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Metafísica e ciência: a analogia da vontade entre o micro e o macrocosmo / Metaphysics and science: the analogy of will between micro and macrocosm

Prado, Jorge Luis Palicer do 09 May 2019 (has links)
A filosofia de Arthur Schopenhauer se caracteriza por um esforço contínuo de reflexão para decifrar um antigo enigma, qual seja, a analogia entre o homem e o universo ou entre o micro e o macrocosmo. Schopenhauer postulou o primado da vontade cega sobre o intelecto como o seu dogma fundamental, isto é, como a chave interpretativa que permite solucionar o problema em questão. O filósofo desenvolveu uma monumental metafísica, qualificada por ele de imanente, em cujas bases estão a sua complexa concepção de vontade e uma articulada compreensão da analogia como método de reflexão filosófica. Apesar de tal esforço, o próprio Schopenhauer explicitamente reconheceu que uma solução absoluta e exaustiva do problema seria uma doutrina da onisciência, algo realmente impossível para a razão humana, já que não há entendimento pleno e absoluto da essência e origem do mundo. Assim, o horizonte da experiência humana permanecerá sempre na mais profunda e completa obscuridade. A filosofia de Schopenhauer apresenta, portanto, uma tensão originária, a saber, a consciência de que conhecer o ser absoluto é tão impossível quanto é incansável a busca pela compreensão metafísica do mundo. O texto que se segue consiste, portanto, no esforço para resgatar algumas fontes históricas, observar o sentido e as referências originárias dos conceitos, para interpretar, no interior da dinâmica teórica da obra de Schopenhauer, o significado propriamente filosófico da analogia da vontade. A hipótese de orientação consistiu em supor que a obra do autor se caracteriza por uma peculiar articulação da reflexão metafísica com os conhecimentos produzidos pelas ciências biológicas, sobretudo, a partir do estudo da fisiologia dos impulsos orgânicos vitais e inconscientes, para, desse modo, elaborar uma imagem conceitual do mundo compreendido como um macroantropo, cuja significação moral mais profunda se traduz no sentimento universal do sofrimento e na negação da vontade de viver. Neste sentido, a vontade, segundo o próprio autor, constitui o último marco-limite do conhecimento possível e o mundo nada mais é do que o multifacetado reflexo físico de um mal metafísico que em si é imanente, uno e indivisível em cada ser. Foi necessária uma reconstrução introdutória do problema da analogia entre o micro e o macrocosmo, bem como a busca pelo significado originário do conceito de vontade que acompanha o seu desenvolvimento histórico para compreender a filosofia de Schopenhauer como a solução peculiar de um problema que lhe é próprio. O texto apresenta os valores que a analogia assume em cada etapa do pensamento schopenhaueriano, destacando uma tensão constitutiva entre as diferentes funções que ela desempenha. A interpretação que aqui se expõe, consistiu no esforço para compreender a pertinência genuinamente filosófica da analogia da vontade em alguns aspectos de sua complexidade intrínseca, incluindo as suas limitações e fragilidades sem, no entanto, ignorar o seu poder de alcance, a coerência própria e a sua singular capacidade explicativa. / The philosophy of Arthur Schopenhauer is characterized by the constant effort of reflection to decipher an old enigma, which is the analogy between the man and the universe or the micro and macrocosm. Schopenhauer postulated that the primacy of will blinds the intellect as its fundamental dogma, that is, as an interpretative key that enables to solve the problem focused. The philosopher developed a monumental metaphysics, qualified as immanent by him, whose bases are his complex concept of will and an articulated comprehension of analogy as a philosophical reflection method. Despite such effort, Schopenhauer himself has explicitly recognized that an absolute and exhaustive solution of the problem would be an omniscience doctrine, something really impossible to human reason, as there is no full and absolute understanding of the world\'s essence and origin. This way, the horizon of human experience will always remain in the most deep and complete obscurity. The philosophy of Schopenhauer presents, though, a primary tension, namely: the consciousness of knowing the absolute individual is as impossible as the tireless search for the world\'s metaphysics comprehension. Therefore, the following text consists of the effort to rescue some historical sources, observe the sense and the original references of concepts, to interpret, from the inside of the theoretical dynamics of Schopenhauer\'s work, the proper philosophical meaning of the analogy of will. The guidance hypothesis constitutes of supposing that the author\'s work is characterized by a particular articulation of metaphysical reflection with the concepts produced by the biological sciences, mainly from the physiology study of vital and organic impulses, in order to create a conceptual image of the world seen as a macranthropos, whose most profound moral significance is translated to the universal suffering and the denial of the Will to life. In this sense, the will, according to the author, constitutes the last boundary of possible knowledge and the world is nothing more than a multifaceted physical reflection of a metaphysical evil which is immanent in itself, unified and inseparable to each individual. It was necessary an introductory reconstitution of the analogy problem between micro and macrocosm, as well as the search for the original meaning of the concept of will that follows its historical development to understand Schopenhauer\' philosophy as a peculiar solution to its own problem. The text presents the values assumed by the analogy in each step of schopenhauerian thought, highlighting the constitutive tension between the functions that it develops. This present interpretation constitutes of the effort to comprehend the genuinely philosophical pertinence of the analogy of will in some aspects of its intrinsic complexity, including its limitations and fragilities without ignoring its reach power, own coherence and singular explanatory capacity.
