521 |
Identidade étnica e território chiquitano na fronteira (Brasil-Bolívia) / Chiquitano territory and ethnic identity in the frontiers (Bolivia-Brazil) / Identidad étnica y territorio chiquitano en la frontera (Brasil-Bolivia)Pacini, Aloir January 2012 (has links)
Este trabalho, dividido em três partes que se interpenetram, toma o território chiquitano na fronteira em tensão com os territórios transnacionais como elemento fundamental para elaborar uma compreensão da identidade étnica resiliente dos Chiquitanos. Primeiro observa as construções geográficas, políticas, culturais e os diferentes sujeitos que atuam nesta fronteira. Assim mostra a agência própria dos Chiquitanos dita indigenismo que perpassa e articula suas identidades, o cuidado com suas igrejas, com suas fontes de água e os córregos, seus rituais e suas músicas. O tempo da Missão de Chiquitos (1691-1767) é percebido como um tempo idealizado de grande fecundidade, uma espécie de mito de origem dos Chiquitanos em diversas etnias que passaram a viver juntas com artes e estéticas próprias na música, na escultura, na pintura, na devoção aos Santos. Estes aspectos que foram incorporados pelos Chiquitanos já fazem parte intrínseca das manifestações étnicas acionadas como sinais diacríticos na construção de suas identidades e territórios. As fronteiras de identidades nas redes de parentesco e de intercâmbio de bens entre os Chiquitanos são mais um elemento para pensar a importância dos caminhos que cruzam as fronteiras, suas tensões e rupturas. Os diferentes rituais chiquitanos do curussé, das romarias, das festas de Santo e outros elementos revelam suas identidades e os constantes fluxos culturais pelo seu território tradicional. As bandeiras de luta do curussé elaboram a etnicidade chiquitana em festa sem fronteiras ou modificando-as. O mosaico étnico chiquitano na área de fronteira forma uma colcha de retalhos ou uma rede de relações entre as dezenas de comunidades chiquitanas no Brasil com outras centenas de comunidades na Bolívia. Estas comunidades não estão isoladas, pelo contrário, se conectam de diversas formas, por caminhos e estradas (carreteiras), e a sociedade envolvente participa intensamente destas unidades sociais concebidas como “nós”. A forma dos Chiquitanos conceberem seu território tradicional marcado pelo dom da água não exclui o que chega, mas tende a integrá-lo, a encontrar um lugar geográfico e social para ele. Este aspecto fez com que os Chiquitanos passassem gradativamente de “donos que cuidam das terras” para meeiros ou simplesmente empregados nas fazendas. O território chiquitano pode ser lugar de chegada e/ou de partida para esta “viagem de volta” através da etnografia do drama das relações com pessoas marcadas pela propriedade privada (fazendeiros, militares, comerciantes) e os outros Chiquitanos num faccionalismo intrínseco que gera uma rede de comunidades e processos de intercâmbio e negociação diversos em cada nó (local) desta rede. Não se trata de uma transposição dos pueblos misionales pura e simplesmente para as aldeias rurais que estudo (Vila Nova Barbecho, Fazendinha, Acorizal ou Santa Aparecida), mas de uma agency que está presente no fato de grupos dissidentes deixarem seus pueblos e criarem suas comunidades no interior do seu território tradicional com características que as identificam como Chiquitanos. Com isso elabora-se uma visão a respeito do território tradicional chiquitano com relevos e estrias próprios marcados pela água que dá valor à terra, que a fecunda e permite moldá-la para fazer seus potes e suas casas. Com clareza o pajé Lourenço Ramos Rup e os caciques têm manifestado que as terras que ocupam tradicionalmente são um dom de Deus, não uma propriedade privada comerciável. Contudo, respeitam com detalhes a cerca (os limites) que o fazendeiro colocou, por causa da insegurança diante das leis dos policiais e dos fazendeiros. O modo de ser eticamente localizado dos Chiquitanos impressiona porque possuem a paciência histórica para esperar as coisas mudarem, isso para não criarem conflitos com os políticos ou os patrões que tomaram o poder de serem os “donos” da terra que eles ocupam tradicionalmente. / This work, divided into three parts interwoven with one another, takes the Chiquitano territory as far as it is a tensioned transnational frontiers. This situation is one key element in order to elaborate a correct understanding of resilient ethnic identity of the Chiquitanos. First the work takes in a account the geographical, cultural and political constructs as well as the different active subjects in the chiquitano landscape. This way the text shows the agency itself of the Chiquitanos that permeates and articulates their personal identities, the care for their churches, for their water sources and streams, for their rituals and their music. The time of Mission of the Chiquitos (1691-1767) is perceived as a time of great fecundity, a kind of Chiquitano’s myth