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(Re)traduções brasileiras de Mon cur mis à nu, de Charles Baudelaire / Charles Baudelaire\'s Mon coeur mis à nu Brazilian retranslationsOliveira, Thiago Mattos de 22 June 2015 (has links)
Baudelaire dedicou-se a Mon coeur mis à nu de 1859 a 1865. Tendo no horizonte as Confessions de Jean-Jacques Rousseau e o projeto nunca realizado My heart laid bare, de Edgar Allan Poe (de onde, aliás, o título Mon coeur mis à nu), Baudelaire tem consciência de que a realização do seu projeto não será fácil, expressando a dificuldade, e por vezes a própria sensação de impossibilidade, em muitas das suas cartas pessoais. Baudelaire morre em 1867, não concluindo o projeto. O que deixa são notas, planos de texto, parágrafos avulsos, trechos a serem incluídos em textos futuros, listas de assuntos a tratar. Poulet-Malassis, amigo e principal editor de Baudelaire, fica encarregado de ordenar e encadernar os manuscritos referentes a Mon coeur mis à nu. Já a primeira publicação integral ficará a cargo de Eugène Crépet, que escolhe chamar o texto, se é texto, de Journaux intimes, interpretando (erroneamente) um projeto literário, ou, em certo sentido, um texto literário em processo de escritura, como diário. No Brasil, dispomos de quatro (re)traduções: Meu coração desnudado (Nova Fronteira, 1981), de Aurélio Buarque de Holanda; Meu coração a nu (Nova Aguilar, 1995), de Fernando Guerreiro; Meu coração desnudado (Autêntica, 2009), de Tomaz Tadeu; e Diários íntimos (Caminho de Dentro, 2013), de Jonas Tenfen. Este trabalho tem como objetivo central a análise dessas (re)traduções. Pretende-se discutir ainda a noção de retradução nos estudos da tradução, percorrendo autores como Berman (1990), Gambier (1994; 2012), Ladmiral (2012) etc.; e revisar a crítica literária sobre Mon coeur mis à nu, buscando problematizar tanto a postura de enxergá-lo como diário íntimo quanto a tendência de encerrá-lo em uma poética do rascunho (DIDIER, 1973) relativamente estanque e estável. Compreendendo a retradução como um espaço ético (CARDOZO, 2007) de relações (tensas) entre modos de ler e dizer o texto, buscamos identificar as posturas tradutórias em jogo em cada (re)tradução brasileira, isto é, de que maneira entendem e dão a ver Mon coeur mis à nu no sistema literário brasileiro. Para isso, recorremos não somente às próprias (re)traduções, mas também ao material paratextual (RISTERUCCI-ROUDNICKY, 2008), lugares em que os tradutores apresentam mais explicitamente seus entendimentos não apenas do texto em tradução, mas do próprio ato tradutório. Identificando em Mon coeur mis à nu uma textualidade altamente movente, fundamentada em tensões insolúveis (projeto e obra; processo e texto), percebemos que as (re)traduções brasileiras atenuam, ou mesmo apagam, essas tensões, fazendo escolhas tradutórias e editoriais que homogeneízam o texto, suprimem suas variabilidades e virtualidades e inscrevem Mon coeur mis à nu na memória do diário íntimo, da escritura puramente confessional, cujo valor reside mais no pessoal do que nas suas tensões e contradições, latências e potencialidades. Apontamos, como desdobramento, a necessidade de uma (re)tradução brasileira que se baseie exatamente na dimensão processual e variável de Mon coeur mis à nu, não na busca de restituir um suposto processo cronológico, mas na tentativa de construir, via tradução, um espaço escritural (GALÍNDEZ-JORGE, 2009) em que o leitor possa ser confrontado exatamente com esse assombramento e com essa monstruosidade (GALÍNDEZ-JORGE, 2010) que estão (em latência) na base mesma de Mon coeur mis à nu. / Baudelaire dedicated himself to Mon coeur mis à nu from 1859 until 1865. With the horizons of Jean-Jacques Rousseaus Confessions and the always unconcluded Edgard Allan Poes project My heart laid bare (from where Mon coeur mis à nus title comes, by the way), Baudelaire is aware that the accomplishment of his own project will not be easy, and he expresses it, sometimes, by writing down the very sense of impossibility in many of his personal letters. Baudelaire dies in 1867, leaving his project unconcluded. What remains are notes, scraps, unattached paragraphs, sequences to be included in future texts, subject lists do be dealed with. Poulet-Malassis, Baudelaires friend and main editor, was in charge of giving order to and binding the manuscripts referring Mon coeur mis à nu. The first full edition, however, was treated by Eugène Crépet, that chooses to call the text, if so, Journaux intimes, interpreting (mistakenly) it as a literary project or, in a certain way, a literary text in progress of being written, like a journal. In Brazil, we are offered with four (re)translations: Meu coração desnudado (Nova Fronteira, 