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[en] DEMYTHICIZED EMPIRES: RUY DUARTE DE CARVALHO AND THE COLONIAL PAST REWRITTEN / [pt] IMPÉRIOS DESMITIFICADOS: RUY DUARTE DE CARVALHO E O PASSADO COLONIAL REESCRITOISABELITA MARIA CROSARIOL 27 August 2009 (has links)
[pt] Impérios desmitificados: Ruy Duarte de Carvalho e o passado colonial
reescrito parte do propósito de verificar o modo como Ruy Duarte de Carvalho,
ao dialogar n’Os Papéis do Inglês com narrativas coloniais da literatura inglesa e
da literatura portuguesa - com destaque para o romance O coração das trevas e
para o conto O regresso (ambos de Joseph Conrad), bem como para a crônica de
Henrique Galvão intitulada O branco que odiava as brancas -, propõe a reescrita
da história de Angola a partir da perspectiva de um intelectual e cidadão angolano.
Reescrever a história não significa, contudo, nesse contexto, negar ou desmerecer
o valor das narrativas coloniais. Pelo contrário, o que Ruy Duarte de Carvalho nos
mostra é que a problemática se instaura justamente no instante em que um
discurso é tomado como verdade oficial, enquanto os demais são relegados ao
silêncio. Em função disso, n’Os Papéis do Inglês, em vez de proceder à recusa dos
discursos coloniais, o autor propõe para eles uma nova versão, de modo a
evidenciar que a história não está sujeita a uma única interpretação, visto que pode
ser relida, reescrita e reinterpretada por qualquer indivíduo e a qualquer instante.
Este trabalho foi desenvolvido tomando como eixo norteador textos de teóricos da
crítica pós-colonial (como Homi Bhabha, Edward Said, Stuart Hall, Russell
Hamilton, Boaventura de Sousa Santos), obras que analisam a criação literária de
Ruy Duarte de Carvalho, Henrique Galvão e Joseph Conrad, assim como aquelas
que abordam o contexto histórico em que as narrativas desses escritores foram
produzidas. / [en] Demythicized Empires: Ruy Duarte de Carvalho and the colonial past
rewritten has the purpose of verifying the way Ruy Duarte de Carvalho, when
dialoging in Os Papéis do Inglês with colonial narratives from English and
Portuguese Literatures - having the romance Heart of Darkness and the short
story The return (both from Joseph Conrad) in distinction, as well as the
chronicle of Henrique Galvão entitled O branco que odiava as brancas -
suggests the rewriting of Angola’s history from the perspective of an Angolan
intellectual citizen. Rewriting the history does not mean however, in this context,
to deny or lose the merit of the value of the colonial narratives. On the contrary,
what Ruy Duarte de Carvalho shows us is that the issue is settled exactly in the
moment when the speech is taken as the official truth, while the others are
consigned to silence. Due to this, in Os Papéis do Inglês, instead of proceeding
with the refusal of the colonial speeches, the author proposes them a new version
in order to evidence that history is not exposed to one only interpretation, since it
can be re-read and re-interpreted by any individual and at any time. This work was
developed having its focus on the texts of the post-colonial theorists (as Homi
Bhabha, Edward Said, Stuart Hall, Russell Hamilton, Boaventura de Sousa
Santos), works that analyze the literary creation of Ruy Duarte de Carvalho,
Henrique Galvão and Joseph Conrad, as well as the ones that approach the
historical context in which these writers’ narratives were produced.
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[en] PROSPERS LEGACY: AN INVESTIGATION ON RUY DUARTE DE CARVALHOS NARRATIVE PROJECT / [pt] O LEGADO DE PRÓSPERO: UMA INVESTIGAÇÃO DO PROJETO NARRATIVO DE RUY DUARTE DE CARVALHOISABELITA MARIA CROSARIOL 10 September 2013 (has links)
[pt] O legado de Próspero: uma investigação do projeto narrativo de Ruy
Duarte de Carvalho parte do estudo da peça de William Shakespeare intitulada A
tempestade para verificar, segundo uma perspectiva pós-colonial, a abordagem da
colonização nas narrativas do escritor angolano Ruy Duarte de Carvalho.