of the origin in various ethnic groups who now live together maintaining common cultures of arts and aesthetic, music, sculptures, paintings, devotions to the Saints. These aspects have been incorporated by Chiquitanos and are already an intrinsic part of the ethnic manifestations such as diacritical marks in the construction of their identities and territories. These frontiers of identity, witch create networks of parents and exchanges of goods between the Chiquitanos, are one more element to think about the importance of those ways crossing the frontiers causing tensions and ruptures. The different rituals (curussé, romarias, festas de Santo, festivals of chiquitana music) are elements which reveal their identities and constant cultural flows in their traditional territory, especially these flags of struggle of the curussé somehow weaving Chiquitano’s ethnical identity among them over the frontiers. The chiquitano ethnic mosaic in the border area is a kind of patchwork quilt, a “network” of relationships between tenths of communities in Brazil with others hundreds of communities in Bolivia. Those communities are not isolated, are connected in various ways, paths and roads (highways). The society has a whole participates actively engaging in these social units called as "nodes-nós". The way Chiquitanos designate their traditional territory appoints out to the gift of water, to the hospitality of strangers, to the tendencies to integrate all in order to find a geographical and social place to live. This way of living and acting gradually changed the Chiquitanos from "owners who care about the land” into sharecroppers on farms or into simple employees. The Chiquitano’s territory can be understood as a place of arrival and departure for themselves. The ethnography of the drama of relationships with farmers, soldiers, traders, and even with other Chiquitanos, characterized by private ownership, shows an intrinsic factionalism that generates a network of communities, exchanges processes and different negotiating issues on each node (nó) of this network. Those changes do not mean a simple implementation of a misional pueblo in rural villages such as Vila Nova Barbecho, Fazendinha, Acorizal or Santa Aparecida. By observing how these villages are organized, this work shows different types of internal relations and to the environment, an agency that is present even in the fact that dissident groups elsewhere leave their pueblos and create their own communities or villages within their traditional territory. In this way we come to develop a vision of the traditional chiquitano territory with their own hills, valleys and grooves marked by the waters that fertilizes and give value to the land, that allows the molding of their pots and their own houses. The shaman Lorenzo Ramos Rup and the chiefs expressed clearly that the lands they traditionally occupy, are a gift from God, not a private institution. But they respect the limits put by the farmers, even without their consent, because of their feelings of insecurity about the police and the farmers themselves. The way of the Chiquitanos are being ethically educated touches our hearts because they have an historical patience to wait for things to change, in order to avoid from creating conflicts with the farmers or the political boss who have the power to be the "owners" of the land they traditionally occupy. / Este trabajo, dividido en tres partes que se inter-penetran, toma el territorio chiquitano en la frontera que está en tensión con los territorios trasnacionales como elemento fundamental para elaborar una comprensión de la identidad étnica resiliente de los Chiquitanos. Primero observa las construcciones geográficas, políticas, culturales y los diferentes sujetos que actúan en este campo de la frontera, así el texto muestra la agencia de los Chiquitanos como una forma de indigenismo que comparte y articula sus identidades, el cuidado con sus iglesias, con sus fuentes de agua y los arroyos, sus rituales y sus músicas. El tiempo de la Misión de Chiquitos (1691-1767) es leído como un tiempo idealizado de gran fecundidad, un mito de origen de los Chiquitanos a partir de diferentes etnias que pasaron a vivir juntas con artes y estéticas propias en la música, en la escultura, en la pintura, en la devoción a los Santos. Estos aspectos que fueron incorporados por los Chiquitanos hacen parte intrínseca de las manifestaciones étnicas accionadas como señales diacríticos en la construcción de sus identidades y territorios. Las fronteras de identidades en las redes de parentesco y de intercambio de bienes entre los Chiquitanos es más un elemento para pensar la importancia de los caminos que cruzan las fronteras, sus tensiones y rupturas. Los diferentes rituales chiquitanos del curussé, de las romerías, de las fiestas de los Santos Patronos y otros elementos revelan sus identidades y los constantes flujos culturales por su territorio