1981), by Aurélio Buarque de Holanda; Meu coração a nu (Nova Aguilar, 1995), by Fernando Guerreiro; Meu coração desnudado (Autêntica, 2009), by Tomaz Tadeu; and Diários íntimos (Caminho de Dentro, 2013), by Jonas Tenfen. The present work aims mainly to analyze these (re)translations. It is also intended to (a) discuss the notion of retranslation in translation studies, by means of authors such as Berman (1990), Gambier (1994; 2012), Ladmiral (2012) etc., and (b) to review the literary criticism on Mon coeur mis à nu, trying to question both the attitude of interpreting it as an intimate journal and the tendency to categorizing it definitely as a draft poetics (DIDIER, 1973), relatively impervious and stable. If retranslation is believed to be an ethical space (CARDOZO, 2007) of (tense) relations among ways of reading and saying the text, we seek to identify the translation attitudes at stake in each Brazilian (re)translation, that is, answering in which way they understand and reveal Mon coeur mis à nu at the Brazilian literary system. For this purpose, we employ not only (re)translations themselves, but also paratextual materials (RISTERUCCI-ROUDNICKY, 2008), places where translators present more explicitly their comprehension of the translation in progress, but also of the translational gesture itself. Identifying in Mon coeur mis à nu a highly moving textuality, based in unsolvable tensions (project and work; process and text), we do realize that Brazilian (re)translations mitigate, or even erase, these tensions, making translational and editorial choices that homogenize the text, suppress their variabilities and virtualities, and inscribe Mon coeur mis à nu in the memory of the intimate journals, of the purely confessional writings, whose value resides more in the personal aspect than in its tensions and contradictions, latencies and potentialities. As an unfolding of this analysis, we point out the need of a Brazilian (re)translation based exactly on the procedural and variable dimension of Mon coeur mis à nu, not in quest of restoring an allegedly chronological process, but as an attempt of building, through translation, a scriptural space (GALÍNDEZ-JORGE, 2009) in which the reader can be confronted precisely with this haunting and with this monstrosity (GALÍNDEZ-JORGE, 2010) that are (latently) in Mon coeur mis à nu basis itself.
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(Re)traduções brasileiras de Mon cur mis à nu, de Charles Baudelaire / Charles Baudelaire\'s Mon coeur mis à nu Brazilian retranslationsThiago Mattos de Oliveira 22 June 2015 (has links)
Baudelaire dedicou-se a Mon coeur mis à nu de 1859 a 1865. Tendo no horizonte as Confessions de Jean-Jacques Rousseau e o projeto nunca realizado My heart laid bare, de Edgar Allan Poe (de onde, aliás, o título Mon coeur mis à nu), Baudelaire tem consciência de que a realização do seu projeto não será fácil, expressando a dificuldade, e por vezes a própria sensação de impossibilidade, em muitas das suas cartas pessoais. Baudelaire morre em 1867, não concluindo o projeto. O que deixa são notas, planos de texto, parágrafos avulsos, trechos a serem incluídos em textos futuros, listas de assuntos a tratar. Poulet-Malassis, amigo e principal editor de Baudelaire, fica encarregado de ordenar e encadernar os manuscritos referentes a Mon coeur mis à nu. Já a primeira publicação integral ficará a cargo de Eugène Crépet, que escolhe chamar o texto, se é texto, de Journaux intimes, interpretando (erroneamente) um projeto literário, ou, em certo sentido, um texto literário em processo de escritura, como diário. No Brasil, dispomos de quatro (re)traduções: Meu coração desnudado (Nova Fronteira, 1981), de Aurélio Buarque de Holanda; Meu coração a nu (Nova Aguilar, 1995), de Fernando Guerreiro; Meu coração desnudado (Autêntica, 2009), de Tomaz Tadeu; e Diários íntimos (Caminho de Dentro, 2013), de Jonas Tenfen. Este trabalho tem como objetivo central a análise dessas (re)traduções. Pretende-se discutir ainda a noção de retradução nos estudos da tradução, percorrendo autores como Berman (1990), Gambier (1994; 2012), Ladmiral (2012) etc.; e revisar a crítica literária sobre Mon coeur mis à nu, buscando problematizar tanto a postura de enxergá-lo como diário íntimo quanto a tendência de encerrá-lo em uma poética do rascunho (DIDIER, 1973) relativamente estanque e estável. Compreendendo a retradução como um espaço ético (CARDOZO, 2007) de relações (tensas) entre modos de ler e dizer o texto, buscamos identificar as posturas tradutórias em jogo em cada (re)tradução brasileira, isto é, de que maneira entendem e dão a ver Mon coeur mis à nu no sistema literário brasileiro. Para isso, recorremos não somente às próprias (re)traduções, mas também ao material paratextual (RISTERUCCI-ROUDNICKY, 2008), lugares em que os tradutores apresentam mais explicitamente seus entendimentos não apenas do texto em tradução, mas do próprio ato tradutório. Identificando em Mon coeur mis à nu uma textualidade altamente movente, fundamentada em tensões insolúveis (projeto e obra; processo e texto), percebemos que as (re)traduções brasileiras atenuam, ou mesmo apagam, essas tensões, fazendo escolhas tradutórias e editoriais que homogeneízam o texto, suprimem suas variabilidades e virtualidades e inscrevem Mon coeur mis à nu na memória do diário íntimo, da escritura puramente confessional, cujo valor reside mais no pessoal do que nas suas tensões e contradições, latências e potencialidades. Apontamos, como desdobramento, a necessidade de uma (re)tradução brasileira que se baseie exatamente na dimensão processual e variável de Mon coeur mis à nu, não na busca de restituir um suposto processo cronológico, mas na tentativa de construir, via tradução, um espaço escritural (GALÍNDEZ-JORGE, 2009) em que o leitor possa ser confrontado exatamente com esse assombramento e com essa monstruosidade (GALÍNDEZ-JORGE, 2010) que estão (em latência) na base mesma de Mon coeur mis à nu. / Baudelaire dedicated himself to Mon coeur mis à nu from 1859 until 1865. With the horizons of Jean-Jacques Rousseaus Confessions and the always unconcluded Edgard Allan Poes project My heart laid bare (from where Mon coeur mis à nus title comes, by the way), Baudelaire is aware that the accomplishment of his own project will not be easy, and he expresses it, sometimes, by writing down the very sense of impossibility in many of his personal letters. Baudelaire dies in 1867, leaving his project unconcluded. What remains are notes, scraps, unattached paragraphs, sequences to be included in future texts, subject lists do be dealed with. Poulet-Malassis, Baudelaires friend and main editor, was in charge of giving order to and binding the manuscripts referring Mon coeur mis à nu. The first full edition, however, was treated by Eugène Crépet, that chooses to call the text, if so, Journaux intimes, interpreting (mistakenly) it as a literary project or, in a certain way, a literary text in progress of being written, like a journal. In Brazil, we are offered with four (re)translations: Meu coração desnudado (Nova Fronteira, 1981), by Aurélio Buarque de Holanda; Meu coração a nu (Nova Aguilar, 1995), by Fernando Guerreiro; Meu coração desnudado (Autêntica, 2009), by Tomaz Tadeu; and Diários íntimos (Caminho de Dentro, 2013), by Jonas Tenfen. The present work aims mainly to analyze these (re)translations. It is also intended to (a) discuss the notion of retranslation in translation studies, by means of authors such as Berman (1990), Gambier (1994; 2012), Ladmiral (2012) etc., and (b) to review the literary criticism on Mon coeur mis à nu, trying to question both the attitude of interpreting it as an intimate journal and the tendency to categorizing it definitely as a draft poetics (DIDIER, 1973), relatively impervious and stable. If retranslation is believed to be an ethical space (CARDOZO, 2007) of (tense) relations among ways of reading and saying the text, we seek to identify the translation attitudes at stake in each Brazilian (re)translation, that is, answering in which way they understand and reveal Mon coeur mis à nu at the Brazilian literary system. For this purpose, we employ not only (re)translations themselves, but also paratextual materials (RISTERUCCI-ROUDNICKY, 2008), places where translators present more explicitly their comprehension of the translation in progress, but also of the translational gesture itself. Identifying in Mon coeur mis à nu a highly moving textuality, based in unsolvable tensions (project and work; process and text), we do realize that Brazilian (re)translations mitigate, or even erase, these tensions, making translational and editorial choices that homogenize the text, suppress their variabilities and virtualities, and inscribe Mon coeur mis à nu in the memory of the intimate journals, of the purely confessional writings, whose value resides more in the personal aspect than in its tensions and contradictions, latencies and potentialities. As an unfolding of this analysis, we point out the need of a Brazilian (re)translation based exactly on the procedural and variable dimension of Mon coeur mis à nu, not in quest of restoring an allegedly chronological process, but as an attempt of building, through translation, a scriptural space (GALÍNDEZ-JORGE, 2009) in which the reader can be confronted precisely with this haunting and with this monstrosity (GALÍNDEZ-JORGE, 2010) that are (latently) in Mon coeur mis à nu basis itself.