Publicadas após a independência de Angola, nelas a experiência da colonização
não se mostra como um processo plenamente findado, visto que suas marcas
ecoam no presente. Assim, Próspero e Caliban (personagens da peça
shakespeariana considerados, a partir da década de 1950, como respectivos
símbolos do colonizador e do colonizado) e a simbologia da tempestade são aqui
teoricamente retomados na tentativa de elucidar os novos impasses vivenciados
após a descolonização angolana. Para se estabelecer a aproximação entre a peça
de William Shakespeare e as narrativas de Ruy Duarte de Carvalho, levou-se em
conta o diálogo teórico proposto pelo autor angolano ao nomear sua trilogia como
Os Filhos de Próspero (aludindo ao processo de mestiçagem física e cultural
advindo da colonização), bem como a recorrência temática da tempestade em sua
criação artística. Nesta Tese, além das narrativas que compõem a trilogia Os
filhos de Próspero – Os papeis do inglês (2000), As paisagens propícias (2005) e
A terceira metade (2009) –, são também analisadas as obras Como se o mundo
não tivesse leste (1977), Vou lá visitar pastores (1999) e Desmedida (2006). / [en] Prospers legacy: an investigation Ruy Duarte de Carvalhoss narrative
Project analyses, upon a post colonial point of view, William Shakespeares play
entitled The Tempest, to verify the colonization approach in the narratives of the
Angolan writer Ruy Duarte de Carvalho. Published after the independence of
Angola, these works dont show the colonization experience as a fully complete
process since its traces reverberate in the present time. Thus, Prospero and
Caliban (Shakespearean characters considered after the 1950s as respective
symbols of the colonizer and the colonized) and the tempest symbology are
theoretically discussed, in this research, to elucidate the new obstacles
experienced after the Angolan decolonization. To establish the approach between
Shakespeares play and Ruy Duarte de Carvalhoss narratives, the theoretical
dialog proposed by the Angolan author naming his trilogy as Os filhos de
Próspero (referring to the physical and cultural miscegenation process as a result
of the colonization) was considered as well as the tempest thematic recurrence in
his artistic creation. In this thesis, besides the narrations that set Os filhos de
Próspero – Os papeis do inglês (2000), As paisagens propícias (2005) e A
terceira metade (2009) –, Como se o mundo não tivesse leste (1977), Vou lá
visitar pastores (1999) e Desmedida (2006) are also analyzed.
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[en] ABOUT EXISTING PASSAGES SPACES: THE MONTAGE DESMEDIDA FROM RUY DUARTE CARVALHO / [pt] SOBRE EXISTIR ENTRE ESPAÇOS DE PASSAGEM: A MONTAGEM DESMEDIDA DE RUY DUARTE CARVALHOMARIA LUCIA MARTINS DA CUNHA 25 July 2017 (has links)
[pt] Esta dissertação parte do pressuposto de que os regimes de visibilidade apontados por Jacques Rancierè e o conceito de montagem de Didi-Huberman oferecem instrumentos para a análise do texto Desmedida, de 2006, de Ruy Duarte de Carvalho. O objetivo central desta dissertação é o de evidenciar que esta produção artística se afirma, ao mesmo tempo, como instrumento de escrita interventiva, inspirada por três racionalidades distintas: política, pastoril e fílmica. Para tal fim, percebe-se esta objetivação artística como espaço de resistência, reação e enfrentamento de racionalidades hegemônicas e suas imagens discursivas, produzidas para limitar existências em diferentes etapas da experiência colonial, permanecendo ainda como colonialidades contemporâneas. / [en] This dissertation starts from the Jacques Rancierè s visibility regimes and from the Didi-Huberman s concept of montage to the analysis of the text Desmedida, 2006, by Ruy Duarte de Carvalho. The central objective is to evidence this artistic production like an instrument of interventional writing, inspired by three different logics: political, native communities and cinematographic. For that purpose, it s noted that artistic manifestation as a space of resistance, reaction and confrontation to discursive images generated with the intention of limiting existences in different times of the colonial domination, as well as the contemporary colonialities.