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O livro VIII das Confissões de Agostinho de Hipona a partir das noções de caritas e cupiditas / The Book VIII of Confessions of Augustine of Hippo from the notions of caritas and cupiditas

Sote, Rodrigo Figueiredo 28 June 2017 (has links)
Caritas e cupiditas constituem noções privilegiadas para investigar o livro VIII das Confissões porquanto permitem articular relatos de conversão e reflexão acerca da vontade humana, além de exibirem o caráter processual da conversão. Situada no interior de um encadeamento, a conversão depende do relato e o engendra, conforme exigência da caritas que a impele para além do ato singular. Os relatos de conversão abarcam tanto a crítica da cupiditas como a exigência do restabelecimento da caritas. Ademais, subjacente ao nosso binômio, a noção de ordem possibilita caracterizar os momentos anterior e posterior à conversão como ruptura e reparo do amor ordenado, respectivamente. Por um lado, trata-se de analisar as consequências da vontade exercida como cupiditas, verificadas, sobretudo, na cisão volitiva; por outro lado, significa identificar na caritas o exercício da vontade enquanto amor ordenado que repara a cisão da vontade. / Caritas and cupiditas are privileged notions to research into Book VIII of the Confessions because they allow to articulate conversion accounts and reflection on the human will, as well as showing the procedural nature of the conversion. Placed within a chain, the conversion depends on the account and engenders it, as demanded by the caritas that impels it beyond the singular act. The conversion accounts cover both the criticism of cupiditas and the demand for the reestablishment of caritas. In addition, underlying our binomial, the notion of order makes it possible to characterize the moments before and after conversion as a rupture and repair of ordered love, respectively. On the one hand, it is a question of analyzing the consequences of the will exercised as cupiditas, verified, above all, in the volitional split; On the other hand, it means identifying in caritas the exercise of the will as ordered love that repairs the split of the will.
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O niilismo de Schopenhauer. / Le nihilisme de Schopenhauer

Salviano, Jarlee Oliveira Silva 12 December 2001 (has links)
Nosso trabalho pretendeu analisar a idéia da negação da vontade em Schopenhauer a partir do conceito de niilismo tal como se apresenta no contexto da recepção da filosofia kantiana no início do século XIX e que será uma temática constante na filosofia de Nietzsche, que se tornará o maior crítico do pensamento schopenhaueriano. Tal crítica se fará principalmente através deste conceito aqui estudado. A pesquisa se desenvolve a partir da hipótese de que o niilismo do autor de O mundo como vontade e representação não é absoluto, mas relativo. / Notre dissertation a pretendu faire l´analyse de l´idée de négation de la Volonté chez Schopenhauer, en partant du concept de nihilisme, en tant qu´il se présente dans le cadre de la recéption de la philosophie kantienne, au début du XIX siècle. Le concept de nihilisme se présente comme un thème constant chez Nietzsche, qui est, sans doute, le plus remarquable critique de la pensée schopenhauerienne. Le concept de nihilisme, étudié ici, sera le centre de la critique de Nietzsche. Notre recherche se développe a partir de l´hypothèse suivante: le nihilisme de l´auteur du Monde comme Volonté et Répresentaton n´est pas absolu, mais rélatif.
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O problema da liberdade na filosofia de Arthur Schopenhauer / The problem of freedom in the philosophy of Arthur Schopenhauer.