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A \'hipótese da retradução\' pelas modalidades tradutórias, nas traduções para a língua inglesa de A paixão segundo G.H. / The retranslation hypothesis verified by modalities of translation, in two English translations of The Passion According to G.H.Widman, Julieta 30 September 2016 (has links)
O principal objetivo deste trabalho é verificar quantitativamente a chamada hipótese da retradução de Berman (1990), através do Método das Modalidades de Tradução (MMT), elaborado por Aubert (1977, 1998), derivado do modelo pedagógico de procedimentos técnicos da tradução de Vinay e Darbelnet (1958), num estudo de caso de duas traduções para a língua inglesa do livro A Paixão Segundo G. H., escrito por Clarice Lispector em 1964, traduzido por Ronald W. de Sousa, em 1988 e retraduzido por Idra Novey, em 2012. A fundamentação teórica discorre sobre os conceitos de domesticação e estrangeirização, segundo Venuti, e sobre o percurso da retradução, desde 1990 até nossos dias. Também são comentados a vida e a arte de Clarice Lispector, bem como seus dois tradutores. Os trabalhos de Hélène Cixous e Benjamin Moser são relacionados aos possíveis motivos para a retradução. O MMT é apresentado e explicado. A comparação intuitiva sugeriu que as duas traduções pareciam muito literais, com algumas diferenças possivelmente devidas à subjetividade dos tradutores e exigências dos editores. Entretanto, o MMT, em uma amostra de 542 palavras, mostrou que a quantidade de domesticação na tradução foi estatisticamente mais alta do que na retradução, não rejeitando, portanto a hipótese de Berman. / This dissertation aims to quantitatively verify Bermans hypothesis of retranslation by describing and applying Auberts (1977, 1989) Method of Modalities of Translation (MMT), derived from Vinay and Darbelnets pedagogical model of technical procedures of translation (1958), in a case study of two English translations of The Passion According to G.H., by Clarice Lispector. The original was written in 1964, the first translation was made in 1988 by Ronald W. de Sousa, and the retranslation in 2012 by Idra Novey. The theoretical framework presents Venutis concepts of domestication and foreignization and the history of ideas on retranslation, from 1990 to the present. Clarice Lispector, the woman, and the writer, as well as its translators are described and commented on. Hélène Cixous and Benjamin Mosers works are presented as related to the motives of the retranslation. The Method (MMT) is presented and explained. Both translations seemed very literal with some differences possibly due to the translators subjectivity and demands of the editors. However, in a sample of 542 words the amount of domestication in the translation was statistically higher than in the retranslation and therefore in line with Bermans hypothesis.
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São Bernardo em língua francesa: uma tradução informada / São Bernardo in French: an informed translationVieira, Raquel Lima Botelho Casillo 22 June 2012 (has links)
Este trabalho propõe-se a estabelecer e a examinar a relação entre duas traduções do romance São Bernardo de Graciliano Ramos: uma em língua inglesa e outra em língua francesa. Separadas pela língua e pelo intervalo de onze anos, nossa tese é de que a tradução inglesa se constitui uma tradução modelo e, a francesa, uma tradução informada. Os conceitos de tradução modelo e tradução informada foram criados por nós para atender às necessidades de nossa pesquisa; o primeiro nos foi inspirado pela leitura das correspondências entre Guimarães Rosa e seu tradutor alemão Curt-Meyer-Clason (1963 e 1965), enquanto o segundo foi desenvolvido a partir dos conceitos de primeira tradução, e de retradução, lançados por Antoine Berman (1990). Como fio condutor da discussão sobre esses textos que habitam três línguas-cultura distintas, lançou-se mão dos marcadores culturais a fim de estabelecer de que maneira e em que níveis a tradução inglesa informa a tradução francesa. / This study aims to establish and examine the relationship between two translations of the novel São Bernardo by Graciliano Ramos: one in English and the other in French. Separated by language and by an interval of eleven years, our thesis is that the English translation is a model translation, while the French one is an informed translation. This study develops the concept of model translation with the aid of the correspondence exchanged by Guimarães Rosa and his German translator Curt-Meyer-Clason (1963 and 1965). The theory of the informed translation, in turn, was developed from the concepts of first translation and retranslation, coined by Antoine Berman (1990). Cultural markers were employed as the axis of discussion about these texts that inhabit three distinct languages-cultures, in order to establish in what way and to what extent the English translation informs the French translation.
