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Atos de fala transfóbicos no ciberespaço : uma análise pragmática da violência linguística

Silva, Danillo da Conceição Pereira 25 August 2017 (has links)
In the Brazilian society, aggravated by unequal distribution of economic assets, sociocultural and political rights, the issue of gender violence gains particular importance when it talks about the dynamics of production and subordination of certain identities (HALL, 2007). So, as a result of the dictates of a patriarchal and sexist social model, lifes background that do not comply with the matrix of binary gender and current cisgender are relegated to an abject condition, victimized by transphobia, scourge which according to a report from the NGO Transgender Europe (2016), puts Brazil as the leading country in murders of trans people in the world. With no doubt the language while social practice situated assumes a particular role in this panorama. In addition, in dialog with the Gender Studies (FOUCAULT, 1988; BUTLER, 1997, 2000; LOURO, 2000; BENTO, 2006; BORBA; OSTERNANN, 2007, 2008), the objective of this research is to expand the theoretical-analytical emerging in language studies, in a critical perspective in terms of the linguistic violence (SILVA, 2014) of transphobic motivation, performed in the cyberspace thanks to the strength of illocutionary speech acts that take place under certain ritual forms, through the update and (re-) establishment of specific contexts (DURANTI; GOODWIN, 1992; SILVESTREIN, 1993; HANKS, 2008). In order to forward such a proposal, we assume the pragmatics of language, stemming both from the Philosophy of Language (AUSTIN, 1990 [1962]; WITTGENSTEIN, 1975; DERRIDA, 1991a, 1991b; BUTLER, 1997), and the new Pragmatic Linguistic (MEY,1985; 2001; 2014; RAJAGOPALAN, 2010; ALENCAR, 2010; SILVA, 2012). The corpus used in this study are transphobic speech acts conducted in the cyberspace, present in 17 online comments posted on the website G1 news, between the months of June 2015 and June 2016, in three stories related to the staging of the transsexual actress and model Viviany Belleboni, during the 19th edition of the LGBT Pride parade in São Paulo. Based on a qualitative methodology, interpretative and exploratory, we set the concept of contextualization cues (GUMPERZ, 1998 [1982]), in order to analyze the corpus and to answer the following research questions: i) Under which ritual forms is the violence linguistics motivated by transphobia? ii) Which contexts are (re) introduced to confer the illocutionary strength to this particular type of violent speech act? iii) Which contextual positions the aggressors and victims are asked to take place in these linguistic contexts? The results obtained by analysis of this research suggest, roughly, to the restoration of violent contexts, in which emerges from the strength of illocutionary speech of transphobic acts, capable of subordinate and injure trans people through language, relating to a) the anthropological conditions and social abject which the trans population are relegated; b) to the Christian religion and their narratives, which are aimed to domesticate and to control individuals, producing docile bodies and subjects; c) the medical-scientific knowledge and its effects of truth produced by biologists beliefs of the relation between body and identity; d) to the coloniality devices and standardization in operation of transphobia; and e) the boundaries between subtle physically violence and that performed in the language, producing what is called continuum of violence. / Na sociedade brasileira, complexificada pela desigual distribuição de bens econômicos, socioculturais e políticos, a problemática da violência de gênero ganha particular relevo, inclusive no que tange às dinâmicas de produção e de subalternização de determinadas identidades (HALL, 2007). Assim, como consequência dos ditames de um modelo social patriarcal e machista, formas de vida não conformes com a matriz de gênero binária e cisnormativa vigente são relegadas a uma condição abjeta, vitimadas pela transfobia, flagelo este que, segundo relatório da ONG Transgender Europe (2016), coloca o Brasil como o país líder em assassinatos de pessoas trans no mundo. Sem sombra de dúvida, a linguagem, enquanto prática social situada, assume papel particular neste panorama. Diante disso, em diálogo com os Estudos de Gênero (FOUCAULT, 1988; BUTLER, 1997, 2000; LOURO, 2000; BENTO, 2006; BORBA; OSTERNANN, 2007, 2008), o objetivo geral desta pesquisa consiste em ampliar os desdobramentos teórico-analíticos emergentes nos estudos da linguagem, em perspectiva crítica, no que tange à violência linguística (SILVA; ALENCAR, 2014) de motivação transfóbica, performativizada, no ciberespaço, graças à força ilocucionária de atos de fala que se realizam sob determinadas formas rituais, mediante a atualização e o (re) estabelecimento de contextos específicos (DURANTI; GOODWIN, 1992; SILVESTREIN, 1993; HANKS, 2008). A fim de encaminhar tal proposta, assumimos perspectivas pragmáticas de linguagem, advindas tanto da Filosofia da Linguagem (AUSTIN, 1990 [1962]; WITTGENSTEIN, 1975; DERRIDA, 1991a, 1991b; BUTLER, 1997), quanto da nova Pragmática Linguística (MEY,1985; 2001; 2014; RAJAGOPALAN, 2010; ALENCAR, 2010; SILVA, 2012). O corpus utilizado neste estudo são atos de fala transfóbicos realizados no ciberespaço, presentes em 17 comentários online postados no site de notícias G1, entre os meses de junho de 2015 e junho de 2016, em três matérias jornalísticas relacionadas à encenação da atriz e modelo transexual Viviany Belleboni, durante a 19º edição da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. Baseando-nos numa metodologia qualitativa, interpretativa e exploratória, acionamos a noção de pistas de contextualização (GUMPERZ, 1998 [1982]), a fim de analisar o corpus com vistas a responder às seguintes perguntas de pesquisa: i) Sob que formas rituais e convencionais se realiza a violência linguística motivada pela transfobia? ii) Que contextos são (re) instaurados para conferir força ilocucionária a esse tipo específico de ato de fala violento? iii) Que posições contextuais agressores e vítimas são interpelados a ocuparem nesses contextos linguísticos violentos? Os resultados obtidos pelas análises desta investigação apontam, grosso modo, para o reestabelecimento de contextos violentos, dos quais emerge a força ilocucionária dos atos de fala transfóbicos, capazes de subalternizar e ferir pessoas trans por meio da linguagem, relativos a) às condições antropológicas e sociais abjetas às quais as populações trans são relegadas; b) à religião cristã e suas narrativas, que visam docilizar e disciplinarizar indivíduos, produzindo, assim, corpos e sujeitos dóceis; c) aos poderes-saberes médico-científicos e seus efeitos de verdade produzidos sobre crenças biologicistas da relação entre corpo e identidade; d) aos dispositivos de colonialidade e normatização em funcionamento na transfobia; e e) às fronteiras tênues entre a violência perpetrada fisicamente e aquela desempenhada na linguagem, produzindo o que denominamos continuum das violências. / São Cristóvão, SE

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