Santos, Katia Cilene da Silva 06 August 2010 (has links)
Nesta dissertação, buscamos lançar luz sobre a contradição, declarada por Schopenhauer como sendo aparente, entre a necessidade que rege a conduta humana por meio dos motivos e do caráter, e a liberdade no fenômeno, implicada na possibilidade de negação da Vontade por indivíduos singulares. Percorremos algumas obras de Schopenhauer, investigando as condições que desvendam essa contradição aparente. Assim, examinamos, por um lado, a recusa ao livre-arbítrio, e por outro, o modo como Schopenhauer explica como o indivíduo pode, através do conhecimento, subtrair-se à lei da motivação e, pela supressão da sua vontade individual, restabelecer o livre-arbítrio. / In this dissertation, we seek to shed light on the contradiction stated by Schopenhauer as apparent between the need that rules the human conduct through the motives and character, and freedom in the phenomenon, implied the possibility of denial of the will in single individuals. We have gone through some of the Schopenhauers work, investigating the conditions that reveal this apparent contradiction. Thus, we examine on the one hand, the denial of free will, and on the other hand, the way Schopenhauer explains how individuals can, through knowledge, escape the law of motivation and, through the suppression of their choice, restore free will.
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Os fundamentos do agir moral em Kant

Fernando, Celestino Taperero 22 February 2018 (has links)
Submitted by PPG Filosofia (filosofia-pg@pucrs.br) on 2018-04-16T17:34:29Z No. of bitstreams: 1 CELESTINO TEPERERO FERNANDO.pdf: 1022365 bytes, checksum: e268631125f7e92cb43a0aa9649d3ab0 (MD5) / Approved for entry into archive by Caroline Xavier (caroline.xavier@pucrs.br) on 2018-05-03T20:15:42Z (GMT) No. of bitstreams: 1 CELESTINO TEPERERO FERNANDO.pdf: 1022365 bytes, checksum: e268631125f7e92cb43a0aa9649d3ab0 (MD5) / Made available in DSpace on 2018-05-03T20:18:38Z (GMT). No. of bitstreams: 1 CELESTINO TEPERERO FERNANDO.pdf: 1022365 bytes, checksum: e268631125f7e92cb43a0aa9649d3ab0 (MD5) Previous issue date: 2018-02-22 / Coordena??o de Aperfei?oamento de Pessoal de N?vel Superior - CAPES / The purpose of this dissertation is to understand the moral value of human action in Kant's practical philosophy. Kant argues that morality is the principle of universal reason, capable of limiting human impulses, since, by virtue of natural needs. The moral conscience in this circumstance is a product of pure practical reason, which enables the application of theory to practice in function of the freedom of the transcendental subject to think and act. However, the categorical imperative is the command of moral actions, which is found in the autonomous subject, through the relation between goodwill and freedom. And dignity is a quality that naturally finite beings have as moral beings. The dignity of the human is translated in his capacity to act according to the representation of laws determined by himself, so that man should not be subject to any other purpose than that of his own reason, namely that of his own morality, which implies the fulfillment of "duty for duty. Faced with this idea, the human person is himself the measure and source of duty (Solen). Because reason knows only what it has projected itself. Whereas the pure "I" of the person is only possible when there is recognition that he is a being of duties, right and autonomous. Kantian formality starts with the distinction between morality and legality in order to allow coexistence between them. It is also in this position that the concept of law has its roots. For the author, the relationship between ethics and law is a relationship of subordination. / A presente disserta??o tem como objetivo compreender em que consiste o valor moral do agir humano na filosofia pr?tica de Kant. Kant defende que a moral ? o princ?pio da raz?o universal, capaz de limitar os impulsos humanos, em virtude das necessidades naturais. A consci?ncia moral nessa circunst?ncia ? produto da raz?o pura pr?tica, que possibilita a aplica??o da teoria ? pr?tica em fun??o da liberdade do sujeito transcendental de pensar e agir. Contudo, o imperativo categ?rico ? o comando das a??es morais, que se encontra no sujeito aut?nomo, mediante a rela??o entre a boa vontade e a liberdade. E a dignidade ? uma qualidade que naturalmente os seres finitos t?m enquanto entes morais. A dignidade do humano se traduz em sua capacidade de agir conforme a representa??o de leis determinadas por ele mesmo, de modo que, o homem n?o deveria estar submetido a qualquer outro fim que n?o o de sua pr?pria raz?o, a saber, o da pr?pria moralidade, que implica o cumprimento do ?dever pelo dever. Diante dessa ideia, a pessoa humana ? ela pr?pria que ? a medida e a fonte do dever (Solen). Porque a raz?o s? conhece aquilo que ela mesma projetou. Enquanto que o ?eu? puro da pessoa s? ? poss?vel quando h? reconhecimento que ? um ser de deveres, direito e aut?nomo. A formalidade kantiana parte na distin??o entre moralidade e legalidade de modo a possibilitar a coexist?ncia entre elas. ? tamb?m nessa posi??o onde o conceito de direito tem as suas ra?zes. Para o autor, a rela??o entre ?tica e direito ? uma rela??o de subordina??o.
