diferentes aspectos do futebol como prática de lazer e esportiva, especialmente a partir da realização dos megaeventos esportivos no Brasil, Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016. Ao mesmo tempo inova ao analisar estes fenômenos a partir de categorias do campo da Educação, no viés dos Estudos Culturais, dos estudos de gênero e da sexualidade e numa perspectiva feminista e pós-estruturalista. Em minha dissertação de mestrado (2009) procurei olhar para um currículo de masculinidade nos estádios de futebol. Voltei a olhar para o mesmo fenômeno com um afastamento temporal e espacial, uma vez que o clube em que realizei minha inserção etnográfica mudou de estádio, tendo no conceito de currículo uma centralidade analítica para examinar novamente os fenômenos que ocorrem nos estádios e o que eles poderiam me dizer sobre essas masculinidades construídas através das narrativas que ali circulam e disputam significados. É possível apontar que os torcedores se entendem em trânsito e percebem certa diferença nas formas adequadas de ocuparem o novo estádio sendo necessário algum tipo de adaptação. O processo de elitização acaba produzindo certa dicotomia entre o torcedor, representado como autêntico e popular, e o consumidor que seria alguém estranho ao estádio. A esse consumidor podem se somar outras alteridades do torcedor que poderiam incluir mulheres, crianças e homens mais velhos. Na Arena é possível visualizar uma relação em tensionamento entre o torcedor e a torcida. Ora as ações do torcedor são narradas a partir da pertença ao coletivo, ora o sujeito pode ser individualizado e a coletividade se esvazia. Ainda é muito cedo para saber o que acontecerá com esse currículo de masculinidade dos torcedores de estádio a partir da desnaturalização de algumas práticas. Agora, mais do que antes, há um jogo a ser jogado sobre as construções das masculinidades torcedoras nos estádios de futebol. / This thesis intended to discuss how the elitization process of the football stadiums, the so called “Aranha Case” and a certain return of the Coligay crossed the Grêmio fans’ masculinity curriculum of those who go to the stadium. The football stadiums insert the fan individuals in different cultural pedagogies. The modernization of the fan’s spaces which has been getting progress in Brazil, especially from the 1990s, was catalyzed with the realization of the World Cup in the Country, in 2014. Hence, different viewpoints were placed for the stadiums, for the fans and their practices. Normative rulings coming from FIFA and from national federations have been calling into question practices historically authorized in the football stadiums. In this investigation, I tried to observe how the Grêmio fans were challenged for these different contents when they performed a transit from the Olímpico Monumental Stadium to the Grêmio Arena. For the construction of the empirical material, I have done ethnography at the Grêmio Arena which allowed me to discuss how the collective subject ‘Grêmio Crowd’ received these different movements. Besides, I observed some individual sayings and how they resounded, or not, in this space. At last, I produced a third material through dialogs with small groups of fans which allowed me to question more directly how these individuals perceived the elitization of the stadiums, the interdiction of singings and eventual episodes of racism and homophobia. This investigation dialogs with a vast set of works in the area of Human Sciences and Social Sciences which discuss different aspects of football as leisure and sportive practices, especially from the realization of the mega sports events in Brazil, the World Cup of 2014 and Olympic Games of 2016. At the same time it innovates as it analyzes these phenomena from categories of the Education field, within the Cultural Studies, the gender and sexuality studies under a feminist and post-structuralist perspective. In my MA dissertation (2009) I tried to look at a curriculum of masculinity in the football stadiums. I now look at the same phenomenon, but with a temporal and spatial estrangement, once the club when I realized my ethnographic insertion moved to another stadium, having in the curriculum concept an analytical centrality to again examine the phenomena which occur in the stadiums and what they could tell me about these masculinities constructed through the narratives that circulate in such spaces and how they dispute significance. It is possible to point out that the fans understand each other in transit and that they perceive certain difference in the adequate ways of occupying the new stadium which makes necessary some kind of adaptation. The process of elitization ends up producing certain dichotomy between the fan, represented as authentic and popular, and the consumer, who would be someone strange to the stadium. To this consumer other fan’s alterities can be added, which could include women, children and older men. At the Arena it is possible to visualize a relation in tensioning between the fan and the crowd. Sometimes the fan’s actions are narrated from the collective allegiance, sometimes the subject can be individualized and the collectiveness empties out. It is still too early to know what will happen with this stadium fan’s masculinity curriculum from the denaturalization of some practices. Now, more than ever, there is a game to be played about the constructions of the fan masculinities in the football stadiums.

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