O significante cultura tem circulado no meio acadêmico e leigo procurando-se uma certa fixidez na definição de seu significado, tamanha a complexidade e os diversos aspectos que parecem fazer parte desse conceito. Tem-se verificado, na prática de sala de aula de ensino de língua estrangeira, a busca pelo ensino de um recorte de aspectos culturais supostamente inerentes à cultura do outro (KRAMSCH, [1998] 2014; MORAN, 2001; AGAR, [1996] 2002; VALDES et al., [1986] 2001). Tal prática ainda tem sido realizada com base no discurso de uma cultura una e homogênea, pertencente a uma circunscrição geográfica arbitrária e tradicionalmente denominada nação (HALL, [1997] 2015). O mesmo paradigma parece ser seguido por livros didáticos usados em escolas regulares, instituições públicas e privadas e institutos de idiomas no Brasil (PERUCHI; CORACINI, 2003; BOLOGNINI, 1991). Em contrapartida, teorias pós-estruturalistas (BHABHA, [1994] 2013; HALL, [1997] 2015) dirigem-se a uma noção instável, híbrida e heterogênea acerca da ideia de cultura e identidade. Essas teorias analisam não só as consequências do contexto histórico-social da aceleração da globalização nestas últimas décadas mas, principalmente, o descentramento do sujeito ocorrido na modernidade tardia em especial, na segunda metade do século XX. A base de tais paradigmas está alinhada de forma consoante com os principais conceitos da Análise do Discurso pecheutiana (AD), que leva em consideração a relação dinâmica do tripé: linguagem subjetividade ideologia. Por meio de pressupostos discursivos, esta dissertação deseja dirigir seu olhar ao entre-lugar que ocupam os professores de língua inglesa dentro dessa relação e no contexto contemporâneo de ensino dessa língua estrangeira. Havendo, a nosso ver, uma ligação entre a interpelação pela ideologia assim proposta por Althusser (1974) e adotada como um dos principais paradigmas da AD e a influência do contexto cultural na constituição histórico-social do sujeito (RAMOS; FERREIRA, 2016), analisamos as representações de língua, cultura e interculturalidade encontradas nos dizeres de sujeitos-professores de língua inglesa em condições de produção de discurso peculiares, se considerarmos as relações de poder que configuram: entrevistas de trabalho em um instituto de idiomas na cidade de São Paulo. Nosso olhar sobre essa materialidade linguística indica quatro grupos principais de representações: (1) uma presença do que se poderia definir como uma cultura una e homogênea específica a ser ensinada sempre tendo como referência países do Inner Circle de Kachru (1986) que daria suporte ao ensino de inglês como língua estrangeira na práxis em sala de aula; (2) uma demanda pela internalização de aspectos da cultura do outro que resultaria no desenvolvimento de uma competência/habilidade comunicativa intercultural no aprendiz (DE NARDI, 2009); (3) uma naturalização provocada pela ideologia da disseminação da língua inglesa como um sistema neutro e fechado de comunicação, resultando em um amalgamento do significado dos sintagmas lingua franca Global Language (CRYSTAL, [1997] 2003); (4) uma posição de entre-lugar por parte desse profissional refletida no discurso de se considerar peça-chave na intermediação entre o aprendiz e uma cultura-alvo, o que faria do professor um instrumento de disseminação cultural. / The signifier culture has been circulating in both academic and lay contexts in search of reaching a stability to its meaning, such is the complexity and the variety of aspects that seem to entail its concept. In the classroom practice, we have noticed that its teaching is composed of cultural aspects that are supposedly embedded in the culture of the other (KRAMSCH, [1998] 2014; MORAN, 2001; AGAR, [1996] 2002; VALDES et al., [1986] 2001). This practice is still carried on based on the discourse of a unified homogeneous culture, which would belong to an arbitrary geographic perimeter that is traditionally called nation (HALL, [1997] 2015). The same paradigm seems to be followed by textbooks used at regular schools, public and private, and at language institutes in Brazil (PERUCHI; CORACINI, 2003; BOLOGNINI, 1991). Contrary to this view, post-structuralist theories (BHABHA, [1994] 2013; HALL, [1997] 2015) propose an unstable, hybrid and heterogeneous idea of culture and identity. These theories take into consideration not only the consequences of the social-historical context of the fast development of globalization in the last few decades but, ultimately, the decentering of the subject that took place in late modernity mainly in the second half of the 20th century. The basis of this paradigm is coherently aligned with the main concepts of French Discourse Analysis (FDA), which takes into consideration the dynamic relationship of the tripod language subjectivity ideology. Taking these discursive premises into consideration, this research aims at analyzing the in-between space where teachers of English are located in the current context of teaching of this foreign language. As we believe there is a connection between ideological interpellation one of the main paradigms of FDA, proposed by Althusser (1974) and the role of the cultural context in the social-historical constitution of the subject (RAMOS; FERREIRA, 2016), we analyzed representations of language, culture and interculturality found in the oral expression of teacher-subjects of English in peculiar conditions of discourse production, if we consider the power relations that it involves: a job interview at a language institute in the city of São Paulo, Brazil. Our analysis of this linguistic materiality has found four main groups of representations: (1) the presence of what we could define as a specific homogeneous culture to be taught always having countries of Kachrus (1986) Inner Circle as a reference that would permeate the teaching practice in the classroom; (2) a demand for the internalization of cultural aspects that would entail the development of a communicative intercultural competence/ability by the student (DE NARDI, 2009); (3) a naturalization caused by the ideology of the dissemination of the English Language as a neutral and hermetic system of communication, which results in the blending of the meanings of the expressions lingua franca Global Language (CRYSTAL, [1997] 2003); (4) the in-between position of the professional expressed in the discourse of considering him/herself key in the intermediation of the student and the target culture, which would make the teacher an instrument of culture spread.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-11032019-121655 |
Date | 21 September 2018 |
Creators | Beatriz Silva Pinto Jorge |
Contributors | Marisa Grigoletto, Anna Maria Grammatico Carmagnani, Carlos Renato Lopes, Fabiele Stockmans de Nardi Sottili |
Publisher | Universidade de São Paulo, Letras (Estudos Lingüísticos e Literários em Inglês), USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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