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Desnaturalização da política n\'A cidade de Deus, de Agostinho / Denaturalization of politics in the City of God, by Augustine

Silva Filho, Luiz Marcos da 19 December 2012 (has links)
NA cidade de Deus, Agostinho apresenta ambivalente concepção de política, pois a política adquire ou positividade ou negatividade conforme a identidade ou a contradição de uma civitas ou res publica consigo mesma. Mais precisamente, a cidade celeste, que guarda dois modos de existência, um na história, outro na eternidade, conquista progressivamente identidade na medida em que na história há processo coerente dela em direção a seu modo de existência por excelência, na eternidade; já a cidade terrena existe na história em contradição e conflito, ao tornar-se escrava da própria libido de dominação, de maneira que sua história é de progressiva danação e perda de ser. Uma cidade guarda, pois, estatuto político a despeito de sua orientação ou de sua desorientação moral. Além do mais, o fundamento da política agostiniana não é nem a natureza, nem a razão. Assim, em declarada ruptura com a reflexão política ciceroniana, Agostinho empreende uma desnaturalização da política e fundamenta-a em certo conceito de vontade. Nosso propósito será investigar os traços do voluntarismo político agostiniano por meio da gênese, aqui denominada exórdio, do modo de existência histórico de ambas as cidades. / In the City of God, Augustine shows an ambivalent conception of politics, because the politics acquires positivity or negativity according to the identity or contradiction of a civitas or res publica with itself. More precisely, the celestial city, which has two modes of existence, one in the history, other in the eternity, progressively conquers identity as in history succeeds a coherent process towards its genuine mode of existence, in eternity. On the other hand, the earthly city exists in the history in contradiction and conflict in becoming slave of its own libidinousness of dominance so that its history is one of a progressive damnation and lost of being. Therefore a city holds political statute in despite of its moral orientation or disorientation. Moreover, the Augustinian foundation of politics is neither the nature nor the reason. Thus, notably against Cicero, Augustine enterprises a denaturalization of politics and founds it in a certain concept of will. Our purpose will be to inquire into the features of the Augustinian political voluntarism by means of the historical mode of existence genesis, or beginning, of both cities.
