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O quilombo e a escola de Barro Preto, em Jequié, Bahia: vicissitudes e sentidos de identidade / The quilombo and the school of Barro Preto in Jequié, Bahia: vicissitudes and senses of identity

Esta tese tem como base pesquisa realizada em uma comunidade quilombola urbana, denominada Barro Preto, situada em Jequié, cidade do sudoeste da Bahia, em 2015. O lócus basilar da investigação constituiu-se na escola pública de ensino fundamental estabelecida na comunidade, o Colégio Estadual Doutor Milton Santos. O estudo apoiou-se principalmente em entrevistas realizadas com sujeitos pertencentes à comunidade escolar e ao seu entorno professores, gestores, alunos e moradores. No período compreendido pela pesquisa foi possível acompanhar, de forma privilegiada, o processo pelo qual a comunidade e a escola se definiram, respectivamente, como quilombo e como escola quilombola. O objetivo principal deste trabalho consistiu assim em investigar e interpretar diferentes sentidos de identidade produzidos pelos sujeitos envolvidos em tal processo. A abordagem metodológica situou-se em uma perspectiva qualitativa, mediante realização de entrevistas, produção de testemunhos e memórias, organização de grupo focal e análise de conteúdo dos discursos recolhidos. Considerando a função proeminente da escola no processo de construção de identidade, buscou-se compreender e analisar as dinâmicas, conflitos e as vicissitudes vividas neste percurso. Como resultado, constatamos que a identidade quilombola, neste caso particular, pode ser compreendida através dos sentidos produzidos pelos sujeitos em um contexto que os impeliu a refletir e a pensar sobre o significado de ser negro e de ser quilombola. Esses sentidos, que se estendem para além da dimensão étnico-racial, para efeito de análise foram elencados em seis categorias principais território; memória; ancestralidade; corpo; ato político e religião , por meio das quais organizamos a apresentação dos temas, a discussão teórica e a análise dos dados. Evidenciou-se, nas falas dos sujeitos, que existem, entre uma parcela significativa dos moradores da comunidade (e também dentro da própria escola), tensões relacionadas à autoidentificação, dados os estereótipos e preconceitos em torno do ser negro e ser quilombola. Diante dessa realidade, observou-se o papel preponderante desempenhado pela escola no combate ao racismo e na edificação de aportes para construção e afirmação da identidade negra e quilombola na comunidade maior. Em seu processo de tornar-se quilombola, a instituição tem experienciado desafios, tensões, sucessos e recuos. Ainda que cerceada pelo racismo, a escola, na pessoa de seus gestores, alunos e professores, empreendeu ações que ecoaram em seu interior e para além dele. As transformações são significativas, pois sinalizam que esse contexto escolar tem influenciado positivamente o processo de construção das identidades, especialmente aquelas relacionadas à negritude e ao quilombo. Por isso, a escola é vista pelos moradores como instituição emblemática. Como agente fundamental na afirmação da identidade negra e da identidade quilombola, a escola se configura como pequeno mocambo, onde, em meio a diferenças e conflitos, são tecidas as identificações e os laços que conjugam pertencimento e posicionamento. Uma reverberação evidente desse processo é o grau de criticidade e a forma politizada com que os alunos discutem as relações étnico-raciais. / This thesis is based on research done in an urban quilombola community, denominated Barro Preto, located in Jequié, city of southwestern Bahia, in 2015. The basilar locus of the investigation was constituted in the public school of elementary education established in the community, the Colégio Estadual Doutor Milton Santos. The study was supported mainly based on interviews with subjects belonging to the school community and its surroundings teachers, managers, students and residents. During the period covered by the research, it was possible to follow, in a privileged way, the process by which the community and the school defined themselves, respectively, as a quilombo and a quilombola school. The main objective of this work was to investigate and interpret different senses of identity produced by the subjects involved in such a process. The methodological approach was based on a qualitative perspective, by means of interviews, production of testimonials and memories, focus group organization and content analysis of the discourses collected. Considering the prominent function of the school in the process of identity construction, it was sought to understand and analyze the dynamics, conflicts and vicissitudes experienced in this course. As a result, we verified that the quilombola identity, in this case, can be understood by the senses produced by the subjects in a context that impelled them to reflect and to think about the meaning of being black skinned and being quilombola. These meanings, which extend beyond the ethnic-racial dimension, for analysis purposes have been listed in six major categories territory; memory; ancestry; body; political act and religion through which we organize the presentation of the themes, the theoretical discussion and the analysis of the data. It was evidenced, in the subjects speeches, that there are tensions related to self-identification, given stereotypes and prejudices about being black skinned and being quilombola, among a significant portion of the community residents (and also within the school itself). Faced with this reality, it is observed the preponderant role played by the school in the fight against racism and in the edification of aids for the construction and affirmation of the black and quilombola identity in the larger community. In its process of becoming a quilombola, the institution has experienced challenges, tensions, successes and draw backs. Although curtailed by racism, the school, in the person of its managers, students and teachers, undertook actions that echoed within and beyond it. The transformations are significant, as they indicate that this school context has positively influenced the process of constructing identities, especially those related to black awareness and the quilombo. Therefore, the school is seen by the residents as an emblematic institution. As a fundamental agent in the affirmation of the black identity and the quilombola identity, the school is configured as a small mocambo, where, amid differences and conflicts, the identifications and bonds that combine belonging and positioning are woven. An obvious reverberation of this process is the degree of criticality and the politicized way in which students discuss ethnic-racial relations.

Identiferoai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-14052018-103324
Date26 February 2018
CreatorsFernandes, Viviane Barboza
ContributorsSouza, Maria Cecilia Cortez Christiano de
PublisherBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Source SetsUniversidade de São Paulo
LanguagePortuguese
Detected LanguageEnglish
TypeTese de Doutorado
Formatapplication/pdf
RightsLiberar o conteúdo para acesso público.

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