Este trabalho busca investigar o jogo de representação no romance As Horas Nuas (1989), de Lygia Fagundes Telles, a partir da construção da protagonista Rosa Ambrósio. Na recuperação do passado pelo exercício da memória, os papéis femininos por ela outrora desempenhados no teatro como atriz misturam-se ao seu próprio repertório e descortinam a encenação de uma história de sujeição da mulher, suas tentativas de emancipação e a difícil arte de harmonizar a convivência nas esferas pública e privada. A divisão da perspectiva narrativa com um gato dotado de pensamento crítico e com uma onisciência seletiva que apresenta a intimidade da analista da atriz corrobora tanto a relação da protagonista envelhecida com os membros de sua intimidade, quanto desvenda a condição plural das mulheres no Brasil da década de 80. Propomos que os mecanismos de mediação escolhidos por Telles, especialmente o uso da intertextualidade com o teatro e a representação do processo de elaboração do pretenso livro de memórias de Rosa revelam sua experiência social como mãe, esposa, amante, filha, patroa, paciente, e também o diálogo da escritora com o próprio fazer literário. Na tessitura narrativa de As Horas Nuas, com seus limites movediços entre invenção e memória, lembrança e esquecimento, configurados na dialética de expor e ocultar, delineiam-se, entre espelhos e máscaras, as transformações sociais ocorridas com a mulher e com a instituição familiar no país durante quase meio século. / This dissertation seeks to investigate the role of representation in the novel As Horas Nuas (1989), by Lygia Fagundes Telles, based on the construction of the protagonist Rosa Ambrósio. By recovering the past through the exercise of her memory, the female roles once performed by her as a theatre actress mingle with her own experience and unveil the enactment of a womans story of submission, her attempts at emancipation and the difficult art of harmonizing her coexistence in the public and private spheres. The shared point of view between Rosa Ambrósio, a critical cat and a selective omniscient narrator, who presents the intimacy of the actresss psychoanalyst, portrays the relationship of the aged protagonist with those around her and also uncovers womens plural condition in Brazil in the 80s. What we propose is that the mechanisms of mediation chosen by Telles, especially the use of intertextuality with theatrical plays and the intended writing process of Rosas memoirs, reveal her social background as a mother, wife, lover, daughter, mistress, patient, but also the dialogue of the writer with literary production itself. In the narrative texture of As Horas Nuas, with its unstable boundaries between invention and memory, remembrance and oblivion, configured in the dialectic of exposing and hiding, the social transformations that women and the family as an institution have been through in the country for nearly half a century are delineated between mirrors and masks.
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-01122010-142445 |
Date | 05 November 2010 |
Creators | Martins, Ana Paula dos Santos |
Contributors | Vasconcelos, Sandra Guardini Teixeira |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | Tese de Doutorado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
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