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Presunção e normativização do dolo e sua incompatibilidade com o princípio da dignidade da pessoa humana

Jorio, Israel Domingos 16 May 2014 (has links)
Submitted by Leticia Alvarenga (leticiaalvarenga@fdv.br) on 2018-08-31T12:23:34Z No. of bitstreams: 1 ISRAEL DOMINGOS JORIO.pdf: 2632482 bytes, checksum: c39a44bf5b5f7fba7f6f6ea056c24281 (MD5) / Approved for entry into archive by Ana Paula Galdino (repositorio@fdv.br) on 2018-09-03T20:17:47Z (GMT) No. of bitstreams: 1 ISRAEL DOMINGOS JORIO.pdf: 2632482 bytes, checksum: c39a44bf5b5f7fba7f6f6ea056c24281 (MD5) / Made available in DSpace on 2018-09-03T20:17:47Z (GMT). No. of bitstreams: 1 ISRAEL DOMINGOS JORIO.pdf: 2632482 bytes, checksum: c39a44bf5b5f7fba7f6f6ea056c24281 (MD5) Previous issue date: 2014-05-16 / O ser humano, sempre dividido entre as paixões da liberdade e da segurança, vive com grande intensidade os dilemas do mundo moderno, marcado pela presença constante das mais diversas formas de perigo. Em um ambiente tão instável, cresce e se fortalece sobremaneira o discurso punitivsta, segundo o qual o Direito Penal deve trazer as soluções para os principais problemas que afligem a sociedade. O florescimento da cultura do medo e da punição, estimulado pela mídia e explorado por políticos oportunistas, conduz à exigência de mais criminalizações e de recrudescimento das sanções penais para o combate da “impunidade”. Dentre as tendências punitivistas contemporâneas mais sofisticadas se encontram a presunção e a normativização do dolo, procedimentos voltados à facilitação do processo de imputação desse elemento subjetivo. Da presunção do dolo a partir de fórmulas matemáticas resultam muitos riscos para direitos e garantias fundamentais, como os que decorrem dos princípios da ampla defesa, do contraditório e da presunção de inocência; da sua normativização, a perniciosidade que se encerra nas construções jurídicas artificiais que desprezam ou redefinem dados empíricos arbitrariamente. Surge a dúvida quanto à compatibilidade de tais procedimentos com o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, prerrogativa de tratamento que precisa ser examinada mais detidamente no que tange a seus fundamentos, seu conceito e seu âmbito de proteção. Isso nos remete às reflexões filosóficas sobre os próprios conceitos de dignidade e de pessoa. Por meio delas, constatamos que o valor que embasa a dignidade humana reside, principalmente, nas faculdades mentais do homem, dentre as quais se destacam a razão e a vontade. A razão é uma faculdade mental humana cuja afirmação filosófica é bastante sedimentada, e que é empregada pela maioria dos juristas como o funda-mento central da dignidade da pessoa humana. A vontade, no entanto, padece com indefinição conceitual causadora de muitos dissensos, o que a torna carente de um exame mais aprofundado. Nesse percurso, verificamos que a manifestação psíquica mais precisa da vontade é a in-tenção, e que essa tem um valor ineliminável como critério de imputação de valor ou desvalor ético. Pela relevância dos processos gnoseológicos e dos processos éticos para o homem, concluímos que tanto a razão quanto a vontade são elementos caracterizadores da pessoa, de modo que não podem ser desprezados ou normativizados arbitrariamente para o atendimento de propósitos políticos criminais. Deve o conceito de dolo, como de qualquer outro instituto jurídico, levar em consideração razão e vontade para que se assegure a compatibilidade com o tratamento respeitoso exigido pela dignidade da pessoa humana. / El ser humano, siempre dividido entre las pasiones de la libertad y la seguridad, vive con gran intensidad los dilemas del mundo moderno, marcado por la presencia constante de las más diversas formas de peligro. En un entorno tan inestable, crece y se fortalece en gran medida el discurso punitivsta, según lo cual la ley penal debe aportar soluciones a los principales problemas que aquejan a la sociedad. El florecimiento de la cultura del miedo y el castigo, estimulado por los medios de comunicación y explotado por los políticos oportunistas, conduce a la demanda de más criminalizaciones y endurecimiento de las sanciones penales para combatir la " impunidad". Entre las más sofisticadas tendencias punitivistas contemporáneas son la presunción y la normativización del dolo, procedimientos destinados a facilitar la asignación de imputación de este proceso elemento subjetivo. De la presunción del dolo a partir de fórmulas matemáticas resultan muchos riesgos para los derechos y garantías fundamentales, tales como los relacionados con los principios de la amplia defensa, lo contradictorio y la presunción de inocencia; de su normativización, la nocividad escondida en las construcciones legales artificiales que desprecian o redefinen datos empíricos de forma arbitraria. Se plantea la cuestión de la compatibilidad de dichos procedimientos con el principio constitucional de la dignidad humana, prerrogativa de tratamiento que necesita ser examinados con más cautela en relación a sus fundamentos, su concepto y su ámbito de protección. Esto nos lleva a las reflexiones filosóficas sobre el concepto de la dignidad y de la propia persona. A través de ellos, se observa que el valor que sustenta la dignidad humana reside principalmente en las facultades mentales del hombre, entre las cuales se destacan la razón y la voluntad. La razón es una facultad mental humana cuya afirmación filosófica es muy sedimentada, y que es empleada por la mayoría de los autores como el fundamento central de la dignidad humana. La voluntad, sin embargo, adolece de ambigüedad conceptual causadora de muchos desacuerdos, e carece de un examen más detenido. En el camino, constatamos que la intención es la manifestación psíquica de la voluntad más específica, y que ella tiene un valor inquebrantable como criterio para la asignación del valor o disvalor ético. Por la relevancia de los procesos gnoseológicos y de los procesos éticos para el hombre, concluimos de que tanto la razón y la voluntad son rasgos característicos de la persona, por lo que no pueden ser ignorados o arbitrariamente normativizados a favor de fines políticos criminales. Debe el concepto de dolo, y cualquier otra institución jurídica, considerar la razón y la voluntad para que se pueda garantizar su compatibilidad con el trato respetuoso requerido por la dignidad de la persona humana.
