[pt] Em sua obra capital Ser e tempo (1927), o filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) elaborou o fio condutor do seu pensamento por toda a vida: a questão do sentido do ser (Sein). A penetrante análise da existência humana aí conduzida desvela, tendo como ponto de partida a cotidianidade mediana, os vários modos de ser do ser-aí (Dasein), indicando que a atitude existencialmente autêntica – em meio a uma decadência estruturalmente constitutiva – é propiciada por um reconhecimento e acolhimento da nossa finitude. No decorrer dos anos 1930, sob o influxo da chamada viravolta (Kehre) operada em seu pensamento – processo no qual a ontologia fundamental de Ser e tempo cede lugar à história do Ser (Seyn) –, Heidegger inicia seu movimento de interrogação sobre a técnica, no contexto de sua crescente e impositiva hegemonia, interrogação que desembocará na Gestell ou enquadramento técnico. Trata-se de uma configuração histórica do Ser que visa ao controle e à disponibilização absoluta de todos entes, inclusive dos homens. A Gestell, bem entendido, não se restringe ao universo dos objetos técnicos: é também a emergência de uma maneira tecnológica de ver e habitar o mundo. Este fluxo é de matriz cibernética, marcado, entre outros fenômenos, pelo recente predomínio da virtualização da interação humana, mediada pela onipresente Internet (mais amplamente o ciberespaço). Configura-se assim um novo tipo de convivência, em que virtualidades são utilizadas cotidianamente, influenciando constantemente o comportamento humano, a começar pela comunicação interpessoal e a cognição. O tempo gasto no espaço virtual aponta para uma gradual transformação de hábitos. Destarte, o objetivo da nossa investigação será o de oferecer subsídios preliminares para a elaboração de uma nova analítica do ser-aí, verificando em que medida a cotidianidade mediana, como ser-no-mundo na era da Gestell, é alterada. Isso implica em conduzir uma interpretação dessa nova facticidade na qual, conforme nossa hipótese, a impessoalidade (das Man) consolida o seu poder, consumando o esquecimento do ser através de uma recusa da própria finitude. Valendo-nos da analítica existencial de Ser e tempo e da reflexão heideggeriana sobre a técnica – no seio da qual despontam as noções de proximidade e distância e quadrindade como novos referenciais –, a análise busca desvelar os novos modos de ser da convivência cotidiana virtual, discutindo neste contexto as possibilidades de o ser-aí superar o impessoal e transformar-se em existência autêntica. / [en] In his main work, Being and time (1927), the German philosopher Martin Heidegger (1889-1976) drew up the thread of his lifelong thinking: the question of the meaning of being (Sein). Starting from the average everydayness, the penetrating analysis of human existence conducted here unveils the various modes of being of Dasein, indicating that the existentially authentic attitude – amidst a structurally constitutive decadence – is fostered by a recognition and acceptance of our finitude. During the 1930s, under the influx of the so-called reversal (Kehre) in his thought – a process in which the fundamental ontology of Being and time gives place to the history of Being (Seyn) –, Heidegger begins his interrogation movement on technique, in the context of its growing and imposing hegemony, interrogation that will lead to Gestell or technical enframing. It is a historical configuration of Being that aims at the absolute control and availability of all entities, including men. Gestell, of course, is not restricted to the universe of technical objects: it is also the emergence of a technological way of seeing and inhabiting the world. This flow is of cybernetic matrix, marked, among other phenomena, by the recent predominance of virtualization of human interaction, mediated by the ubiquitous Internet (more broadly: the cyberspace). A new type of being-with-one-another is thus established, in which virtualities are used daily, constantly influencing human behavior, beginning with interpersonal communication and cognition. The time spent in virtual space points to a gradual transformation of habits. Thus, the objective of our investigation will be to offer preliminary subsidies for the elaboration of a new analytic of Dasein, verifying to what extent the average everydayness, as being-in-the-world in the Gestell era, is altered. This implies in conducting an interpretation of this new facticity in which, according to our hypothesis, the They-self (das Man) consolidates its power, consummating the forgottenness of being through a refusal of its own finitude. Drawing on the existential analytic of Being and time and the Heideggerian thinking on the technique – within which the notions of proximity and distance and fourfold emerge as new references –, the analysis seeks to unveil the new ways of being of the virtual everyday being-with-one-another, discussing in this context the possibilities of Dasein overcome the They-self and become authentic existence.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:32511 |
Date | 28 December 2017 |
Creators | WALDYR DELGADO FILHO |
Contributors | EDGAR DE BRITO LYRA NETTO |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | TEXTO |
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