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Os saberes do camponês da floresta: modo de vida, conflitos e etnoconhecimento seringueiro na RESEX Chico Mendes (AC) / The knowledge of the forest peasant: lifestyle, conflicts and knowledge in the RESEX Chico Mendes (AC)Choma, Jeferson Luiz 11 December 2018 (has links)
Nas décadas de 1970 e 1980, a resistência do movimento seringueiro travada na Amazônia contra os planos de expansão do capitalismo conduzidos pelo regime militar resultou na criação das Reservas Extrativistas (RESEX), territórios que garantiram a preservação do modo de vida tradicional e a autonomia econômica e cultural do camponês seringueiro. A criação das RESEX foi uma proposta original no que se refere a construção de um projeto diferente de reforma agrária que respeitasse o modo de vida dos seringueiros e pudesse consolidar sua emergente autonomia camponesa. Naquele momento, o modo de vida florestal das populações seringueiras (ALMEIDA, 2012) orientou a criação destes territórios. A prática da agricultura de subsistência, o fabrico da farinha, a caça e a pesca, os mais diversos usos de cipós, palhas, madeiras e outros materiais da mata, o conhecimento de ervas para curar doenças, as festas, os seres mágicos da floresta, tudo isso, ao lado da extração do látex e da castanha, compõe o modo de vida do seringueiro. Esse conhecimento sobre os múltiplos usos da floresta é fundado naquilo que Porto-Gonçalves (2003) define como uma nova matriz de racionalidade indígeno-cabocla. Tal racionalidade é a base para as condições materiais de sua reprodução alicerçadas nas práticas agroextrativistas, respeitando os ciclos para a sua exploração dentro da capacidade de recuperação das espécies de plantas e animais utilizadas. Mas também possui uma dimensão simbólica e faz da floresta um locus de conformação de sua subjetividade, portanto da cultura e sociabilidade seringueira. Desse modo, as RESEX também foram inovadoras no que concerne a criação de territórios de conservação ambiental no Brasil. Pela primeira vez o homem e natureza não foram percebidos como sujeitos desvinculados, posto que a garantia do acesso à floresta aos seringueiros foi tomada como condição para a conservação dos sistemas ecológicos. Nas últimas décadas, entretanto, as RESEX passaram por significativas transformações. A reforma agrária dos seringais foi transformada em Unidade de Conservação de Uso Sustentável, processo que implicou no surgimento de novos conflitos entre seus moradores e os órgãos de gestão do Estado. O objetivo dessa pesquisa é investigar na Reserva Extrativista Chico Mendes (RECM), no estado Acre, como a dinâmica atual do modo de vida e o conhecimento tradicional dos seringueiros, suas formas de apropriação comum do território e dos recursos naturais, garantem a reprodução camponesa, apesar dos conflitos que essas populações enfrentam diante das atuais políticas públicas implementadas neste território, focadas na valoração econômica de recursos naturais. A pesquisa apoia-se numa perspectiva teórico-metodológica que se inscreve no campo do materialismo histórico que possibilita entender a categoria modo de vida a partir da mediação entre a história social dos grupos estudados e as contradições criadas pelo desenvolvimento desigual do modo de produção capitalista. / Within the 1970s and 1980s the resistence of the seringueiro movement (rubber latex gatherer movement), that took place in Amazonia against the capitalism plans of expansion lead by the military government, originated the Reservas Extrativistas (RESEX -Extractive Reserves) which are pieces of land that guarantee the preservation of a traditional lifestyle as well as the economic and cultural autonomy of the rural seringueiro. The creation of the RESEX was an original proposition as it regarded the construction of a different project of agrarian reform, one that respected the seringueiros lifestyle and that could consolidate its emerging rural autonomy. At that moment, the forest way of life of the seringueiros peoples (ALMEIDA, 2012) oriented the