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Trabalho forçado contemporâneo : a violação da autonomia da vontade do trabalhador como elemento de identificação do trabalho forçado contemporâneo

Arcanjo, Aline Soares January 2016 (has links)
A exploração do trabalho forçado é um problema presente em todos os continentes, em praticamente todos os países. Conforme estimativas da Organização Internacional do Trabalho, cerca de 21 milhões de pessoas são vítimas de tal prática ao redor do mundo na atualidade. No Brasil, não há um levantamento preciso do número de trabalhadores submetidos ao trabalho forçado. Certo é que cerca de 50 mil foram libertados de situações administrativamente assim consideradas desde 1995, tanto no meio rural, como no meio urbano. O trabalho será forçado quando houver violação da liberdade de autovinculação do trabalhador, seja para estabelecer a relação de trabalho, seja para dela retirar-se quando assim desejar. A presente dissertação tem como objetivo examinar as contribuições que a análise da violação da autonomia da vontade do trabalhador pode trazer para a identificação de situações concretas de trabalho forçado contemporâneo. Para tanto, inicialmente estuda-se a evolução da noção de autonomia no âmbito das relações privadas e da noção de contrato, verificando-se as peculiaridades do contrato de trabalho e da relação laboral a ele subjacente. Após, investigam-se as condições necessárias para que o consentimento do trabalhador seja considerado materialmente livre, bem como as possíveis violações a essa liberdade. No segundo capítulo, é estudado o trabalho forçado propriamente dito, analisando-se o tratamento dado ao tema pela ordem jurídica internacional. Traça-se, também, um panorama global da realidade do trabalho forçado atualmente. No terceiro capítulo, é examinada a situação do trabalho forçado no Brasil, com breves considerações históricas a respeito e observação do seu contexto atual. Verifica-se, ainda, o tratamento dado ao tema pela ordem jurídica nacional, com destaque ao art. 149 do Código Penal. Ao longo da pesquisa, recorre-se constantemente a exemplos reais, situando o conhecimento normativo e doutrinário na experiência. Os métodos de abordagem são o indutivo e o dialético, e a técnica de pesquisa é, basicamente, a documentação indireta. A partir do estudo desenvolvido, conclui-se que o exame da violação da autonomia da vontade do trabalhador contribui relevantemente para a identificação de situações concretas de trabalho forçado contemporâneo, porquanto revela, justamente, os diversos modos pelos quais a liberdade de autovinculação do trabalhador pode ser maculada, fornecendo critérios verificáveis na prática, situando a exploração coercitiva do trabalho no contexto do século XXI. Com base nisso, sugere-se a utilidade da adoção de uma abordagem jurídica sistêmica, ou interdisciplinar, do trabalho forçado, conjugando diversos ramos do Direito – Direito do Trabalho, Direito Civil, Direito Internacional e Direito Penal. / Forced labor exploitation is an undergoing problem in every continent, and virtually in every country. Estimates from the International Labor Organization point that circa 21 million people around the globe are currently victims of forced labor. In Brazil, there are no precise data on the number of workers subjected to forced labor. The fact is around 50 thousand workers were freed from so-defined forced labor situations since 1995, in both rural and urban environments. Forced labor is understood as the one in which there is a violation of the worker's free consent, be it on the making of the labor contract, be it on ending the labor relation if so she wills. The objective of this dissertation is to examine in which ways the analysis of workers’ autonomy of will may contribute for the identification of actual occurrences of modern-day forced labor. For this purpose, the development of the ideas of contract and of autonomy in private relations are firstly studied, with focus on labor contracts’ and labor relations’ distinguishing peculiarities. Subsequently, the necessary conditions for the worker’s consent to be considered materially free are investigated, as well as potential violations of such freedom. On the second chapter, the object of study is forced labor and its treatment by the international legal order. Further, a prospect of forced labor’s reality around the world is traced. On the third chapter, the situation of forced labor in Brazil is examined, through brief historical retrospect and observations on its current context. The domestic legal framework is analyzed, with emphasis on article 149 of the Criminal Code. Throughout the research, factual examples are constantly referred, establishing normative and doctrinal backgrounds on real-world experience. Inductive and dialectical methods are used, and indirect documentation is the main research technique applied. From the study developed, it is concluded that the examination of workers’ autonomy of will offers great contribution for identifying concrete situations of modern-day forced labor, as it reveals the many ways by which free consent may be tainted, providing practical, verifiable criteria, and repositioning coercive labor exploitation in the context of the 21st century. Thus, it is suggested the adoption of a systematic, interdisciplinary legal approach of forced labor, bringing together different areas of Law – Labor Law, Civil Law, International Law and Criminal Law.