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[pt] A PALAVRA-PAISAGEM E OS TENSIONAMENTOS DA BIBLIOTECA COLONIAL: UM ESTUDO SOBRE AS COSMOGONIAS DA ESCRITA DE RUY DUARTE DE CARVALHO / [es] LA PALABRA-PAISAJE Y LAS TENSIONES DE LA BIBLIOTECA COLONIAL: UN ESTUDIO SOBRE LAS COSMOGONÍAS DE LA ESCRITURA DE RUY DUARTE DE CARVALHO / [en] THE WORD-LANDSCAPE AND THE TENSIONS OF THE COLONIAL LIBRARY: A STUDY ON THE COSMOGONIES OF THE WRITING OF RUY DUARTE DE CARVALHOJULIANA CAMPOS ALVERNAZ 07 November 2022 (has links)
[pt] A tese A palavra-paisagem e os tensionamentos da biblioteca colonial: um
estudo sobre as cosmogonias da escrita de Ruy Duarte de Carvalho tem como
objetivo uma investigação da produção literária do escritor e intelectual angolano
Ruy Duarte de Carvalho, tendo em vista as diferentes nuances da paisagem
corporificada e os impasses do atravessamento da biblioteca ocidental para travar
enfrentamentos a emanações de um sistema civilizatório global. Essas nuances são
matrizes de análise, respectivamente, para os dois últimos volumes da trilogia Os
filhos de Próspero: As paisagens Propícias (2005) e A terceira metade (2009). As
escritas de meia-ficção duarteanas são construídas às vistas do leitor, isto é, o
autor-narrador encena o processo de escrita, a partir de procedimentos literários e
narrativos que teorizam e referenciam sua própria obra. Enquanto as histórias de
si, entrelaçadas e confundíveis com a do outro (personagem principal), jogam com
paisagens em constante movimento, devido à viagem, com o eu-narrador e com
o outro, tanto o outro considerado apenas o diferente de si (como os
personagens fronteiriços protagonistas da trilogia Os filhos de Próspero) quanto o
outro distinguido pelo autor em textos teóricos, isto é, as sociedades tradicionais
que não tiveram seus costumes e cosmovisão totalmente modificados pelo
colonialismo. A partir disso surgiram questionamentos em relação ao que e como
o triângulo relacional eu-outro-espaço influi e contribui para outros significados
nas obras de Ruy Duarte de Carvalho. Será que as paisagens podem indicar a
cosmovisão desse Outro? Como pensar o pós-colonial a partir de uma
experiência europeia na ficção? Depois da trajetória de errâncias metodológicas
da pesquisa e da leitura cerrada dos dois romances e demais obras do autor,
depreendeu-se que, de um lado, a palavra-paisagem distingue-se, em certo grau,
das teorias da geografia e filosofia em torno da paisagem, visto que se pode
apreender paisagens epistêmicas decorrentes de mundivisões pastoris interferidas
pelas epistemes ocidentais. De outro lado e de maneira similar, parece haver uma
disputa de sentidos da ciência por meio de uma polifonia epistemológica, na qual
comparece um embotamento dos limites da ciência ocidental e da biblioteca
colonial, que se mistura às teorias de cosmogonias pastoris encenadas pelos
personagens principais, Severo e Trindade. A questão do poder e dos ângulos nos
quais o olhar repousa atravessa as duas abordagens, tanto a epistemologia da
paisagem quanto a dos saberes, resultando em romances de tramas complexas que
desfazem dicotomias por meio de cosmovisões heterogêneas, em um jogo literário
e poético de alteridade que se volta para a interlocução em vez de representação. / [en] The thesis The word-landscape and the tensions of the colonial library: a study on
the cosmogonies of the writing of Ruy Duarte de Carvalho aims to investigate the
literary production of the Angolan writer and intellectual Ruy Duarte de Carvalho,
considering the nuances of the landscape embodied and the impasses of crossing
the western library in order to facing the emanations of a global civilizing system.
These nuances are analysis matrices of, respectively, the last two volumes of the
trilogy Os filhos de Próspero: As paisagens propícias (2005) and A terceira
metade (2009). Duarte s half-fiction writings are constructed before the eyes of
the reader, in other words, the author-narrator depictures the writing process,
based on literary and narrative procedures that theorize and reference his own
work. While the stories of the self, intertwined and confused with the other (main
character), play with moving landscapes, due to the trip, with the I-narrator and
with the other, as much the other considered only the different from the self (as
the borders characters protagonists of the trilogy Os filhos de Próspero) as the
other distinguished by the author in theoretical texts as traditional societies that
did not have their customs and cosmovision totally modified by colonialism.
Thenceforward, the research emerges questions in relation to why and how the
relational triangle I-other-space contributes to other meanings in the works of
Ruy Duarte de Carvalho. Can landscapes indicate the cosmovision of this
Other? How to think about the post-colonial from an European experience in
fiction? After the path of methodological deviations of the research and the close
reading of the two novels and other works of the author, on the one hand, the
word-landscape somehow differs from the theories of geography and philosophy
about the landscape, since that one can apprehend epistemic landscapes arising
from pastoral worldviews interfered with by Western epistemes. On the other
hand, and in a similar way, there seems to be a dispute over the meanings of
science through an epistemological polyphony, in which a blunting of western
science and the colonial library appears, which mixes with the theories of
pastoral cosmogonies depicturing by the main characters, Severo and Trindade.