very creation of these territories. The practice of the subsistence agriculture, the making of flour, the hunting and fishing, the most varied uses of liana, straw, wood and other material from the woods, the knowlesge of the herbs to cure diseases, the celebrations, the magical beings, all of that, as well as the extraction of the rubber latex and the Brazil nut, is what makes the seringueiros lifestyle. This knowledge about the multiple uses of the forest is based on that what Pedro-Gonçalves (2003) defines as a new core of the indígenacabocla rationality. Such rationality is the basis to the material conditions of its reproduction supported by the agrarian extrativism practices, respecting the cycles for its exploration within the used plants and animals recovering capacity. It also has a symbolic dimension that makes the forest a locus of confrontation of its subjectivity, therefore of the seringueiros culture and sociability. Thus, the RESEX were also innovating as it referred to the creation of environmental conservation areas in Brazil. For the first time, human and nature were not seen apart from each other as the garantee of the seringueiros access to the forest was considered a condition for conservation of the ecologycal systems. Within the last decades though, the Reservas Extrativistas have suffered significant changes. The agrarian reform of seringais has been transformed in Unidade de Conservação de Uso Sustentável (Conservation Unit of Susteinable Use), a process that caused the raising of new conflicts between its habitants and the management organs of the government. The aims of this research is to investigate in the Reserva Extrativista Chico Mendes (RECM), in Acre, how the recent dynamics in the lifestyle and the seringueiros tradicional knowledge, as well as the common ways of territory and natural resources apropriation garantee the rural reproduction despite the conflicts that theses peoples face due to the recent public politics applied in the area, focusing in the economic value of natural resources. The research relies on the theoretical-metodology perspective of the historical meterialism that allows us to understand the lifestyle category from the mediation between the social history of the studied groups and the contradictions raised by the uneven development of the capitalist ways of production.
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Para a chuva não beber o leite. Soldados da borracha: imigração, trabalho e justiças na Amazônia, 1940-1945 / So that the rain doesn\'t drink the milk. Rubber Soldiers: Immigration, work, and Justice in the Amazon, 1940-1945Costa, Francisco Pereira 28 November 2014 (has links)
parte do povo do Nordeste brasileiro momentos de grandes sofrimentos devido as estiagens que acometeram aquela região. A situação beligerante na Europa que levou a Segunda Guerra Mundial promovida pelo espírito imperialista alemão, instigado por Hitler, levou vários nações à guerra, consequentemente, envolvendo trabalhadores do mundo inteiro direta ou indiretamente. A Amazônia entra nesse conflito a partir da ocupação pelos japoneses da base militar norte-americana em Pearl Habor, no Havaí, o que se desdobrou no fechamento do fornecimento de borracha crua para os norte-americanos proveniente das colônias inglesas da Ásia. A Amazônia passa a ser vista como alternativa para o suprimento dessa matéria-prima para os norte-americanos. Estudos sobre a viabilidade econômica dos investimentos são feitos e acordos são celebrados entre o Brasil e os Estados Unidos da América do Norte, ficando conhecido como os Acordos de Whashington, que visava basicamente o financiamento para a compra do excedente da borracha brasileira. Um obstáculo deveria ser superado: a baixa quantidade de seringueiros para trabalharem na extração do látex e fabrico da borracha. Uma operação denominada batalha da borracha foi colocada em curso, onde o Estado brasileiro aliciou mais de 50 mil trabalhadores, principalmente do Nordeste para as regiões dos altos rios do Acre, Guaporé, Amazonas. Uma