O estudo analisa a carreira moral de homens e mulheres alcoólatras e sua repercussão na construção das diferenças e semelhanças de gênero. Para tanto foi realizado um trabalho de campo que consistiu em entrevistas semi-estruturadas com 20 pacientes dez homens e dez mulheres em acompanhamento ambulatorial e/ou internados em um serviço público de saúde no Rio de Janeiro para o tratamento do alcoolismo, além de observações no cotidiano do setor. O conceito de carreira moral (GOFFMAN, 1996) expressa o aspecto fundamental do percurso pela instituição de tratamento no sentido da construção da identidade alcoólatra e da inscrição do alcoolismo como doença. A análise verifica que o alcoolismo é constituído pela articulação entre os planos físico e moral. O primeiro plano designa a construção da noção de alcoolismo como uma doença caracterizada pela perda do controle da vontade de beber. Já o plano moral abarca a dimensão relacional e sócio-cultural no interior da qual o alcoolismo é construído. A moral da vergonha é a vertente privilegiada de acesso à dimensão moral do alcoolismo, que de fato engloba e estrutura a sua medicalização. A vergonha é valorizada como um sentimento positivo que denota a manutenção da responsabilidade diante da desmoralização social provocada pelo uso de bebida. A fisicalização decorrente da carreira moral favorece o enraizamento das noções de alcoolismo-doença e da identidade alcoólatra ao mesmo tempo em que encobre os aspectos morais que regem a construção do alcoolismo. Desse modo, os informantes com inserção de longa data nas instituições de combate ao alcoolismo costumam apresentar maior apropriação daquelas noções se comparados àqueles com percurso de menor duração. Enquanto o plano moral ilumina a complexidade sócio-cultural do alcoolismo, a fisicalização uniformiza as diferenças sociais entre os alcoólatras. Essa questão se reflete na opinião pessoal dos entrevistados a respeito da indiferenciação entre homens e mulheres alcoólatras. Já quando avaliam o julgamento da sociedade sobre ambos, a diferença entre os gêneros é restituída através da consideração de que as mulheres são mais estigmatizadas do que os homens. Observou-se que o drama da mulher alcoólatra privilegia a tensão entre consumo alcoólico e questões do domínio privado, como a dificuldade de conciliar a maternidade ao referido consumo. De maneira mais evidente, o drama dos homens alcoólatras expressa o conflito entre consumo alcoólico e a adequação a um perfil masculino valorizado associado à ética do homem provedor. / The study examines the moral career of alcoholic men and women and its impact on the construction of gender differences and similarities. For this purpose, fieldwork was conducted, consisting of semi-structured interviews with 20 patients ten men and ten women who were either hospitalized or outpatients , of a public health service in the city of Rio de Janeiro, being treated for alcoholism, as well as daily observation of this service. The concept of moral career (GOFFMAN, 1996) expresses the fundamental aspect of the path taken by the institutional treatment towards the construction of an alcoholic identity, and the inclusion of alcoholism as a disease. The analysis finds that alcoholism is constituted by interconnections between physical and moral plans. Whereas the first plan designates the construction of the notion of alcoholism as a disease characterized by loss of control of the will to drink, the moral plan comprises the relational and social-cultural dimensions within which alcoholism is built. The moral of shame is the part of privileged access to the moral dimension of alcoholism, which in fact encompasses and structures its medicalization. Shame is valued as a positive feeling that denotes the maintenance of responsibility towards the social demoralization caused by the use of liquor. The physicalization resulting from the moral career favors the embedding of the concepts of alcoholism-disease and alcoholic-identity, while obscuring the moral aspects that conduct the construction of alcoholism. Thus, the informants with long-time insertion in the institutions dedicated to the fight against alcoholism often have greater ownership of those notions, if compared to those with shorter route. While the moral plan illuminates the socio-cultural complexity of alcoholism, physicalization standardizes social differences amidst alcoholics. This issue is reflected on the interviewees personal opinions about the lack of differentiation between alcoholic men and women. Nonetheless, when evaluating societys judgment on both, the gender difference is refunded by the consideration that women are more stigmatized than men. It was observed that the drama of alcoholic women favors the tension between alcohol consumption and matters of privacy, like the difficulty of simultaneously accommodating motherhood and such consumption. More evidently, the drama of alcoholic men expresses the conflict between alcohol consumption and suitability to a male profile associated with the ethics of the male provider.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/urn:repox.ist.utl.pt:UERJ:oai:www.bdtd.uerj.br:953 |
Date | 26 April 2010 |
Creators | Fernanda de Carvalho Vecchi Alzuguir |
Contributors | Fabiola Rohden, Luiz Fernando Dias Duarte, Sergio Luís Carrara, Jane Araujo Russo, Delma Pessanha Neves |
Publisher | Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, UERJ, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Format | application/pdf, application/pdf |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJ, instname:Universidade do Estado do Rio de Janeiro, instacron:UERJ |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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