tradicional. Las banderas de lucha del curussé elaboran la etnicidad chiquitana en fiesta sin fronteras o modificando-las. El mosaico étnico chiquitano en la área de la frontera forma una colcha de retallos o una red de relaciones entre las docenas de comunidades chiquitanas en Brasil con otras centenas de comunidades en Bolivia. Estas comunidades no están aisladas, al contrario, se conectan de diversas formas, por caminos y carreteras, y la sociedad envolvente participa intensamente de estas unidades sociales concebidas como “nudos”. La forma de los Chiquitanos concibieren su territorio tradicional marcado por el don de la agua no excluye lo que llega tiende a integrar-lo, a encontrar un lugar geográfico y social para él. Este aspecto hizo con que los Chiquitanos llegasen paulatinamente de “dueños que cuidan de las tierras” para trabajadores asalariados en las estancias. El territorio chiquitano puede ser lugar de llegada y de partida en este viaje de retorno de los propios Chiquitanos. La etnografía del drama de las relaciones con personas marcadas por la propiedad privada (los hacenderos, los militares, los comerciantes) y los otros Chiquitanos muestran un faccionalismo intrínseco que genera una red de comunidades y procesos de intercambio y negociaciones diversos en cada nudo (local) de esta red, sin ser una transposición de los pueblos misionales pura y simplemente para aldeas rurales del estudio (Vila Nova Barbecho, Fazendinha, Acorizal, Santa Aparecida), una agency que está presente hasta el facto de grupos disidentes dejaren sus pueblos y crearen sus comunidades en otros lugares en el interior de su territorio tradicional. Así llega-se a una visión del territorio tradicional chiquitano con relevos y estrías propios marcados por el agua que agrega valor a la tierra, que la fecunda y permite trabaja-la para hacer tinajas y sus propias casas. Con clareza el curandero Lourenço Ramos Rup y los caciques manifiestan que las tierras que ocupan tradicionalmente son un don de Dios, no una propiedad privada negociable, más respetan con detalles la cerca (los deslindes) que el hacendero colocó, mismo sin su consentimiento, por causa de la inseguridad delante de las leyes, de los policiales y de los estancieros. El modo de ser eticamente localizado de los Chiquitanos impresiona porque poseen una paciencia histórica para esperar las cosas cambiaren, eso para no criaren conflictos con los políticos o el patrón que ahora tiene el poder de ser el “dueño” de la tierra que ellos ocupan tradicionalmente.
|
522 |
The gauchos : male culture and identity in the pampasLeal, Ondina Maria Fachel January 1989 (has links)
The Gauchos, horsemen and ranch workers on the pampas of South America, constitute a specific masculine, equestrian culture glorifying the values honor, freedom, righteousness, bravery and manliness. This ethnography documents the self-reflexive construction of identity among gauchos of the border region between Spanish speaking Uruguay and Portuguese speaking Brazil. I analyze gaucho identity as they themselves construct and celebrate it; as it encompasses interlocking leveis of gender, class, occupation, geographical setting and ethnic origin; and as it is presented and used by the media, the urban public and the nation states. Most gauchos live and work, segregated from women, on cattie ranches (estâncias). To this quintessentially male group, gender and culture are inseparable; folklore, ethos and practices are linked to a social construction of manhood. Gauchos shape and present their identity with cockfights; tales, jokes and songs in the storytelling event; the practices of bestiality and suicide. In the gaucho universe of symbols, these are central discourses. In these discourses, gauchos use the categories humanity and animality, nature and culture to generate a group notion of power and self, envisioning themselves as supra-natural centaurs, half man, half horse. The segregation of male and female space is a principal aspect of the gaucho's universe: male avoidance of women parallels female seduction of men. A women's sphere counters male gaucho culture: women live in small settlements bordering estancias; healing and magic, especially love magic, pertain to women. Framing analyses of these symbolic discourses is an overview of gaucho pastoral society, an analysis of labor relations on the estâncias, and an appraisal of the relationship between the gaucho and national society. Gaucho culture in this rural border region transcends both linguistic and national frontiers. Representations of gaucho culture, generated by and for gauchos themselves, are appropriated by the media and consumed by urbanites and nation states. While the gaucho is a national symbol in both nations (and in neighboring Argentina), these nations neglect the social needs of gauchos. To national societies, representations of the gaucho have become more important than the living man himself.