propaganda enganosa executada por Chabloz a mando do Estado Novo, contribuiu em parte para arregimentar essa mão de obra. Protegidos por um garantismo trabalhista, vez que, assinaram um termo de compromisso, uma espécie de contrato de trabalho com cláusulas gerais, parecia que Getúlio Vargas conseguira celar com brio e astúcia a proteção aos trabalhadores. Ledo engano, os que vieram para a Amazônia passaram a viver em condições precárias e relações trabalhistas de condições análoga a de escravo. Essa tese é uma resposta à problematização direcionada a entender e responder como os seringueiros acessaram o poder judiciário trabalhista, neste período, a fim de resolver problemas relacionados às relações de trabalho na economia extrativista da borracha. A resposta resulta em duas situações: uma relacionada a um espaço vazio, ou seja, a ausência de fontes para trabalhar e responder à problematização; a outra, é que o Estado Novo e as elites mercantilistas da borracha criaram uma blindagem contra os seringueiros a ponto de cercearem e os impedirem de acessar os órgãos de controle do Estado. E, por fim, a Justiça do Trabalho inexistia na Amazônia. Diante disso, o que se percebeu é que o contrato de trabalho nesse período era uma farsa, não havia nenhuma mediação para garantir aos operários extrativistas os direitos trabalhistas. Na Amazônia a elite da borracha continuava mantendo a ordem e a disciplina. / Between the end of the 1930s and beginning of the 1940s, thousands of workers from the Northeast of Brazil migrated to the Amazon in search of better working and living conditions. At first in a spontaneous shift, and then directed by the Estado Novo in 1940. This shift was intensified by the Washington Accords between Brazil and the United States of America. During World War II, the Axis blocked American access to Asian trade routes and so the United States attempted to replace its normal Asian raw rubber supply with Brazilian rubber. However, the obstacle of scarce labor had to be overcome in order for Amazonia to function as a viable alternative. In response to the challenge, the Brazilian state mounted the Battle of rubber, in which it solicited over fifty thousand workers, principally from the countrys Northeast, to work in the upriver regions of the Acre, Guaporé, and Amazon rivers. By instituting a kind of collective labor contract that included guarantees of workers rights, it seemed that Getúlio Vargas had deftly managed provide for the protection of the so-called rubber soldiers rights. Those who actually came to Amazonia under this happy illusion lived in precarious conditions e and experienced working conditions analogous to slavery. This thesis responds to the problem of how rubber tappers accessed the labor judiciary in order to resolve problems related to labor relations between bosses and estate owners and rubber tappers in the extractive rubber economy during this period. The response resulted in two situations: the first was related to empty space, in other words the absence of outlets (labor complaints) to work on and respond to problems; the other was that the Estado Novo and the mercantilist rubber elites impeded rubber tappers access to state and non-state channels for complaints and denunciations, such as the press. And finally, even if workers had access to it, the labor court was inexistent in the Amazon, or if it did exist, it was inoperative. Thus, we can conclude that the labor contract during this period was a farce and there was no mediation to protect extractive workers rights, since Amazonian rubber elites were charged with maintaining order and discipline. In February of 1946, a Parliamentary Commission of Inquiry was established to investigate the responsibilities of state agents with regard to the neglect and abandonment of the rubber soldiers in forests and cities at the end of the war. The commissions results were disastrous and shameful, and revealed a reinforcement of the Brazilian political tradition of shielding elites and heads of state from the illegality of their actions.