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O rascunho contínuo: duas retraduções de Mon cur mis à nu, de Charles Baudelaire / The continuous draft: two retranslations of Charles Baudelairess Mon coeur mis à nuOliveira, Thiago Mattos de 31 October 2018 (has links)
O que hoje se denomina Mon coeur mis à nu é um conjunto de notas, aforismos bombásticos, ideias de capítulos por vir, agrupados e encadernados por Poulet-Malassis após a morte de Charles Baudelaire. Em 1887, Eugène Crépet publica a obra pela primeira vez, sob o título factício Journaux intimes. Os gestos editoriais pelos quais passou desde então tendem a conter seus inacabamentos, seja recorrendo à denominação diário íntimo, seja apagando editorialmente marcas da materialidade manuscrita e da provisoriedade de toda proposta de ordenação das notas. Mais recentemente, dois marcos começam a apontar para a dimensão inacabada de Mon coeur mis à nu, ainda que circunscritos a certa concepção filológica do processual: a noção de poética do rascunho, cunhada por Béatrice Didier ao tratar dos escritos póstumos de Baudelaire, e a edição diplomática de 2001, realizada por Claude Pichois para a editora suíça Droz. Tomando a retradução como estratégia de tradução, propõem-se nesta tese duas traduções simultâneas de Mon coeur mis à nu: uma tradução manuscrítica (voltada para a materialidade do manuscrito e sua transcrição-tradução) e um comentário do original como possibilidade de escrita tradutória (voltado para a necessidade de traçar linhas de força que rompam com a ordenação arbitrária de Malassis e desenhem outras relações possíveis, sem cair, em contrapartida, na falsa solução da desordenação absoluta e primordial). Mon coeur mis à nu apresenta uma escrita de cólera, que tem relação, por sua vez, com a teatralidade (a encenação de certa postura encolerizada, desagradável e chocante) e com a fusée (o aforismo incendiário, o processo de escrita que, atravessado pela cólera, faz-se projeto inacabado, promessa de explosão, projetos-projéteis lançados sobre a página contra a França, a modernidade, a canaille littéraire). Por fim, propomos a noção de contínuo do rascunho, que nos permite construir estratégias de edição e tradução que levem em consideração os inacabamentos de Mon coeur mis à nu, seu aspecto manuscrito, sua dispersão, seu efeito processual, sua cólera que, no limite, se volta contra a própria possibilidade de obra acabada. / The todays so-called Mon coeur mis à nu is a compound of notes, bombastic aphorisms, ideas for chapters to come, combined and bound by Poulet-Malassis after Charles Baudelaires death. In 1887, Eugène Crépet publishes the work for the first time under the sham title of Journaux intimes. The editorial gestures by which the work has passed ever since tend to contain its unfinishments, by means of denominating it intimal journal or by editorially erasing marks of the handwritten materiality and of the fugacity of any suggested organization of the notes. More recently, two milestones begin to highlight Mon coeur mis à nus unfinished dimension, albeit limited to a certain philological conception of the processual: the notion of draft poetics, initiated by Béatrice Didier approaching Baudelaires posthumous writings, and the 2001 diplomatic edition prepared by Claude Pichois for Droz, a Belgian publishing house. Understanding retranslation as a translation strategy, this thesis proposes two simultaneous translations for Mon coeur mis à nu: a manuscriptical translation (aiming the handwritten materiality and its transcription-translation) and a commentary of the original as a possibility of translational writing (aiming the necessity of tracing lines of force that break Malassis arbitrary ordering and redraw other possible relations, without succumbing, in return, to the false solution of the absolute and primeval disorder). Mon coeur mis à nu presents a wrathful writing related to, on the other hand, the theatricality (the mis-en-scène of a certain rabid, unpleasant, shocking posture) and the fusée (the incendiary aphorism, the writing process that, traversed by cholera, produces itself as an unfinished project, a promise of explosion, projects-projectiles launched over the page against France, the modernity, the canaille littéraire). Finally, we offer the notion of draft continuum, that allows us to build strategies of edition and translation that consider Mon coeur mis à nus unfinishments, its handwritten aspect, its dispersion, its processual effect, its cholera that, to the limit, turns against the possibility itself of being a finished work.