The question of power and the angles on which the gaze rests crosses the two
approaches in both the epistemology of the landscape and the knowledge. As a
result, the novels have complex plots that undo dichotomies through
heterogeneous worldviews, in a literary and poetic game of otherness that turns to
interlocution rather than representation. / [es] La tesis La palabra-paisaje y las tensiones de la biblioteca colonial: un estudio
sobre las cosmogonías de la escritura de Ruy Duarte de Carvalho tiene como
objetivo una investigación de la producción literaria del escritor e intelectual
angoleño Ruy Duarte de Carvalho, en vista de la diferentes matices del paisaje
encarnado y los callejones sin salida de cruzar la biblioteca occidental para
enfrentar las emanaciones de un sistema civilizatorio global. Estos matices son
matrices de análisis, respectivamente, para los dos últimos volúmenes de la
trilogía Os filho de Próspero: Los paisajes de las propícias (2005) y La tercera
mitad (2009). Los escritos de semificción de Duarte se construyen en la mirada
del lector, es decir, el autor-narrador escenifica el proceso de escritura, a partir de
procedimientos literarios y narrativos que teorizan y referencian su propia obra.
Mientras las historias del yo, entrelazadas y confundidas con la del otro
(protagonista), juegan con paisajes en constante movimiento, debido al viaje, con
el yo-narrador y con el otro, ambos considerados sólo lo diferente del yo
(como los personajes fronterizos protagonistas de la trilogía Os filho de Próspero)
y el otro distinguidos por el autor en los textos teóricos, es decir, sociedades
tradicionales que no tuvieron sus costumbres y cosmovisión totalmente
modificadas por el colonialismo . A partir de ahí, surgieron interrogantes en
relación a qué y cómo el triángulo relacional yo-otro-espacio influye y contribuye
para otros sentidos en la obra de Ruy Duarte de Carvalho. Pueden los paisajes
indicar la cosmovisión de este Otro? Cómo pensar lo poscolonial desde una
experiencia europea en la ficción? Tras la trayectoria de divagaciones
metodológicas de la investigación y la lectura atenta de las dos novelas y otras
obras del autor, se infirió que, por un lado, la palabra-paisaje difiere, en cierta
medida, de las teorías de la geografía y filosofía en torno al paisaje, ya que es
posible aprehender paisajes epistémicos resultantes de cosmovisiones pastoriles
interferidas por las epistemes occidentales. Por otro lado, y de manera similar,
parece haber una disputa sobre los significados de la ciencia a través de una
polifonía epistemológica, en la que aparece un desdibujamiento de los límites de
la ciencia occidental y la biblioteca colonial, que se mezcla con las teorías de
cosmogonías pastoriles puestas en escena por los personajes principales, Severo y
Trindade. La cuestión del poder y los ángulos sobre los que reposa la mirada cruza
ambos enfoques, tanto el de la epistemología del paisaje como el del saber, dando
como resultado novelas con tramas complejas que deshacen dicotomías a través
de cosmovisiones heterogéneas, en un juego literario y poético de alteridad.
recurre a la interlocución más que a la representación.
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[en] IN SEARCH OF THE THIRD SHORE: TRACES OF THE SERTÃO IN THE BRAZILIAN SYMBOLIC PRODUCTION FROM MODERNITY TO CONTEMPORANEITY / [pt] À PROCURA DA TERCEIRA MARGEM: RASTROS DO SERTÃO NA PRODUÇÃO SIMBÓLICA BRASILEIRA DA MODERNIDADE À CONTEMPORANEIDADECINTIA BORGES ALMEIDA DA FONSECA 02 July 2024 (has links)
[pt] Com bordas móveis, o sertão parece ajustar-se à plasticidade imaginária do
seu tempo, encenando em seu território disputas estéticas, éticas e políticas que o
demarcam, forjando novas e sempre fluidas fronteiras para a região. Este trabalho
propõe um percurso crítico pela cartografia simbólica do sertão, da modernidade à
contemporaneidade, seguindo o traçado proposto por alguns escritores e um
cineasta que forjaram imagens constituintes da região. A análise parte do esforço
empreendido por artistas que, em tempos e modos distintos, ousaram aproximar
paisagem e linguagem para estabelecer – ou propositalmente desbordar – um
esboço e um contorno para o sertão. A pesquisa se inicia pelos restos de um sertão
monumental, tecido e destecido por Euclides da Cunha e Guimarães Rosa. A
proposta é analisar os resíduos da escrita de Os sertões – ou o que ficou perdido
entre anotações dos textos marginais e excesso de referências teóricas – para chegar
à marginalia produzida por Guimarães Rosa durante a leitura da obra máxima de
Euclides e às anotações de viagem coletadas pelo autor mineiro para a escrita de
Grande sertão: veredas. Lidos em diálogo, Euclides da Cunha poderia ser o
viajante letrado para quem o protagonista de Guimarães Rosa narra o que ficou
submerso pelo projeto republicano de silenciamento histórico, fazendo ouvir o
silêncio, o instável e o indomável, em uma reflexão radical dos limites do
pensamento e da linguagem. Puxando o fio de um sertão feito de letras, investigam-se autoras que reviram do avesso esse interior estranho e estrangeiro ao restante do
país deslocando-o para as margens das grandes cidades e de existências miseráveis;
que se esforçam para circunscrever o vazio demarcando-o com palavras, enquanto
revelam a condição estrutural da falta e do impossível de (d)escrever. Clarice
Lispector (A hora da estrela), Marilene Felinto (As mulheres de Tijucopapo) e
Carolina Maria de Jesus (Quarto de despejo) narram as marcas deixadas por um
sertão que chegou à beira das cidades, invadiu ruelas, quartos e barracos na periferia
das metrópoles, tatuou corpos e destinos dos herdeiros de uma diáspora.