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Para a chuva não beber o leite. Soldados da borracha: imigração, trabalho e justiças na Amazônia, 1940-1945 / So that the rain doesn\'t drink the milk. Rubber Soldiers: Immigration, work, and Justice in the Amazon, 1940-1945Francisco Pereira Costa 28 November 2014 (has links)
parte do povo do Nordeste brasileiro momentos de grandes sofrimentos devido as estiagens que acometeram aquela região. A situação beligerante na Europa que levou a Segunda Guerra Mundial promovida pelo espírito imperialista alemão, instigado por Hitler, levou vários nações à guerra, consequentemente, envolvendo trabalhadores do mundo inteiro direta ou indiretamente. A Amazônia entra nesse conflito a partir da ocupação pelos japoneses da base militar norte-americana em Pearl Habor, no Havaí, o que se desdobrou no fechamento do fornecimento de borracha crua para os norte-americanos proveniente das colônias inglesas da Ásia. A Amazônia passa a ser vista como alternativa para o suprimento dessa matéria-prima para os norte-americanos. Estudos sobre a viabilidade econômica dos investimentos são feitos e acordos são celebrados entre o Brasil e os Estados Unidos da América do Norte, ficando conhecido como os Acordos de Whashington, que visava basicamente o financiamento para a compra do excedente da borracha brasileira. Um obstáculo deveria ser superado: a baixa quantidade de seringueiros para trabalharem na extração do látex e fabrico da borracha. Uma operação denominada batalha da borracha foi colocada em curso, onde o Estado brasileiro aliciou mais de 50 mil trabalhadores, principalmente do Nordeste para as regiões dos altos rios do Acre, Guaporé, Amazonas. Uma propaganda enganosa executada por Chabloz a mando do Estado Novo, contribuiu em parte para arregimentar essa mão de obra. Protegidos por um garantismo trabalhista, vez que, assinaram um termo de compromisso, uma espécie de contrato de trabalho com cláusulas gerais, parecia que Getúlio Vargas conseguira celar com brio e astúcia a proteção aos trabalhadores. Ledo engano, os que vieram para a Amazônia passaram a viver em condições precárias e relações trabalhistas de condições análoga a de escravo. Essa tese é uma resposta à problematização direcionada a entender e responder como os seringueiros acessaram o poder judiciário trabalhista, neste período, a fim de resolver problemas relacionados às relações de trabalho na economia extrativista da borracha. A resposta resulta em duas situações: uma relacionada a um espaço vazio, ou seja, a ausência de fontes para trabalhar e responder à problematização; a outra, é que o Estado Novo e as elites mercantilistas da borracha criaram uma blindagem contra os seringueiros a ponto de cercearem e os impedirem de acessar os órgãos de controle do Estado. E, por fim, a Justiça do Trabalho inexistia na Amazônia. Diante disso, o que se percebeu é que o contrato de trabalho nesse período era uma farsa, não havia nenhuma mediação para garantir aos operários extrativistas os direitos trabalhistas. Na Amazônia a elite da borracha continuava mantendo a ordem e a disciplina. / Between the end of the 1930s and beginning of the 1940s, thousands of workers from the Northeast of Brazil migrated to the Amazon in search of better working and living conditions. At first in a spontaneous shift, and then directed by the Estado Novo in 1940. This shift was intensified by the Washington Accords between Brazil and the United States of America. During World War II, the Axis blocked American access to Asian trade routes and so the United States attempted to replace its normal Asian raw rubber supply with Brazilian rubber. However, the obstacle of scarce labor had to be overcome in order for Amazonia to function as a viable alternative. In response to the challenge, the Brazilian state mounted the Battle of rubber, in which it solicited over fifty thousand workers, principally from the countrys Northeast, to work in the upriver regions of the Acre, Guaporé, and Amazon rivers. By instituting a kind of collective labor contract that included guarantees of workers rights, it seemed that Getúlio Vargas had deftly managed provide for the protection of the so-called rubber soldiers rights. Those who actually came to Amazonia under this happy illusion lived in precarious conditions e and experienced working conditions analogous to slavery. This thesis responds to the problem of how rubber tappers accessed the labor judiciary in order to resolve problems related to labor relations between bosses and estate owners and rubber tappers in the extractive rubber economy during this period. The response resulted in two situations: the first was related to empty space, in other words the absence of outlets (labor complaints) to work on and respond to problems; the other was that the Estado Novo and the mercantilist rubber elites impeded rubber tappers access to state and non-state channels for complaints and denunciations, such as the press. And finally, even if workers had access to it, the labor court was inexistent in the Amazon, or if it did exist, it was inoperative. Thus, we can conclude that the labor contract during this period was a farce and there was no mediation to protect extractive workers rights, since Amazonian rubber elites were charged with maintaining order and discipline. In February of 1946, a Parliamentary Commission of Inquiry was established to investigate the responsibilities of state agents with regard to the neglect and abandonment of the rubber soldiers in forests and cities at the end of the war. The commissions results were disastrous and shameful, and revealed a reinforcement of the Brazilian political tradition of shielding elites and heads of state from the illegality of their actions.
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