|
523 |
Quando a vida encontra a morte : as concepções médicas e jurídicas sobre anencefalia e morte encefálicaMacedo, Juliana Lopes de January 2012 (has links)
Até abril de 2012, o aborto de fetos anencéfalos não era reconhecido como um direito das mulheres grávidas desses fetos e, caso a mulher desejasse por fim a sua gravidez, era necessário obter uma autorização judicial. Algumas autorizações eram negadas enquanto outras eram concedidas. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é compreender as concepções médicas e jurídicas sobre aborto de fetos anencéfalos, averiguar as justificativas utilizadas para conceder ou negar as autorizações judiciais e analisar as tensões envolvidas entre o campo jurídico e o campo médico a partir do caso da anencefalia. Foi realizada uma pesquisa de orientação etnográfica na qual foram entrevistados médicos e magistrados diretamente envolvidos nesta questão. Além disso, realizou-se a análise de um conjunto de decisões judiciais sobre aborto de fetos anencéfalos julgados entre 2001 e 2011 pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A análise dos dados revelou que a maior parte dos entrevistados é favorável ao aborto de fetos anencéfalos devido a reconhecida inviabilidade de vida extra-uterina desses fetos. Alguns entrevistados, no entanto, adotaram uma postura contrária a essa modalidade de aborto, por considerarem que a vida possui um valor absoluto e inviolável, independente de sua viabilidade. Os argumentos utilizados pelos entrevistados para defender seus posicionamentos em relação a anencefalia foram as categorias risco de vida, sofrimento e eugenia. Os dados obtidos também revelam que a noção de pessoa e as concepções sobre aborto são categorias analíticas centrais para a compreensão das concepções sobre aborto de fetos anencéfalos entre o grupo pesquisado. Além disso, a presente pesquisa analisa as tensões envolvidas entre o campo jurídico e o campo médico relativas a tomada de decisão sobre uma gravidez de um feto anencéfalo. / Until April 2012, the abortion of anencephalic fetus was not recognized as a right of the fetuses of pregnant women and, if the woman wanted to end her pregnancy, it was necessary to obtain judicial authorization. Some permits were denied while others were granted. Accordingly, the objective of this work is to understand the medical and legal conceptions of anencephaly abortion, examine the justifications used to grant or deny injunctions and analyze the tensions involved between the legal and medical field from case of anencephaly. A ethnographic research was carried in which doctors and magistrates were interviewed directly involved in this issue. Furthermore, we conducted na analysis and a set of judgments about abortion anencephalic fetuses judged between 2001 and 2011 by the Court of Rio Grande do Sul. The analysis revealed that the majority of respondentes are in favor of abortion of anencephalic fetuses due recognized the unfeasibility of extra uterine life these fetuses. Some respondentes, however, adopted a stance against this type of abortion on the grounds that life has na absolute and inviolable, regardless of its feasibility. The arguments used by respondents to defend their positions in relation to the categories of anencephaly were lifethreatening, suffering and eugenics. The data also shows that the concepto f person and notions about abortion analytical categories are central to understanding the concepts of abortion of anencephalic fetuses among the studied group. Furthemore, this research analyzes the tensions involved between the medical field and the legal field regarding medical decision making about a pregnancy of anencephalic fetus.
