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No rastro de dores : trajetórias de vida e registros de superação em narrativas de mulheres negras com experiência de relações afetivo-sexuais com outras mulheres

Tese (doutorado)—Universidade de Brasília, Instituto de Ciências Sociais, Departamento de Antropologia, Programa de Pós-graduação em Antropologia Social, 2015. / Submitted by Fernanda Percia França (fernandafranca@bce.unb.br) on 2015-12-03T17:42:06Z
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2015_GlêidesSimonedeFigueiredoFormiga.pdf: 1682817 bytes, checksum: 9ed56ef6f3260e5b56759d40559d7939 (MD5) / Esta tese consiste em uma etnografia de histórias, de narrativas e trajetórias de vida de mulheres negras com experiência de relações afetivo-sexual com outras mulheres. Apresento reflexões sobre relações afetivas e construção de subjetividades atravessadas por relações de gênero, raciais, sexualidades, espaços, classes e encarceramento dentre outras. Nos diálogos empreendidos, as emoções dolorosas foram centrais. O objetivo desta tese é, portanto, apresentar a dinâmica de construção da subjetividade a partir dessas emoções, da dor de relacionar-se com o outro, um terceiro, mas também um outro que habita em si, conflitante, sob o modo de uma violência introjetada. Tento apreender também os sentidos que são atribuídos à essas dores, que posição ocupam no interior das dinâmicas relacionais e como se reatualizam no cotidiano dessas pessoas, na trajetória de vida e na dinâmica social, contribuindo no processo de construção de bases sólidas, profunda, estruturais e silenciosas de produção, reprodução e reatualização de um sistema patriarcal, heteronormativo, racializado, classista e misógino. Para tanto, este texto expõe de forma direta, a trajetória, a narrativa e reflexões fruto do trabalho realizado com cinco das vinte interlocutoras que participaram da pesquisa. A pesquisa foi realizada no Distrito Federal, em espaços e regiões administrativas distintas, quais sejam, Penitenciária Feminina do Distrito Federal – PFDF, Unidade de Internação do Recanto das Emas – UNIRE, Cidade Estrutural e a Universidade de Brasília – UnB. Utilizei enquanto instrumento de pesquisa a escuta das narrativas, diálogos e trocas de experiências, observações em campo e vivência/imersão nas mais diversas dimensões em meio às relações empreendidas em campo. Nos relatos que apresento, as dores são protagonistas de sensações, reações e emoções profundas, marcam e estão presentes na memória corporal, psíquica e afetiva de cada uma dessas mulheres. Categorias como abandono, ausência, desrespeito e fracasso são frequentes nos relatos enquanto elementos de uma gramática de gênero que causam dores, uma vez que emergem e são sentidas como a ausência e a frustração de expectativas do cumprimento de uma promessa patriarcal e heteronormativa. É frequente também, o relato de dores advindas de um corpo tido como abjeto, dos silenciamentos e ambiguidades dos discursos racializados, da frequência com que os corpos de mulheres negras ocupam o lugar de bodes expiatórios em relações racializadas. Dores advindas de um desejo homoafetivo considerado socialmente como indigno, da negação, repressão e da ambiguidade com que são tratadas nas relações interpessoais e sociais a emergência de atributos simbólicos entendidos como masculino, bem como a introjeção desses enunciados e fundamentos por muitas de minhas interlocutoras. Todos esses elementos são construídos profundamente desde as relações familiares sendo reproduzidos, reelaborados e reinventados nas relações afetivo-sexuais e consigo mesmas no decorrer da trajetória de vida. Diante da instabilidade gerada pelo medo do abandono e pela dor, minhas interlocutoras relatam melancolia, sensação de estagnação e aprisionamento, que por sua vez geram mais dores. Mediante a possibilidade da instabilidade e de reviver essas dores, elas buscam de um lado afastar-se de posições e caracteres que a aproximariam da fragilidade do feminino e da possibilidade de abandono e, de outro, valer-se de princípios que lhes geram expectativa de estabilidade e lhes trazem a sensação de equilíbrio, quais sejam, as concepções e fundamentos das relações heteronormativas. A dinâmica de articulação entre gênero, raça e sexualidade no mecanismo engendrado pela dor, bem como a multiplicidade e diversidade de formas criativas e estratégias de enfrentamento e rompimento dessa dinâmica que reifica as relações de poder e legitima a estrutura social excludente da sociedade ocidental, patriarcal e racializada são discutidas no texto que se segue. / This Thesis consists of an ethnography of stories, narratives and life stories of black women with experiences of emotional and sexual relationships with other women. I present reflections on