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Ler e usar a literatura: alguns artifícios para o envolvimento do leitor / Reading and using literature: some artifices for engaging the reader

Pedro Sette Câmara e Silva 26 February 2015 (has links)
Nesta dissertação investigamos como a ficção envolve o leitor. Para isso, partimos da rejeição a Homero declarada por Calímaco, observando que a suposta diferença entre a literatura preferida pelo público e a literatura preferida pela crítica depende de dois fatores distintos. O primeiro é o simples fato de a crítica ler profissionalmente e o público ler por prazer. O segundo está relacionado à distinção entre recepção e uso da literatura proposta por C.S. Lewis. Na recepção, a obra tende a ser admirada por si; no uso, tende a ser instrumentalizada como suporte para um devaneio em que os desejos do próprio leitor são vicariamente satisfeitos. Observamos que essa devaneio, que Lewis chama de construção egoísta de castelos, e que inclui uma variante mórbida, tem um paralelo na noção girardiana do duplo angélico. Contudo, o devaneio depende da simpatia como definida por Adam Smith, a qual por sua vez depende de certa aprovação moral. Investigamos portanto o tipo de personagem que conquista a aprovação moral do leitor, contrastando os heróis homéricos com os cavaleiros cristãos a fim de verificar como o cristianismo dirige a aprovação moral para as vítimas, fazendo com que os heróis da ficção sejam pessoas perseguidas ou marginalizadas. / In this dissertation we investigate how fiction involves the reader. Starting Callimachuss rejection of Homer, we note that the supposed diference between the literature favoured by the public at large and the literature preferred by critics is actually twofold. First, critics read for business and the public reads for pleasure. Second, as proposed by C.S. Lewis, there is a distinction between the reception and use of literature. In reception, a work tends to be admired in itself, whereas in use it becomes a mere support for a sort of daydreaming in which the readers own desires are vicariously satisfied. We discuss this daydreaming called egotistic castle-building by Lewis, highlighting its morbid variant, which finds a parallel in the Girardian notion of the angelic double, developed from a reading of Proust. Now, as egotistic castle-building in its turn depends on sympathy as defined by Adam Smith, a concept which includes moral approval, we investigate the types of characters who obtain the moral approval of readers, contrasting the warriors from Homers poems with Christian knights in order to show that Christianity directs moral approval towards the victims. In a Christian society, fictional heroes must be people who are persecuted or at least marginalised.
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Ler e usar a literatura: alguns artifícios para o envolvimento do leitor / Reading and using literature: some artifices for engaging the reader

Pedro Sette Câmara e Silva 26 February 2015 (has links)
Nesta dissertação investigamos como a ficção envolve o leitor. Para isso, partimos da rejeição a Homero declarada por Calímaco, observando que a suposta diferença entre a literatura preferida pelo público e a literatura preferida pela crítica depende de dois fatores distintos. O primeiro é o simples fato de a crítica ler profissionalmente e o público ler por prazer. O segundo está relacionado à distinção entre recepção e uso da literatura proposta por C.S. Lewis. Na recepção, a obra tende a ser admirada por si; no uso, tende a ser instrumentalizada como suporte para um devaneio em que os desejos do próprio leitor são vicariamente satisfeitos. Observamos que essa devaneio, que Lewis chama de construção egoísta de castelos, e que inclui uma variante mórbida, tem um paralelo na noção girardiana do duplo angélico. Contudo, o devaneio depende da simpatia como definida por Adam Smith, a qual por sua vez depende de certa aprovação moral. Investigamos portanto o tipo de personagem que conquista a aprovação moral do leitor, contrastando os heróis homéricos com os cavaleiros cristãos a fim de verificar como o cristianismo dirige a aprovação moral para as vítimas, fazendo com que os heróis da ficção sejam pessoas perseguidas ou marginalizadas. / In this dissertation we investigate how fiction involves the reader. Starting Callimachuss rejection of Homer, we note that the supposed diference between the literature favoured by the public at large and the literature preferred by critics is actually twofold. First, critics read for business and the public reads for pleasure. Second, as proposed by C.S. Lewis, there is a distinction between the reception and use of literature. In reception, a work tends to be admired in itself, whereas in use it becomes a mere support for a sort of daydreaming in which the readers own desires are vicariously satisfied. We discuss this daydreaming called egotistic castle-building by Lewis, highlighting its morbid variant, which finds a parallel in the Girardian notion of the angelic double, developed from a reading of Proust. Now, as egotistic castle-building in its turn depends on sympathy as defined by Adam Smith, a concept which includes moral approval, we investigate the types of characters who obtain the moral approval of readers, contrasting the warriors from Homers poems with Christian knights in order to show that Christianity directs moral approval towards the victims. In a Christian society, fictional heroes must be people who are persecuted or at least marginalised.

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