|
524 |
Com que roupa eu vou? : estudo etnográfico do processo de consultoria de estiloEscalona de Dios, Maria Luisa Célia January 2007 (has links)
Nesse trabalho procuro descrever e analisar práticas e representações de um grupo de mulheres a partir de suas escolhas indumentárias e de seu consumo de vestuário. Trata-se de uma pesquisa etnográfica realizada em Porto Alegre junto a uma personal stylist e suas clientes, na qual foram feitas, ao longo de dois anos, uma série de entrevistas, além de observação participante no processo de “consultoria de estilo” e acompanhamento sistemático das “idas às compras”. Procuro, através dos dados empíricos recolhidos, discutir noções – tais como elegância, decência, juventude, informalidade, entre outras – que guiam as escolhas dessas mulheres, quase sempre informadas pelos ensinamentos ditados na “consultoria de estilo”. Tento, portanto, perceber no que tais escolhas de consumo (e uso) de determinado vestuário informam a respeito de suas identidades de classe, gênero ou grupo etário. Sugiro, igualmente, que há uma mudança no papel social do profissional personal stylist. Este, outrora atuando principalmente na construção das aparências de pessoas públicas (políticos, cantores, atores e celebridades em geral), passa atualmente a fornecer seus serviços para sujeitos aparentemente desvinculados da exposição midiática, como donas de casa, médicas, bibliotecárias e professoras. Assim, parto do pressuposto de que o trabalho sobre as aparências elaborado pela personal stylist, indo além da roupa, conforma um estilo de vida próprio dessas clientes, mulheres de camadas altas da cidade de Porto Alegre, estando comumente vinculadas ao fenômeno da ascensão social. / In this dissertation I intend to describe and analyze practices and representations of a group of women from their garment choices and their clothing spending. It is a ethnographical research run in Porto Alegre to a personal stylist and her clients, where several interviews were taken along a couple of years - besides a participant monitoring in the process of "image consulting" and systematical tracking of "going shopping". I intend to discuss about conceptions from the collected data - like elegance, decency, youth, informality, among others - which lead those women´s choices, almost always told by teachings gotten from the "image consulting". Therefore I plan to notice what those consumption selections (and using) of a specific clothing tell about class identities, gender or age group. I also suggest there´s a change in the social role of the personal stylist professional. That professional - playing long ago on building up well-know people´s appearances (politicians, singers, actors and celebrities in general) - nowadays start providing his/her services to people apparently not exposed to the media, like housekeepers, physicians, librarians and teachers. Hence I assume that the work done by a personal stylist over appearances, beyond clothing, molds a lifestyle that is peculiar to those clients, high-society women from Porto Alegre city, usually tied to the social ascension phenomenon.
|
525 |
"A pupila dos cegos é seu corpo inteiro" : compreendendo as sensibilidades de indivíduos cegos através das suas tessituras narrativasCorreia, Luiz Gustavo Pereira de Souza January 2007 (has links)
Esta tese tem como objetivo compreender as vivências dos processos simbólicos e as interpretações pessoais sobre a perda da visão via narrativas de indivíduos cegos habitantes de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. As abordagens teórico-metodológicas são voltadas às temporalidades diversas emaranhadas nas memórias dos personagens e recompostas nas suas narrativas, tendo como pressupostos os ritmos, as descontinuidades, os movimentos e as possibilidades de articulação próprias às trocas intersubjetivas vividas na cidade, entendida aqui como cenário onde se vinculam as experiências. As emoções expressas nas narrativas são os elementos de análise e compreensão das elaborações simbólicas dos personagens da sua localização e orientação social como indivíduos cegos. Desta forma é discutida a intersubjetividade na vivência da cegueira, como possibilidade de pensar a experiência subjetiva do corpo em seu engajamento ou enraizamento no mundo social. / The aim of this thesis is to understand the experiences of symbolic processes and personal interpretations about loss of vision by narratives of Porto Alegre’s blind inhabitants. The theoretical and methodological approaches follow the several temporalities matted in characters memories and reconstructed in their narratives. The presuppositions are the rhythms, discontinuities, movements and possible articulations peculiar to the intersubjective changes experienced in city as a set where experiences are bond. Emotions expressed in narratives are elements to analyze and understand symbolic elaborations made by characters to explain their social localisation and orientation as blind individuals. In this way, we discuss the intersubjectivity in blindness experience as a way of thinking the subjective experience in its involvement or establishment in the social world.
