[pt] O Maio de 68 francês foi um movimento que propôs nova maneira de pensar o poder, segundo a qual não haveria mais distinção entre arte, saber e política, representando dessa forma o acontecimento da crise em toda sua potência, como espaço de imaginação e de criação. O cineasta brasileiro Glauber Rocha trabalha em afinidade com esta proposta, questionando esteticamente as instituições clássicas: ele põe em cena uma câmara em transe e personagens que explicitam a crise em seus discursos. Observa-se como os filmes de Glauber, representados neste ensaio por Terra em transe, Câncer e A idade da terra, ao apresentarem episódios desalinhados, desordenados, incongruentes, arrebentam com as formas tradicionais de contar uma história. Tal explosão da linguagem cinematográfica clássica, presente no imaginário coletivo, arranca o público de sua posição passiva de espectador, convidando-o a uma experiência transformadora. E é nesse processo de desestruturação que Glauber, utilizando dinamismos espaços-temporais, se articula com a prática filosófica dos movimentos antiautoritários do Maio francês e do pós-68. Desenvolvido e divulgado no âmago do embate crítico, o pensamento do filósofo francês Gilles Deleuze constitui o fundamento teórico que sustenta esta experiência de leitura da performance de uma revolta popular em contraponto com a construção da arte-pensamento de um cineasta. / [fr] Mai 68 a été un mouvement qui a proposé une nouvelle manière de penser le pouvoir politique, selon laquelle, il n y aurait pas de distinction entre art et politique, représentant ainsi l événement de la crise dans toute sa puissance, de la crise comme lieu d imagination et de création. Le cinéaste brésilien Glauber Rocha utilise esthétiquement cette proposition soulignant la crise des institutions traditionnelles: il met en scène une caméra dans un état de transe et des personnages qui explicitent cette crise dans leurs discours. Ainsi, notre intention est de montrer comment Glauber dans ses films, représentés ici par Terre en transe, Câncer et L âge de la terre, avec des scènes sans logique, non-ordonnées, incohérentes, bouleverse les manières traditionnelles de raconter une histoire. Il fait exploser le langage cinématographique classique, présent dans l imaginaire collectif, et arrache le public à sa position de spectateur passif, l invitant à une expérience de l imagination. Et c est dans ce processus de déstructuration que Glauber, employant dynamismes d espace et de temps, s articule avec la pratique philosophique des mouvements contre l autoritarisme du Mai 68 et post cette époque, étant le fondement théorique qui soutient cette thèse est la pensée du philosophe français Gilles Deleuze.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:38731 |
Date | 04 June 2019 |
Creators | ANNA LEE ROSA DE FREITAS |
Contributors | MARILIA ROTHIER CARDOSO |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | French |
Type | TEXTO |
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