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São Bernardo em língua francesa: uma tradução informada / São Bernardo in French: an informed translationRaquel Lima Botelho Casillo Vieira 22 June 2012 (has links)
Este trabalho propõe-se a estabelecer e a examinar a relação entre duas traduções do romance São Bernardo de Graciliano Ramos: uma em língua inglesa e outra em língua francesa. Separadas pela língua e pelo intervalo de onze anos, nossa tese é de que a tradução inglesa se constitui uma tradução modelo e, a francesa, uma tradução informada. Os conceitos de tradução modelo e tradução informada foram criados por nós para atender às necessidades de nossa pesquisa; o primeiro nos foi inspirado pela leitura das correspondências entre Guimarães Rosa e seu tradutor alemão Curt-Meyer-Clason (1963 e 1965), enquanto o segundo foi desenvolvido a partir dos conceitos de primeira tradução, e de retradução, lançados por Antoine Berman (1990). Como fio condutor da discussão sobre esses textos que habitam três línguas-cultura distintas, lançou-se mão dos marcadores culturais a fim de estabelecer de que maneira e em que níveis a tradução inglesa informa a tradução francesa. / This study aims to establish and examine the relationship between two translations of the novel São Bernardo by Graciliano Ramos: one in English and the other in French. Separated by language and by an interval of eleven years, our thesis is that the English translation is a model translation, while the French one is an informed translation. This study develops the concept of model translation with the aid of the correspondence exchanged by Guimarães Rosa and his German translator Curt-Meyer-Clason (1963 and 1965). The theory of the informed translation, in turn, was developed from the concepts of first translation and retranslation, coined by Antoine Berman (1990). Cultural markers were employed as the axis of discussion about these texts that inhabit three distinct languages-cultures, in order to establish in what way and to what extent the English translation informs the French translation.
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A \'hipótese da retradução\' pelas modalidades tradutórias, nas traduções para a língua inglesa de A paixão segundo G.H. / The retranslation hypothesis verified by modalities of translation, in two English translations of The Passion According to G.H.Julieta Widman 30 September 2016 (has links)
O principal objetivo deste trabalho é verificar quantitativamente a chamada hipótese da retradução de Berman (1990), através do Método das Modalidades de Tradução (MMT), elaborado por Aubert (1977, 1998), derivado do modelo pedagógico de procedimentos técnicos da tradução de Vinay e Darbelnet (1958), num estudo de caso de duas traduções para a língua inglesa do livro A Paixão Segundo G. H., escrito por Clarice Lispector em 1964, traduzido por Ronald W. de Sousa, em 1988 e retraduzido por Idra Novey, em 2012. A fundamentação teórica discorre sobre os conceitos de domesticação e estrangeirização, segundo Venuti, e sobre o percurso da retradução, desde 1990 até nossos dias. Também são comentados a vida e a arte de Clarice Lispector, bem como seus dois tradutores. Os trabalhos de Hélène Cixous e Benjamin Moser são relacionados aos possíveis motivos para a retradução. O MMT é apresentado e explicado. A comparação intuitiva sugeriu que as duas traduções pareciam muito literais, com algumas diferenças possivelmente devidas à subjetividade dos tradutores e exigências dos editores. Entretanto, o MMT, em uma amostra de 542 palavras, mostrou que a quantidade de domesticação na tradução foi estatisticamente mais alta do que na retradução, não rejeitando, portanto a hipótese de Berman. / This dissertation aims to quantitatively verify Bermans hypothesis of retranslation by describing and applying Auberts (1977, 1989) Method of Modalities of Translation (MMT), derived from Vinay and Darbelnets pedagogical model of technical procedures of translation (1958), in a case study of two English translations of The Passion According to G.H., by Clarice Lispector. The original was written in 1964, the first translation was made in 1988 by Ronald W. de Sousa, and the retranslation in 2012 by Idra Novey. The theoretical framework presents Venutis concepts of domestication and foreignization and the history of ideas on retranslation, from 1990 to the present. Clarice Lispector, the woman, and the writer, as well as its translators are described and commented on. Hélène Cixous and Benjamin Mosers works are presented as related to the motives of the retranslation. The Method (MMT) is presented and explained. Both translations seemed very literal with some differences possibly due to the translators subjectivity and demands of the editors. However, in a sample of 542 words the amount of domestication in the translation was statistically higher than in the retranslation and therefore in line with Bermans hypothesis.