|
526 |
Alegorias etnográficas do mbyá rekó em cenários interétnicos no Rio Grande do Sul (2003-2007) : discurso, práticas e holismo mbyá frente ás políticas públicas diferenciadasPires, Daniele de Menezes January 2007 (has links)
As comunidades Mbyá-Guarani no Rio Grande do Sul possuem trajetórias que consolidam seu reconhecimento enquanto grupo culturalmente diferenciado e reforçam sua autodeterminação étnica, através do jeguatá (caminhada), apesar de viverem hoje reduzidos em pequenas áreas descontínuas (entre aldeias e acampamentos), mas interligadas etnicamente, num espaço geográfico dominado pela propriedade privada e pela ocupação por descendentes de imigrantes europeus que deles se contrastam. A perda de seu território original e a decomposição ambiental foram fatores que impuseram transformações mais drásticas – radicalizando os efeitos da sua própria historicidade – no Mbyá rekó (modo tradicional de vida), obrigando as pessoas Mbyá-Guarani a estabelecerem um convívio cada vez mais estreito e cotidiano com representantes externos, desde aqueles que fazem intervenções dentro das Tekoá (aldeias), até suas relações de vizinhança, na participação em reuniões promovidas pelos poderes públicos e em negociação com diversas instituições, participando de cenários que geram mudanças no processo de manutenção do Mbyá rekó, mas que não substituem os cenários que fundam seu habitus original. Ao mesmo tempo, os primeiros anos do século XXI estão marcados pela necessidade administrativa do Estado brasileiro em dar conta das demandas diferenciadas dos diversos grupos que constituem a sociedade nacional. A pesquisa etnográfica procurou focalizar, inicialmente, algumas dimensões de interação estabelecidas entre os Mbyá e os representantes das instituições governamentais, particularmente demonstrando sua capacidade de se fazerem visíveis e tornarem-se atores nos espaços abertos pelos mecanismos governamentais, através de estratégias próprias – singularidades do Mbyá rekó também trazidas pela etnografia desta pesquisa –, articulando parceiros que viabilizem o atendimento de suas demandas específicas. Faz-se o registro desse diálogo e da conseqüente costura interinstitucional por ela gerada, o que possibilita uma maior “sustentabilidade” e valorização do patrimônio cultural Mbyá. / The Mbyá-Guarani communities in Rio Grande do Sul have been through paths which consolidate their knowledge as a culturally diverse group and confirm their ethnic selfdetermination, through jeguatá (walk), despite of the fact that these days they are living in small discontinued areas (among villages and campings), but ethnically connected, in a geographic space dominated by private properties and by descendent of European immigrants that contrast from them. The loss of their original territory and the environmental decomposition were facts that imposed drastic transformations – radicalizing the effects of their own historic consciousness – in Mbyá rekó (traditional way of life), obligating Mbyá- Guarani people to establish a conviviality very narrow and daily with external representatives, from the ones who intervene inside the Tekoá (villages), to their neighborhood relations, participating of meetings promoted by government authorities and in negotiation with several institutions, being part of sceneries that generate changes in the process of maintenance of Mbyá rekó, but do not replace the sceneries that fund their original habitat. In the other hand, the first years of the XXI century are marked by the administrative need of the Brazilian State in matching the different expectations of several groups that constitute the national society. The ethnographic research intended to focus, initially, some dimensions of interaction established between the Mbyá and representatives of government institutions, particularly demonstrating their capacity to make themselves visible and become actors in spaces opened by governmental mechanisms, through their own strategies – singularities of Mbyá rekó that were also brought by the ethnography of this research –, joining partners that make the attendance of their specific demands possible. There is a register of this dialog and of the consequent interinstitucional sewing generated by it, what makes possible that there is a larger approach with the Mbyá holism, when actions are taken between institutions as different as the ones that attend rubrics as diverse as “health”, “land”, “sustenance” and “cultural heritage”.
|
527 |
Anastácia, Manuel Barbosa e Ferreira Fialho, famílias e territórios negros : tradição e dinâmica territorial em Gravataí e Viamão, RSCosta, Luciano Souza January 2007 (has links)
Este trabalho pretende abordar as vivências cotidianas de três comunidades negras rurais dos municípios de Gravataí e Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre, de modo a salientar a importância da territorialidade, das redes de relacionamentos destas coletividades entre si e com os demais humanos e não-humanos. / This work aims to deal with daily living of three black comunities from Gravataí and Viamão, at the Metropolitan Region of Porto Alegre, RS, as a way to emphasize the importance of territorial settlemment, social networks and human-nonhuman relationships among these collectivities.