Contraditoriamente, a mesma paisagem que convoca à demarcação de fronteiras é
também um convite à ultrapassagem, capaz de pôr em xeque a delimitação de suas
margens. Nesse sentido, o lusoangolano Ruy Duarte de Carvalho (Desmedida –
Luanda – São Paulo – São Francisco e volta) e o cineasta Glauber Rocha (Deus e
o diabo na terra do sol) propõem-se a explorar um mais além que escapa por entre
as linhas, cartográficas ou simbólicas; um espaço que porta a dimensão do
inalcançável, impulso ao movimento e à travessia. Leitores de Guimarães Rosa e
de Euclides da Cunha, ambos se colocam em cena, suturando corpo e linguagem,
para produzirem obras de borda – ou litorâneas – que marcam o encontro entre
campos híbridos e heterogêneos, preservando suas singularidades. Terceira
margem. / [en] With shifting borders, the sertão (backlands) seems to adjust to the imaginary
plasticity of its time, staging aesthetic, ethical and political disputes in its territory
that demarcate it, forging new and ever-fluid borders for the region. This work
proposes a critical journey through the symbolic cartography of the sertão, from
modernity to contemporaneity, following the path proposed by some writers and a
filmmaker who have forged images of the region. The analysis is based on the
efforts made by artists who, at different times and in different ways, dared to bring
landscape and language together to establish - or purposely blur - an outline and a
contour for the sertão. The research begins with the remains of a monumental
sertão, woven and torn apart by Euclides da Cunha and Guimarães Rosa. The
proposal is to analyze the residues of the writing of Os sertões - or what was lost
between notes from marginal texts and an excess of theoretical references - to arrive
at the marginalia produced by Guimarães Rosa while reading Euclides greatest
work and the travel notes collected by the Minas Gerais author for the writing of
Grande sertão: veredas. Read in dialogue, Euclides da Cunha could be the literate
traveler to whom Guimarães Rosa s protagonist narrates what was submerged by
the republican project of historical silencing, making silence, the unstable and the
indomitable heard, in a radical reflection on the limits of thought and language.
Pulling on the thread of a sertão made of letters, we investigate authors who have
turned this strange interior inside out, foreign to the rest of the country, moving it
to the margins of big cities and miserable existences; who strive to circumscribe the
emptiness by demarcating it with words, while revealing the structural condition of
lack and the impossibility of writing. Clarice Lispector (A hora da estrela),
Marilene Felinto (As mulheres de Tijucopapo) and Carolina Maria de Jesus (Quarto
de despejo) narrate the marks left by a sertão that arrived on the edge of cities,
invaded alleys, rooms and shacks on the outskirts of metropolises, tattooing the
bodies and destinies of the heirs of a diaspora. Contradictorily, the same landscape
that calls for the demarcation of borders is also an invitation to go beyond, capable
of calling into question the delimitation of its margins. In this sense, the Portuguese-Angolan Ruy Duarte de Carvalho (Desmedida - Luanda - São Paulo - São
Francisco e volta) and the filmmaker Glauber Rocha (Deus e o diabo na terra do
sol) set out to explore a beyond that escapes between the lines, cartographic or
symbolic; a space that carries the dimension of the unreachable, an impulse to
movement and crossing. Readers of Guimarães Rosa and Euclides da Cunha, both
put themselves on the scene, suturing body and language, to produce border - or
coastal - works that mark the encounter between hybrid and heterogeneous fields,
preserving their singularities. Third margin.
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