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A negação da vontade como um efeito da graça: a redenção na concepção de Schopenhauer / The denial of will as an effect of grace: the redemption in Schopenhauers conception

Bassoli, Selma Aparecida 04 August 2015 (has links)
Schopenhauer utiliza a ideia de redenção no sentido religioso para tratar a supressão do caráter que define a negação da vontade. Ele afirma que essa supressão é justamente aquilo que, na Igreja cristã, é muito apropriadamente denominada renascimento e o conhecer, do qual provém, efeito da graça. Tal comparação parece surpreendente quando consideramos que Schopenhauer se declara um filósofo ateu e que, para ele, a fé e o saber são coisas fundamentalmente diferentes e que devem ser mantidas separadas. Mas há na ideia de graça uma característica que pode justificar o recurso que Schopenhauer faz a ela: a ausência de uma causa que possa explicar a sua manifestação. Assim, tanto no sentido religioso quanto no modo como Schopenhauer concebe a negação da vontade, a redenção como efeito da graça pode ser entendida como uma benção concedida gratuitamente, pois não é possível conquistá-la voluntariamente através do esforço pessoal. Entretanto, se não há uma causa que determine a negação, há dois caminhos que podem direcionar a vontade até o ponto em que a negação pode ocorrer espontaneamente. O que há em comum entre esses dois caminhos é a presença do sofrimento como pré-requisito para que eles possam ser atravessados. O sofrimento é essencial para que se possa compreender a negação porque ele é o elemento que permite combater a tese segundo a qual haveria uma relação entre a virtude e a felicidade, de forma que o inocente seria poupado da dor e, portanto, ele poderia ser feliz. Por ser contrário a essa tese, Schopenhauer considera que, quanto mais o homem padece, mais ele se aproxima da verdadeira finalidade da vida, que consiste em compreender que viver é necessariamente sofrer. Para a explicação da analogia entre os conceitos da filosofia de Schopenhauer e os dogmas cristãos, o texto foi dividido em dois capítulos. No primeiro apresentamos as razões que podem justificar a relação que Schopenhauer estabelece entre a sua filosofia e o cristianismo, através da qual ele compara os dogmas do pecado original e do efeito da graça aos conceitos de afirmação e negação da vontade. Porém, apesar de propor essa comparação e afirmar que sua filosofia é a verdadeira expressão da religião cristã, Schopenhauer defende também uma separação estrita entre religião e filosofia, pois ele recusa uma mistura que possa resultar em uma filosofia religiosa. Para respeitar a separação que Schopenhauer prescreve entre esses dois tipos de saber, o segundo capítulo terá como objetivo compreender a transição da afirmação para a negação da vontade independentemente da relação que estes conceitos possam ter com as alegorias religiosas. / In order to deal with the suppression of character which defines the denial of will Schopenhauer applies the idea of redemption in a religious sense. He declares that this suppression corresponds precisely to what the Christian Church properly calls rebirth and the knowledge, which the effect of Grace results from. Such a comparison seems to be a surprising one when we consider Schopenhauer proclaiming himself an atheist as well as declaring faith and knowledge as fundamentally diferent concepts that should be kept separate. There is, though, in the idea of grace a distiction that can justify Schopenhauers resource on using it: the lack of a cause which can explain its occurence. Thus, both in a religious way and in the manner Schopenhauer conceives the denial of will, redemption can be understood as a blessing freely granted, because it is not possible to conquer it by personal effort. However, if there is not a determined cause for the denial, there are two ways that can guide the will to the point in which it can spontaneously occur. In both ways there is the presence of suffering and it is a prerequisite for their crossing. Suffering is essential for understanding the denial of will because it is the element that permits to confront the thesis according to which there would be a relation between virtue and happiness, so that the innocent person would be free from pain and then would be happy. In opposition to this thesis Schopenhauer considers that the more a human being suffers the closer he gets to the real meaning of life that consists in the comprehension that to live is necessarily to suffer. For the explanation