|
528 |
Entre parentes, lugares e outros : traços na sociocosmologia guarani no sulGobbi, Flávio Schardong January 2008 (has links)
Esta dissertação insere-se em um dos movimentos recentes da etnologia Guarani, qual seja, o direcionamento do foco para as relações que tomam corpo na série humana, o que não implica, de modo algum, desconsideração pelas (des)associações entre os homens e outras agências do cosmos. Tem por eixo três contextos etnográficos diferenciados, enfatizando práticas nativas que indicam modos de aparentamento ao mesmo tempo diversos e similares. Uma história que narra o processo, reversível, de virar branco, diferentes configurações aldeãs e um ritual envolvendo pessoas de distintas localidades são o substrato para a reflexão em torno da produção do parentesco entre os Guarani. Recorre-se, para isto, a analogias pontuais com as formulações recentes da etnologia amazônica. / This dissertation is part of one of the recent movements in Guarani ethnology: the focus on the relationships that take place in the human series. That does not imply, however, a disregard for the associations/dissociations between men and other cosmological agencies. It takes three different ethnographic contexts as an axis and emphasizes native practices indicating forms of kinship that are, at once, diverse and similar. A narrative on the reversible process of becoming white, different configurations of villages, and a ritual involving people coming from various locations are the basis for this study of the relations of kinship between Guarani people. To that end, punctual analogies to recent formulations of Amazonic ethnology have been made.
|
529 |
Perigoso é não correr perigo : experiências de viajantes clandestinos em navios de carga no Atlântico SulUriarte Bálsamo, Pilar January 2009 (has links)
A presente tese trata sobre migrações irregulares entre a África Ocidental e a América do Sul. Trata-se de jovens em contextos urbanos que abordam navios de carga de forma clandestina nos principais portos dos centros comerciais da região. Eles partem sem um destino certo e sua viagem pode ter diferentes desenvolvimentos. Às vezes são devolvidos à terra mesmo antes da partida; outras, são achados pela tripulação durante a viagem, ou já no lugar de destino pelas autoridades do porto. Nesses casos, podem ser deportados ao país de origem ou qualquer outro da África, ou permanecer no lugar de chegada como refugiados ou migrantes. Também se registram casos em que os passageiros clandestinos são lançados ao mar à deriva, onde podem ser resgatados por outras embarcações. O trabalho se baseia na etnografia realizada na América do Sul - em Venezuela, Uruguai e Argentina - e na África Ocidental - Nigéria e Gana. Analisa-se esse tipo de migrações em relação a dinâmicas demográficas mais amplas, nos dois polos do percurso migratório. De uma perspectiva transnacional, se vinculam esses locais com outros possíveis destinos futuros onde imaginam dar continuidade ao processo migratório. Esses destinos se relacionam às formas em que os migrantes descrevem sua experiência de deslocamento como a possibilidade de continuar sempre em movimento. No local de origem se analisam as formas em que os jovens constroem seus projetos migratórios, em relação às variáveis de gênero e idade, que são determinantes para entender a posição que eles ocupam na comunidade. No local de destino, se analisam os processos de integração a partir das definições cotidianas e jurídicas em que eles se inscrevem e que lhes são atribuídas pela sociedade englobante. Dentro dessas categorias, as diferenças de cor, lidas como diferenças raciais, têm um lugar particular, como uma das formas mais violentas de classificação às quais se vêm expostos. Observam-se os processos migratórios em perspectiva, vinculando a experiência desses jovens com os conceitos de diásporas nacionais e diáspora negra. / This dissertation aims to study irregular migrations between Western Africa and South America. It analyzes young people in urban contexts who covertly approach cargo ships in the main trade ports of the Western Africa region. They depart without pre-defined destinations and their trip can result in unforeseen consequences. Sometimes they are returned home before they depart. Sometimes ship crews find them during the trip and sometimes local authorities find them at the final destination. Once they are identified, they can be deported to their home country or to any other African country, or they can stay at the destination country as refugees or migrants. There are also some cases of clandestine passengers who are left adrift at sea, where they can possibly be rescued by other watercrafts. This dissertation, based on an ethnographic research with a number of such migrants, was carried out in South America (Venezuela, Uruguay, and Argentina) and in Western Africa (Nigeria and Ghana). Their "irregular" form of migration is analyzed considering a wide range of demographic dynamics on both the origin and destination side of the migratory journey. The transnational perspective is useful for understanding the social environment in which these young people operate. They understand and describe their