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As adaptações do Quixote no Brasil (1886-2013): uma discussão sobre retraduções de clássicos da literatura infantil e juvenil / Adaptations of Don Quixote in Brazil (1886-2013): a discussion of children\'s literature classics retranslationsCobelo, Silvia 09 April 2015 (has links)
Esta tese apresenta um panorama detalhado da história de adaptações de Dom Quixote no Brasil (1886-2013), ressaltando as dez adaptações mais publicadas nesses 127 anos: Carlos Jansen (1886); Monteiro Lobato (1936); Orígenes Lessa (1970); José Angeli (1985); Ferreira Gullar (2002); Walcyr Carrasco (2002); Leonardo Chianca (2005); Rosana Rios (2005), Ana Maria Machado (2005) e Fábio Bortolazzo Pinto (2008), abrangendo questões historiográficas e seus agentes, incluindo as biografias de adaptadores, alguns deles entrevistados. O objetivo deste estudo multidisciplinar é iniciar um exame da relação controversa entre retraduções de clássicos da literatura infantojuvenil. Faremos referência aos Estudos de Tradução, especialmente a críticos da área de Retradução (Antoine Berman, Yves Gambier, Anthony Pym, Koskinen e Paloposki entre outros), aos estudos da escola de manipulação (Lefevere) e aos Estudos de Adaptação (Milton, Hutcheon e Sanders). A análise também leva em conta as peculiaridades da tradução de literatura infantil (OSullivan, Lathey, Soriano), e estudos sobre o Quixote realizados por hispanistas como Edward Riley, Anthony Close, Erich Auerbach e Maria Augusta da Costa Vieira. Para a análise descritiva comparativa dos dez textos ficcionais, criamos uma ferramenta: Tabela Analítica Ponderada, e analisamos os elementos paratextuais segundo os estudos de Genette e Gürçalar. Essas reescrituras coexistem com outras edições, como aquelas lançadas pelas comemorações do 400o aniversário do Quixote (2005 e 2015), que deram um impulso considerável para a indústria editorial, resultando em dezenas de novas publicações sobre o famoso romance espanhol e outros livros de Cervantes, incluindo novas adaptações e reimpressões de obras em prosa, quadrinhos e cordel, e versões estrangeiras traduzidas, como pode ser visto no catálogo anexo de 325 publicações, das 74 diferentes adaptações do Quixote. / This thesis provides a detailed overview of the history of adaptations of Don Quijote in Brazil (1886-2013), focusing on the ten most published adaptations during those 127 years: Carlos Jansen (1886); Monteiro Lobato (1936); Orígenes Lessa (1970); José Angeli (1985); Ferreira Gullar (2002); Walcyr Carrasco (2002); Leonardo Chianca (2005); Rosana Rios (2005), Ana Maria Machado (2005) and Fabio Bortolazzo Pinto (2008), and covering historiographical issues and their agents, including the biographies of adapters, some of them interviewed. The aim of this multidisciplinary study is to initiate an examination of the controversial relationship between retranslations and retranslations of adults classics for children. In carrying out such an examination, reference will be made to Translation Studies, especially critics discussing Retranslation (Antoine Berman, Yves Gambier, Anthony Pym, Koskinen and Paloposki among others), the studies of the Manipulation School (Lefevere) and Adaptation Studies (Milton, Hutcheon, and Sanders). The analysis will also take into account the peculiarities of childrens literature translation (OSullivan, Lathey, and Soriano) and studies about Don Quijote, using Cervantess critics as Edward Riley, Anthony Close, Erich Auerbach and Maria Augusta da Costa Vieira. For the comparative descriptive analysis of the ten fictional texts, we create a tool: the Analytical Weighted Table, and the paratext elements\' study follows Genette and Gürçalar studies. These rewritings coexist alongside with other editions, as the celebrations of Don Quixotes 400th anniversary (2005 and 2015) gave considerable impetus to the publishing industry and resulted in dozens of new publications regarding the famous novel and other Cervantes books, including new adaptations and reprints of works in prose, comics and cordel, and translated foreign versions, as can be seen in the annexed catalogue of 325 publications of the 74 different Quixotes adaptations.
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Estudo comparativo das traduções sobre as expressões de tratamento da língua japonesa sob a ótica da teoria dos polissistemas nos mangás Love Hina, Yu Yu Hakusho e Chobits / Comparative study of the japanese treatment expressions from the point of view of the polysystems theory in the manga Love Hina, Yu Yu Hakusho and ChobitsPerides, André Luiz Lopes 03 May 2018 (has links)
As histórias em quadrinhos japonesas, conhecidas como mangás, vêm se popularizando muito fora do Japão nas últimas décadas. Partindo de uma abordagem que, nos estudos da tradução, considera a relevância de também se estudar os contextos e fatores externos ao texto, analisamos em nossa pesquisa a tradução para expressões de tratamento japonesas presentes nos mangás Love Hina, Yu Yu Hakusho e Chobits, publicados no Brasil no início dos anos 2000, quando o mercado de histórias quadrinhos japonesas ainda estava se estabelecendo no país, e que, uma década depois, foram reeditados pela mesma editora, mas com a tradução revisada. Questionamos se a experiência acumulada com a prática regular envolvendo a publicação de mangás, a consolidação de uma cultura do mangá no Brasil e consequente formação de um público leitor mais acostumado com características e especificidades do gênero trazem reflexos que são perceptíveis na tradução, veríficáveis por meio das estratégias de tradução empregadas. / Japanese comics, known as manga, have become very popular outside Japan in the last few decades. Based on an approach that in the translation studies considers the relevance of also studying the contexts and factors external to the text, we analyzed in our research the translation for japanese treatment expressions present in Love Hina, Yu Yu Hakusho and Chobits, manga published in Brazil in the early 2000s, when the japanese comic book market was still settling in the country; a decade later these manga were reprinted by the same publisher, but with a revised translation. We question whether the regular practice involving the publication of manga, the consolidation of a manga culture in Brazil and the consequent formation of a readership more accustomed to characteristics and specificities of the genre brings reflexes that are perceptible in translations, verifiable by means of translation strategies employed.