personal relationships, and the building of subjectivities crossed by gender relations, race, sexuality, location, classes and incarceration among others. Painful emotions were central in the dialogues that were undertaken. The goal of this thesis is therefore to present the dynamics of the construction of subjectivity from such emotions as, the pain of relating to one another, a third, but also with another that lives in you, conflicting under the guise of an introjected violence. I also try to grasp the meanings that are attributed to these pains, what position they occupy within the relational dynamics, and how they are refreshed in the daily lives of these people, in the trajectory of life and social dynamics contributing in the process of building solid,deep, structural and silent foundations, of the production, reproduction and refreshing of a patriarchal, heteronormative, racialized, classist and misogynistic system. Therefore, this text exposes in a direct way, the trajectory, narrative and the reflections, which resulted from the work carried out with five of the twenty interlocutors in the survey. The survey was conducted in the Distrito Federal, in different spaces and administrative regions, namely, the Women's Penitentiary of the Distrito Federal – PFDF, the Detention unit of Recanto das Emas – UNIRE, the Cidade Estrutural and the University of Brasília – UnB. As a research tool, I listened to the narratives, dialogues and exchanges of experience, used field observations and experience / immersion in several dimensions amid the relations undertaken in the field. In the accounts that I present, the pains are protagonists of feelings, reactions and deep emotions, mark and are present in the body, psychological and emotional memory of each of these women. Categories such as abandonment, absence, disrespect and failure are common in the accounts as part of a gender grammar that causes pain, once they emerge and are experienced as frustration and lack of fulfilment of expectations of a patriarchal, heteronormative promise. Often, the pain reported is the result of a body seen as abject, of silences and ambiguities of racialized discourses, of the frequency with which the bodies of black women take the place of scapegoats in racial relations. Pains arising from a homoaffective desire considered socially as undignified, of denial, repression and ambiguity with which they are treated in interpersonal and social relations in the emergence of symbolic attributes perceived as masculine, as well as the internalization of these statements are basis for many of my interlocutors. All these elements are deeply built since the family relationships being reproduced, reworked and reinvented in affective-sexual relationships and with themselves over their life trajectory. Faced with the instability caused by the fear of abandonment and pain, my interlocutors report melancholy,a sense of stagnation and imprisonment, which in turn generate more pain. Upon the possibility of instability and to relive these pains, they seek, on the one hand, to move away from positions and characters that would approach them to the female fragility and the possibility of abandonment and, on the other hand, they draw on principles that generate expected stability and bring them a sense of balance, namely the concepts and fundamentals of heteronormative relations. The text that follows discusses the dynamic linkage between gender, race and sexuality in the mechanism engendered by pain as well as the multiplicity and diversity of creative forms ,coping strategies and the disruption of this dynamic that reifies power relations and legitimizes the exclusionary social structure of the patriarchal and racialized Western society.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:repositorio.unb.br:10482/20311
Date29 May 2015
CreatorsFormiga, Glêides Simone de Figueiredo
ContributorsCarvalho, José Jorge de
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguageEnglish
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
Sourcereponame:Repositório Institucional da UnB, instname:Universidade de Brasília, instacron:UNB
RightsA concessão da licença deste item refere-se ao termo de autorização impresso assinado pelo autor com as seguintes condições: Na qualidade de titular dos direitos de autor da publicação, autorizo a Universidade de Brasília e o IBICT a disponibilizar por meio dos sites www.bce.unb.br, www.ibict.br, http://hercules.vtls.com/cgi-bin/ndltd/chameleon?lng=pt&skin=ndltd sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o texto integral da obra disponibilizada, conforme permissões assinaladas, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data., info:eu-repo/semantics/openAccess

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