displacement experience as a perpetual search for another migratory opportunity. First, the characteristics of these young people's migratory projects are analyzed in relation to gender and age cohorts, which are determinant of their societal position in their original communities. Second, the migrants' social and legal integration are analyzed through the migrants' perception of themselves in the host society and the host society's perception of the migrants. Racial and ethnic differences, being one of the most violent forms of "categorization" faced by the migrants, play a significant role in these perceptions. These migratory processes are observed through the use of comparative lenses, linking the experience of these young people with the social concepts of the National and African Diaspora. / La presente tesis versa sobre migraciones irregulares entre África Occidental y América del Sur. Se trata de jóvenes en contextos urbanos que abordan los navíos de forma clandestina en los principales centros comerciales de la región. En diferentes situaciones, ellos parten sin un destino cierto y su viaje puede tener diferentes desarrollos. Algunas veces son devueltos a tierra incluso antes de la partida, otras encontrados por la tripulación durante el viaje o ya en el lugar de destino por las autoridades del puerto. En esos casos pueden ser deportados al país de origen, a cualquier otro país en África o permanecer en el país de destino, con refugiados o migrantes. También se registran casos en que los pasajeros clandestinos son lanzados al mar a la deriva donde son rescatados por otras embarcaciones. El trabajo se basa en la etnografía realizada en América del Sur - Venezuela, Uruguay y Argentina - y en África Occidental - Nigeria y Ghana. Se analiza este fenómeno específico en relación con dinámicas demográficas más amplias en los dos polos de trayecto migratorio. Desde una perspectiva transnacional, se vinculan esos dos lugares con otros destinos donde los migrantes imaginan dar continuidad al proceso, relacionados a las formas en que describen su experiencia, como una actitud de estar siempre en movimiento. En el lugar de partida se analizan las formas en que los jóvenes construyen el proyecto de migrar, en relación con las variables de género y edad, que son determinantes para entender la posición que ocupan en la comunidad. En el lugar de destino se analizan los procesos de integración a partir de las definiciones informales y jurídicas en que ellos mismos se inscriben y que les son atribuidas por la sociedad englobante. Dentro de esas categorías, las diferencias de color, leídas como diferencias raciales, tienen un lugar particular, ya que son vividas como una de las situaciones más violentas a las que se ven expuestos. Se observan los procesos migratorios en perspectiva, vinculando la experiencia de estos jóvenes con los conceptos de diásporas nacionales y diáspora negra.
|
530 |
Por onde vivem os mortos : o processo de fabricação da morte e da pessoa morta no segmento funerário de Porto AlegreNeves, Marcos Freire de Andrade January 2014 (has links)
Conduzida na cidade de Porto Alegre, Brasil, a pesquisa etnográfica aqui apresentada descreve as dinâmicas no interior de um conjunto de mediações do complexo funerário, que não somente perpassa diferentes instâncias institucionais e econômicas, mas também modelam o processo de fabricação da morte e da pessoa morta através de intervenções físicas no corpo e da criação de uma memória a ela relacionada. Morte é, portanto, mais do que a destituição de uma vida: é a instituição de um novo estado, significa tornar-se algo. Um novo conjunto de documentos é requerido e há uma transposição de estatutos jurídicos. Assim, os circuitos funerários atuam na construção desse novo estado enquanto, simultaneamente, reconhecem a presença da pessoa morta nessa dinâmica por meio da imposição de uma presença moral e corpórea. A pessoa morta, não sendo um locus de passividade, mostra a sua vida ao impor padrões de comportamento nas negociações concernentes ao seu funeral, assim como ao influenciar escolhas e decisões. / Conducted in the city of Porto Alegre, Brazil, the ethnographic research presented by this work describes the dynamics within a set of mediations, which not only pervades different institutional and economic instances, but also shapes the construction process of death and of the dead person through a physical intervention on the body as well as through the creation of a specific memory. Death is thus more than the mere destitution of a life: it is the institution of a new state, it means becoming something else. A new set of papers are in order as much as the transposition of the legal status. The funeral circuits are hence acting upon the construction of this new state while simultaneously acknowledging the dead person’s presence through the imposition of a moral and corporeal presence. The dead person, not being a locus of passivity, displays his/hers life by setting behavioral guidelines in dealings concerning his/hers funeral arrangements, as well as by influencing choices and decisions through his/hers presence within the aforementioned dynamics.
|
Page generated in 0.0441 seconds