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As adaptações do Quixote no Brasil (1886-2013): uma discussão sobre retraduções de clássicos da literatura infantil e juvenil / Adaptations of Don Quixote in Brazil (1886-2013): a discussion of children\'s literature classics retranslationsSilvia Cobelo 09 April 2015 (has links)
Esta tese apresenta um panorama detalhado da história de adaptações de Dom Quixote no Brasil (1886-2013), ressaltando as dez adaptações mais publicadas nesses 127 anos: Carlos Jansen (1886); Monteiro Lobato (1936); Orígenes Lessa (1970); José Angeli (1985); Ferreira Gullar (2002); Walcyr Carrasco (2002); Leonardo Chianca (2005); Rosana Rios (2005), Ana Maria Machado (2005) e Fábio Bortolazzo Pinto (2008), abrangendo questões historiográficas e seus agentes, incluindo as biografias de adaptadores, alguns deles entrevistados. O objetivo deste estudo multidisciplinar é iniciar um exame da relação controversa entre retraduções de clássicos da literatura infantojuvenil. Faremos referência aos Estudos de Tradução, especialmente a críticos da área de Retradução (Antoine Berman, Yves Gambier, Anthony Pym, Koskinen e Paloposki entre outros), aos estudos da escola de manipulação (Lefevere) e aos Estudos de Adaptação (Milton, Hutcheon e Sanders). A análise também leva em conta as peculiaridades da tradução de literatura infantil (OSullivan, Lathey, Soriano), e estudos sobre o Quixote realizados por hispanistas como Edward Riley, Anthony Close, Erich Auerbach e Maria Augusta da Costa Vieira. Para a análise descritiva comparativa dos dez textos ficcionais, criamos uma ferramenta: Tabela Analítica Ponderada, e analisamos os elementos paratextuais segundo os estudos de Genette e Gürçalar. Essas reescrituras coexistem com outras edições, como aquelas lançadas pelas comemorações do 400o aniversário do Quixote (2005 e 2015), que deram um impulso considerável para a indústria editorial, resultando em dezenas de novas publicações sobre o famoso romance espanhol e outros livros de Cervantes, incluindo novas adaptações e reimpressões de obras em prosa, quadrinhos e cordel, e versões estrangeiras traduzidas, como pode ser visto no catálogo anexo de 325 publicações, das 74 diferentes adaptações do Quixote. / This thesis provides a detailed overview of the history of adaptations of Don Quijote in Brazil (1886-2013), focusing on the ten most published adaptations during those 127 years: Carlos Jansen (1886); Monteiro Lobato (1936); Orígenes Lessa (1970); José Angeli (1985); Ferreira Gullar (2002); Walcyr Carrasco (2002); Leonardo Chianca (2005); Rosana Rios (2005), Ana Maria Machado (2005) and Fabio Bortolazzo Pinto (2008), and covering historiographical issues and their agents, including the biographies of adapters, some of them interviewed. The aim of this multidisciplinary study is to initiate an examination of the controversial relationship between retranslations and retranslations of adults classics for children. In carrying out such an examination, reference will be made to Translation Studies, especially critics discussing Retranslation (Antoine Berman, Yves Gambier, Anthony Pym, Koskinen and Paloposki among others), the studies of the Manipulation School (Lefevere) and Adaptation Studies (Milton, Hutcheon, and Sanders). The analysis will also take into account the peculiarities of childrens literature translation (OSullivan, Lathey, and Soriano) and studies about Don Quijote, using Cervantess critics as Edward Riley, Anthony Close, Erich Auerbach and Maria Augusta da Costa Vieira. For the comparative descriptive analysis of the ten fictional texts, we create a tool: the Analytical Weighted Table, and the paratext elements\' study follows Genette and Gürçalar studies. These rewritings coexist alongside with other editions, as the celebrations of Don Quixotes 400th anniversary (2005 and 2015) gave considerable impetus to the publishing industry and resulted in dozens of new publications regarding the famous novel and other Cervantes books, including new adaptations and reprints of works in prose, comics and cordel, and translated foreign versions, as can be seen in the annexed catalogue of 325 publications of the 74 different Quixotes adaptations.
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