of the analogy between the concepts of Schopenhauers philosophy and the Christian dogmas the text was divided into two chapters. In the first we demonstrate the reasons wich can justify the relation that Schopenhauer establishes between his philosophy and Christianity, through which he compares the dogmas of the original sin and the effect of grace to the concepts of assertion and denial of the will to live. Nevertheless, in spite of establishing this comparison and declaring his philosophy as the expression of the Christian religion, Schopenhauer also proclaims a strict dissociation of religion and philosophy, for he refuses the combination that can result in a religious philosophy. In respect to the dissociation that Schopenhauer prescribes between these two kinds of knowledge the second chapter will focus on the purpose of understanding the transition from the assertion to the denial of will independently of the relation these concepts can have to the religious allegories.
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A MÁ CONSCIÊNCIA EM NIETZSCHE

Silva, Sabrina Corrêa da 18 August 2009 (has links)
This study shows the analysis nietzschiana in the perspective of evaluation of several conceptions of morality that becomes effective throughout the history determining the value of morality. To the philosopher, the values do not exist, they are the result of a creation of man, so, they are not facts, they are interpretations introduzed by the man in the world. We can say that all the writings of the philosopher are developed throughout and from a universe of forces and relations of forces, that is, desire for power and this, is characterized by a continuous overcoming them, for a constant to become more . So, talk about the bad conscience is talking about relation of power and desire for power or, about what forces that command and what forces that follow. According to the philosopher, is because of this that the origin of bad conscience is rooted in man in the most radical changes that lived: the creation of society and peace, since that was the result of a sudden and profound change that happened when the man was from the state of freedom to the coercion, containing your instincts and skillful them. So for Nietzsche,it is not about the values , because no value is definitive, nor it is required for itself. The important thing is to ask about the "value" of values, or about the relations of forces that acted and continue to act in the creation and destruction of values. So, we raised the issue of bad conscience because, once produced a new valuation, we have a question , and this is that interests us, what forces that determined them and what forces that appropriated them. / Este trabalho apresenta a análise Nietzschiana na perspectiva de avaliação das várias concepções da moral que se efetivaram ao longo da história, de modo a determinar o próprio valor da moral. Pois, para o filósofo, os valores não têm uma existência em si; são o resultado de uma criação do homem; por isso, não são fatos, mas interpretações introduzidas pelo homem no mundo. Sendo assim, podemos dizer que todos os escritos do filósofo se desenvolvem através e a partir de um universo de forças e de relações de forças, qual seja, a vontade de poder, e esta se caracteriza por uma contínua superação de si, por um constante tornar-se mais. Sendo assim, falar sobre a má consciência é falar sobre relação de força e vontade de poder, ou ainda, quais as forças que comandam e quais as forças que obedecem. De acordo com o filósofo, advém daí o fato de a má consciência estar enraizada no homem, na mais radical das mudanças que viveu: a criação da sociedade e da paz, uma vez que fora o resultado de uma súbita e profunda mudança que se realizou no momento em que o homem efetuou um salto do estado de liberdade para o de coerção, contendo seus instintos e adestrando-os. Portanto, para Nietzsche, não se trata de se interrogar sobre os valores enquanto tais, porque para o filósofo nenhum valor é definitivo, nem se impõe por si mesmo. O importante é perguntar-se pelo valor dos valores, ou o que equivale dizer, pelas relações de forças que agiram e continuam a agir na criação e na destruição dos valores. É, pois, nesta perspectiva que levanto a questão da má consciência, uma vez que, ao se produzir uma nova valoração, surge a questão, que é central nesta abordagem, qual seja, quais foram as forças que determinaram essas relações e quais as forças que delas se apropriaram.

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